Por: Lelo Oliver
27/05/2024 | 16:16
Através da escrita o povo preto tem construído uma poderosa ferramenta de resistência e afirmação, em detrimento ao racismo estrutural na sociedade. Dada toda uma construção oral no que diz respeito a transmissão de conhecimento, proeminente nas tradições religiosas do continente africano, a escrita nos dias de hoje tem garantido um papel significativo na luta contra a intolerância e o preconceito religioso. Os impactos e alcance desta escrita, nos trazem a construção de uma importante forma de resistir e propagar os conhecimentos africanos, tendo estes ao longo da história sofrido apagamento acadêmico, político e social, mesmo havendo resistência, organização e oralidade.
Desde os tempos coloniais, o povo preto pós diáspora tem enfrentado diversas formas de discriminação e marginalização, tendo suas tradições religiosas e culturais suprimidas e demonizadas na sociedade, como fruto de uma herança colonial que até os dias de hoje exercem influência em nosso país. No entanto, mesmo diante dessas condições adversas, os povos de terreiro desenvolveram formas de resistência, utilizando a oralidade, a música, a dança e, posteriormente, a escrita como meios de preservar suas tradições e reivindicar sua humanidade.
Essa afirmação reflete no cotidiano, onde temos cada vez mais as casas de Axé buscando e prezando organização no campo jurídico e nas políticas públicas, seja também na presença de escritores negros, ganho de políticas de ação afirmativa, conforme já falado.
Desde o período da escravidão até os dias atuais, a expressão literária dos povos pretos tem sido perseguida, onde os escravizados passaram por um processo de “Epistemicídio”, ou seja, tiveram apagados todo seu conhecimento, escrita e cultura desenvolvidos, pois bem, na manifestação religiosa, houve um elemento de luta importante as influências escravagistas e as estratégias adotadas pelos homens e mulheres pretos e pretas desenvolveram resistência, esta que foi uma ferramenta vital para a preservação da cultura e identidade afrodescendente.
Com o passar do tempo, mesmo havendo uma falsa abolição da escravatura, onde os povos aqui escravizados, perduram até os dias de hoje por respeito, reconhecimento e direitos, tivemos a escrita sendo protagonista na vida e cotidiano do povo preto. A história nos presenteou com escritores negros, seja aqui no Brasil, mas em outros lugares, como por exemplo: um grande dramaturgo caribenho que nos presenteou com clássicos literários, o senhor Alexandre Dumas, tivemos por aqui Luiz Gama que foi um advogado abolicionista, orador, jornalista e escritor, também Patrono da Abolição da Escravidão no Brasil, também tivemos, Maria Firmina, considerada a primeira romancista negra do Brasil que em 1859 publicou o primeiro romance abolicionista do Brasil intitulado Úrsula, e o que falar de Francisca Edviges Neves Gonzaga, conhecida como “Chquinha Gonzaga”, esta que foi compositora, instrumentista e maestrina brasileira a primeira pianista chorona e até os dias de hoje exerce influência na música brasileira e teve sua negritude apagada, e o que falar de Machado de Assis, este que dispensa apresentações e até os dias de hoje fornece grandes subsídios a literatura brasileira.
Os fatos acima relatados nos mostram que a presença negra na escrita detém um importante protagonismo que desafia estereótipos e reconstrói narrativas que haviam sido distorcidas ou silenciadas pela herança colonial (branquitude).
Essa expressão literária se tornou uma fonte de empoderamento para os afrodescendentes, proporcionando-lhes uma plataforma para contar suas próprias histórias e reivindicar sua existência. Através da poesia, do romance, do ensaio e de outras formas de escrita, os autores negros exploraram uma variedade de temas, desde a experiência da diáspora africana até as lutas contemporâneas por justiça social e igualdade racial.
Além disso, a escrita negra também desempenhou um papel crucial na reconstrução da autoestima e na construção de uma consciência coletiva entre os afrodescendentes. Ao compartilhar suas histórias e experiências, os escritores negros inspiraram outros a se levantarem e a se orgulharem de sua herança cultural, contribuindo para a formação de movimentos de resistência e de solidariedade dentro da comunidade afrodescendente.
Portanto, é inegável o impacto positivo que a presença de escritores negros tem sido ao longo dos anos, tanto como uma forma de resistência política e cultural quanto como uma ferramenta de empoderamento e mudança de visão e lógica a população negra no Brasil. É essencial reconhecer e valorizar essa tradição literária e continuar apoiando e promovendo as vozes dos escritores negros em sua busca por justiça, igualdade e emancipação.
A intolerância religiosa, infelizmente, ainda é uma realidade persistente em muitas sociedades ao redor do mundo. Crenças e práticas religiosas são frequentemente alvo de discriminação, estigmatização e até mesmo violência, levando a divisões profundas e injustiças sistemáticas. Essa intolerância é exacerbada quando se trata de comunidades negras e de matrizes africanas, cujas tradições religiosas muitas vezes são marginalizadas, ridicularizadas ou demonizadas pela sociedade dominante.
É nesse contexto que a escrita preta emerge como uma voz poderosa de resistência e transformação. Por meio de uma variedade de formas literárias, e esta escrita têm explorado as complexidades, desafiando estereótipos e celebrando a riqueza e a diversidade das tradições religiosas afrodescendentes. Ao fazê-lo, eles não apenas afirmam suas próprias identidades religiosas, mas também convidam leitores de todas as origens a questionar preconceitos arraigados e a considerar novas perspectivas.
A Onirá Editora, juntamente com seu selo Novos Griôts, foi criada com o propósito de dar voz ao povo preto e de matrizes africanas através de seus autores e livros. Essa iniciativa busca valorizar e divulgar a cultura, as histórias e as perspectivas das comunidades afrodescendentes, proporcionando uma plataforma para que suas narrativas sejam ouvidas e apreciadas.
O objetivo da Onirá Editora é promover a representatividade e a diversidade na literatura, contribuindo para uma sociedade mais inclusiva e consciente das contribuições e dos desafios enfrentados pela população negra. Por meio do selo Novos Gritos, a editora se compromete a publicar obras que reflitam a riqueza cultural e a resistência do povo preto, além de oferecer espaço para novos autores que trazem à tona suas experiências e visões de mundo.
Lelo Oliver
Produtor Editorial, Design Gráfico, Capista e Diagramador. CEO da Onirá Editora e do selo Novos Griôts. Com Vários Livros e Revistas produzidos e Lançados dentro e fora do Brasil. Revista Escrita Sete (Portugal, Frankfurt e em breve Estados Unidos). Foi indicado com dois livros no Aclamado Prêmio Jabuti. Foi indicado com um livro na academia Brasileira de Letras. [+ informações de Lelo Oliver]
Telefone (Whatsapp): 21 99280-6461
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Parabéns sem palavras excelente texto.
Parabéns Bàbá e a Editora Onirá, pelo Belíssimo texto e trabalho! Sucessoooo!
Àṣẹ 🙌🏼
Parabéns pelo excelente trabalho. É necessário uma editora como a Onirá dando voz aos escritores nesse gênero e ninguém melhor que você, uma pessoa séria e atuante para este fim. Um forte abraço e muito mais sucesso.
Esclarecedor! Em poucas linhas conseguimos compreender a necessidade cada vez maior de nos posicionarmos através da "escrita" por quem, historicamente, "nunca" teve voz. Parabéns!!!
Parabéns pela relevância do tema e da profundidade do texto.
Conte comigo!
Cláudio Lacerda.
@claudiomlacerda (Instagram)