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A Crise de Compromisso nas Casas de Axé

Por: Mãe Manu da Oxum



13/05/2024 | 14:50


As lideranças das Casas de Axé pelo país estão preocupadas. A atitude de engajamento e apoio, que antes era comum nas comunidades, está sendo substituída por indiferença e falta de compromisso.




As observações mostram que a prática de oferecer e ajudar na manutenção dos terreiros está se tornando rara. Menos de 10% dos membros contribuem mensalmente, e isso não é por desemprego ou falta de trabalho. Ao contrário, muitos acreditam que "a casa já tem" ou que "não precisa ajudar a Mãe de Santo".


Essa ideia de que não é necessário ajudar se normalizou. É urgente refletir sobre a última vez que você fez uma oferta à sua Casa de Axé. O Axé, que é a energia vital, depende da troca. Sem reciprocidade, a força e a vitalidade das casas ficam em risco.


A modernidade também trouxe um descompromisso visível. Onde antes havia uma comunidade envolvida, disposta a contribuir com doces, velas, fumo e a organizar eventos e limpezas no terreiro, hoje há uma crescente negligência. As atividades diárias que fomentavam o senso de comunidade foram substituídas por soluções rápidas e digitais.


A relação com os terreiros mudou drasticamente. Muitos veem essas casas sagradas apenas como locais de milagres, curas e para resolver problemas pessoais. O compromisso com a construção e manutenção do patrimônio coletivo perdeu força. Assim, vemos cada vez menos filhos dedicando tempo e recursos à preservação da religião, enquanto cresce o número de adeptos que buscam apenas benefícios espirituais para questões pessoais.


A falta de engajamento tem consequências visíveis. Antigamente, o simples ato de levar alimentos para a cantina ou ajudar na limpeza do terreiro era uma prática comum e espontânea. Hoje, há questionamentos sobre por que essas contribuições não são feitas "pela caridade".


Os dias de limpeza geral no terreiro, que uniam a comunidade em torno de um prato de macarrão com linguiça e conversas animadas, agora são apenas uma memória distante. O sentimento de família, fundamental para a vida nos terreiros, parece estar desaparecendo.


A ascensão da internet trouxe uma falsa sensação de proximidade com os guias espirituais. Substituir o calor humano por interações digitais pode levar a um vazio emocional no futuro. Quando procurarem por amor, afeto e abraços, muitos encontrarão apenas a frieza das inteligências artificiais.


Uma nova geração de "usuários religiosos" digitais tem espalhado a ideia errada de que as Casas de Axé enriquecem com os membros. Curiosamente, são esses mesmos indivíduos que cobram altos valores por seus trabalhos, cursos e apetrechos. Só não percebe essa contradição quem não tem realmente uma conexão sincera com o sagrado. Embora haja pessoas autênticas em ambos os ambientes, as interações digitais muitas vezes ganham mais visibilidade. No entanto, os verdadeiros guias espirituais estão muito além de viralizações e curtidas.


A primeira resposta às necessidades das Casas de Axé tornou-se "não". Não há recursos, vontade ou compromisso. Testemunhos refletem que a falta de prosperidade não está na vida humilde de alguns, mas numa mentalidade repleta de escassez, acidez, mesquinharia e superficialidade. Esse ciclo vicioso de mediocridade só pode ser rompido com uma mudança significativa na atitude coletiva.


A sobrevivência e prosperidade das Casas de Axé dependem de um retorno ao espírito comunitário e ao compromisso genuíno. A troca não é apenas uma questão financeira, mas uma troca de energia, de Axé, que é vital para a sobrevivência dessas instituições. É hora de refletir sobre o papel de cada um na manutenção e crescimento dessas casas que tanto oferecem em troca.


*Será que estamos preparados para resgatar o espírito comunitário e salvar nossas Casas de Axé?*




Mãe Manu - AxéNews

Mãe Manu

Mãe Manu da Oxum é Bisneta de Pai Nelson que morava no Bairro Boa Esperança e trabalhava com Preto Velho Pai Tomé. Neta espiritual de Mãe Ivonete do Ogum (desencarnada), nordestina, trabalhava nos fundos de sua casa e era costureira. Seus Guias chefes eram o Velho Rei do Congo, Caboclo 7 Flexas, Cigana Carmencita e Cigano Wladimir. [+ informações de Mãe Manu]


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