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13 de maio e a farsa da abolição: cadê a tão sonhada liberdade?

Por: Pai Dário


Foto: Divulgação | EBC

13/05/2024 | 16:50


Dia 13 de maio de 1888 marca oficialmente a Abolição da Escravidão no Brasil, último país das Américas a oficializar o seu fim. Porém, é necessário que a gente reflita criticamente sobre o real significado da chamada abolição.



No ano de 1988, a escola de samba Estação Primeira de Mangueira lançou o enredo: “Cem anos de liberdade: realidade ou ilusão?”. É exatamente no centenário da abolição que a Mangueira denuncia a situação da população negra no Brasil. Mesmo cem anos após o fim oficial da escravidão, a liberdade seguia sendo uma ilusão. Em um dos trechos do samba-enredo, cantamos assim: “será que já raiou a liberdade?". Ou se foi tudo ilusão. Será, oh, será. Que a Lei Áurea tão sonhada. Há tanto tempo assinada. Não foi o fim da escravidão. Hoje dentro da realidade. Onde está a liberdade. Onde está que ninguém viu…”


Trinta e seis anos se passaram desde a gravação desse samba e suas questões continuam atuais. Com certeza, após esse tempo, houve mudanças em alguns setores sim, graças a luta do movimento negro, do povo de terreiro, do movimento de mulheres negras, enfim, graças a luta incansável do povo desse Brasil. Mas, quando poderemos parar de lutar e apenas gozar da vida e viver plenamente?


Dentro das nossas realidades negras e de terreiro, continua ecoando o questionamento sobre onde está a liberdade que ninguém viu. Continuamos até “livre do açoite da senzala”, mas “presos na miséria da favela”. Ainda temos nossos terreiros invadidos, nossos sagrados ancestrais e nossos corpos negros demonizados e inferiorizados. São nossas crianças de terreiro que são chamadas de filhas de demônio no ambiente escolar. Seguimos com o medo de sair à rua com nossas vestes, nossos fios-de-conta e, de repente ser agredido fisicamente e/ou verbalmente.


São nossos corpos negros que ainda são alvos preferenciais da violência do Estado. São nossas mães negras que choram e famílias que vivem o terror da perda prematura de um filho diariamente. É o recrutador que nos discrimina na hora da entrevista de emprego e escolhe uma pessoa branca, mesmo quando a pessoa negra está melhor qualificada, provocando o desemprego e todos os males que isso pode acarretar. É a fome, a insegurança alimentar que atinge majoritariamente a população negra. É a precarização da vida.


Para haver a tão sonhada liberdade verdadeiramente, o país, os estados, os municípios devem refletir nossas caras negras, nossos corpos, jeitos e nossos interesses. As várias fases do racismo precisam ser encaradas como um problema estrutural e estruturante da sociedade e enfrentadas com a elaboração de políticas públicas. Que as nossas existências negras sejam de dignidade, abundância e prosperidade e a nossa liberdade enfim, uma realidade não mais sonhada e sim, vivida plenamente.



Pai Dario - AxéNews

Pai Dário de Ossain

Eu sou um homem negro, babalorixá do Ilê Axé Oníṣègùn, cria da favela da Serrinha em Madureira. Sou jongueiro por tradição, do samba, cria do Império Serrano, educador, gay e militante dos direitos humanos. Sou o resultado do encontro entre esses universos pretos que dão vida não só a quem sou, mas que são expressão de territórios, pertencimentos, ações e movimentos que impulsionam a construção de um viver com dignidade e abundância... [+ informações de Pai Dário]


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