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17ª Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa

Por: Prof. Dr. Babalawô Ivanir dos Santos


Foto: Reprodução

17/08/2024 | 09:47


Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa, sem bandeiras ou partidárias, nasceu em 2008, em relação aos episódios de intolerância religiosa que aconteceram no Morro do Dendê, na Ilha do Governador. Na ocasião, adeptos das religiões de matrizes africanas foram duramente expulsos do território pelo traficante Fernandinho Guarabu, que na época comandava o tráfico local, e impedidos de usar suas vestes religiosas e seus fios de conta.



Destarte, após diversas manifestações públicas, em defesa das liberdades religiosas e dos direitos de cultos, pessoas ligadas à diversas confissões religiosas, defensores das diversidades e membros de grupos sociais passaram a se unir e reunir, anualmente, para em prol da tolerância, da equidade e da pluralidade para que juntos passaram a realizar o maior evento inter-religioso do Brasil. Além das Caminhadas, os religiosos e religiosas também criaram a Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR), que passou a ser um importante instrumento de acolhimentos e denúncias dos crimes de intolerância religiosa que vem acontecendo continuamente em nossa sociedade.


O evento, que tradicionalmente acontece no 3º domingo do mês de setembro, começa no Posto 5 da Orla de Copacabana, é realizado em parceria com o Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (CEAP), já se consolidou no Brasil, e principalmente na cidade do Rio de Janeiro, como uma das ações pontuais em defesa da liberdade religiosa e do Estado laico. Um evento que além de projetar luz e reflexões para a promoção de uma sociedade mais humana, plural e diversa também luta em prol do fortalecimento das bases democráticas que ainda fazem parte da nossa sociedade.


Como bem sabemos, a intolerância religiosa e o racismo ainda são os maiores desafios sociais e políticos na contemporaneidade, na perspectiva da garantia do Estado Democrático. Atualmente assistimos uma grande discussão nacional que reconhece o racismo e o seu agravamento no país. Como ideia fomentada entre os séculos XVI e XIX, o racismo e perseguição religiosa (intolerância) serviram para justificar a dominação e a colonização das populações negras em África, o translado e a escravização dessas populações nas Américas, principalmente no Brasil. Destarte, com intuito de contribuir para a construção de uma cultura de paz, equidade e tolerância, ao longo dos últimos 17 anos  a Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa vem chamando a atenção da sociedade civil e das autoridades públicas para os riscos antidemocráticos diante do crescimento dos casos de intolerância religiosa e do racismo na nossa sociedade. É importante pontuar que os “conflitos e as disputas” religiosos nunca deixaram de fazer parte das transformações sociais. Sim, nunca deixaram porque não existe uma unicidade sobre religiões e religiosidades seja aqui no Brasil ou em qualquer outra parte do mundo.


Entretanto, no Brasil os conflitos religiosos, ou melhor a INTOLERÂNCIA religiosa estão de mãos dadas com o racismo e todas as formas de preconceitos. Compreendendo que a liberdade religiosa e  luta antirracismo precisam ser propostas sociais para o fomento de políticas públicas, o CEAP, parceiro da CCIR e um realizadores da Caminhada, publicou no ano de 2023, com a contribuição da UNESCO,  o  II Relatório sobre Intolerância Religiosa: Brasil, América Latina e Caribe.  Frutos dos trabalhos, pesquisas e estudos realizados pelos pesquisadores e pesquisadoras do Observatório das Liberdades Religiosas do Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (OLR/CEAP). Para construção do  II Relatório, os pesquisadores e pesquisadoras do Observatório buscaram e se debruçaram sobre dados e informações acerca dos casos e do crescimento da intolerância religiosa.


Assim, como devolutiva foi possível acessar os dados do Disque 100 do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, ISP (Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro) e da Secretaria Estadual de Direitos Humanos da cidade do Rio de Janeiro. Somados às essas informações, também são analisados os dados produzidos pela Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR), denúncias veiculados na imprensa nacional, os dados apresentados pela comunidade indígena, pela muçulmana e pela comunidade judaica. Destarte, também foi possível quantificar os casos de intolerância religiosa que foram veiculados nas mídias e imprensas nacionais, e o que foi possível concluir é que os casos de intolerância religiosa vem se intensificando a cada ano no Brasil. Assim, é importante pontuar que toda e qualquer forma de manifestação religiosa é direito do cidadão. Mas, o que assistimos são movimentações nebulosas por parte de algumas forças políticas atreladas a lideranças religiosas que buscam fortalecer um projeto político de poder hegemônico no desejo de reformular o Estado brasileiro de acordo com seus interesses e seus dogmas, resultando em casos de intolerância religiosa. 



Babalawô Ivanir dos Santos | AxéNews

Babalawô Ivanir dos Santos

Babalawô, Dr. Prof. do Programa de pós-graduação em História Comparada da Universidade Federal do RJ, interlocutor da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR) e Fundador do Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (CEAP)/Membro da Associação Brasileira de Pesquisadores Negros (ABPN).


Há 40 anos atuando em prol das liberdades, dos direitos humanos, das pluralidades contra o racismo e a intolerância religiosa, Ivanir dos Santos recebeu o prêmio International Religious Freedom (IRF), em julho de 2019. O Prêmio foi entregue pelo Departamento de Estado do Governo dos Estados Unidos, durante evento em Washington, pela sua importância na luta contra a intolerância a praticantes de religiões de matriz africana no Brasil. Ele foi o único líder religioso do Ocidente a ser premiado


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