A escrita preta e a importância das editoras independentes
- WR Express
- 22 de fev.
- 5 min de leitura
Atualizado: 22 de fev.
Por: Lelo Oliver

✅ 22/02/2025 | 19:32
A escrita preta é uma ferramenta poderosa de resistência, identidade e preservação da ancestralidade. Para escritores negros, contar suas próprias histórias é um ato político, uma forma de reivindicar espaços e quebrar silenciamentos históricos. No entanto, o mercado editorial tradicional ainda impõe desafios que dificultam a publicação e a visibilidade dessas narrativas. Nesse contexto, as editoras independentes se tornam essenciais para garantir que a literatura negra tenha seu devido reconhecimento e alcance.
O Racismo Estrutural no Mercado Editorial
O mercado editorial convencional continua sendo dominado por uma perspectiva eurocêntrica, onde autores negros enfrentam maiores dificuldades para serem publicados e divulgados. Muitas editoras tradicionais priorizam narrativas que se encaixam em padrões pré-estabelecidos, limitando a diversidade de vozes e histórias. Além disso, a falta de investimento em marketing e distribuição para livros escritos por autores negros reduz o impacto dessas obras no cenário literário.
Essa estrutura faz com que muitos escritores negros não encontrem espaço para contar suas histórias de forma autêntica. Muitas vezes, há um direcionamento para que suas obras sejam moldadas a partir de estereótipos ou temas específicos, como racismo e dor, deixando de lado outras expressões e experiências da negritude.
O mercado editorial tradicional é amplamente dominado por autores brancos e por narrativas que reforçam uma perspectiva eurocêntrica. Isso cria um ciclo de exclusão onde escritores negros encontram dificuldades para serem publicados, distribuídos e reconhecidos.
Mesmo quando são aceitos por grandes editoras, muitas vezes seus livros são direcionados para nichos específicos, como se a literatura negra fosse apenas sobre racismo e dor. Isso limita a diversidade de temas que escritores negros podem explorar e reforça estereótipos sobre a negritude.
Além disso, a ausência de agentes literários, editores, revisores e curadores negros dentro das grandes editoras faz com que o olhar sobre a literatura negra seja, na maioria das vezes, filtrado por uma ótica branca, o que pode distorcer ou restringir narrativas importantes.
Por que publicar em editoras independentes?
Diante desse cenário, as editoras independentes emergem como espaços de liberdade e valorização da escrita preta. Elas possibilitam que autores negros publiquem suas obras com maior autonomia e sem a necessidade de moldar suas narrativas para atender a padrões impostos pelo mercado tradicional.
As grandes editoras frequentemente moldam as narrativas negras para que se encaixem em padrões de mercado, exigindo mudanças que possam torná-las mais "vendáveis" ao público branco. Isso pode limitar a autenticidade e a profundidade da obra.
Já as editoras independentes permitem que os autores contem suas histórias da forma que realmente desejam, sem precisar suavizar ou modificar suas vivências para atender a um olhar eurocêntrico. Isso assegura que os livros mantenham sua essência e reflitam a realidade do povo preto com toda a sua complexidade e riqueza.
Representatividade e valorização da narrativa negra
A falta de representatividade negra na literatura sempre foi um reflexo das desigualdades históricas e estruturais da sociedade. Durante séculos, as histórias negras foram apagadas, distorcidas ou reduzidas a estereótipos, enquanto a literatura eurocêntrica dominava os espaços editoriais e acadêmicos.
Ter mais autores negros escrevendo sobre suas próprias vivências e perspectivas é uma forma de resistência e reafirmação da identidade, pois permite que novas gerações cresçam tendo acesso a histórias que realmente representam sua realidade.
Além disso, a literatura negra abre portas para debates essenciais sobre racismo, ancestralidade, espiritualidade, cultura e afrofuturismo, trazendo à tona questões que antes eram silenciadas ou negligenciadas.
Diferente das grandes editoras, que muitas vezes enxergam a literatura negra apenas como um nicho, as editoras independentes priorizam a representatividade e compreendem a importância de dar espaço para narrativas diversas dentro da comunidade negra.
Maior controle criativo
Em editoras independentes, os escritores têm mais liberdade sobre sua obra, podendo explorar diferentes gêneros, estilos e temáticas sem precisar adequar seu trabalho a exigências comerciais. Isso permite que histórias autênticas sejam contadas da maneira que realmente precisam ser.
Construção de redes e apoio coletivo
A literatura negra cresce quando há um esforço coletivo para promovê-la. As editoras independentes criam redes de apoio entre escritores, leitores e profissionais negros do mercado editorial, fortalecendo o intercâmbio cultural e intelectual.
Editoras independentes costumam atuar de forma mais próxima aos autores, criando uma rede de apoio e colaboração. Isso fortalece a produção de literatura negra e incentiva o surgimento de novos escritores. Além disso, muitas dessas editoras organizam eventos, rodas de conversa e feiras literárias que ampliam a visibilidade dessas obras.
Contratos mais justos
Nas grandes editoras, os contratos podem ser rígidos e, muitas vezes, desfavoráveis para o autor. Já as editoras independentes costumam oferecer modelos mais flexíveis e transparentes, garantindo que os escritores tenham maior controle sobre os direitos de suas obras e uma remuneração mais justa.
Ampliação do acesso à literatura negra
A literatura negra é uma ferramenta fundamental de resistência, identidade e representatividade. No entanto, durante anos, o mercado editorial tradicional impôs barreiras para autores negros, dificultando a publicação e distribuição de suas obras. Nesse contexto, as editoras independentes têm desempenhado um papel essencial na ampliação do acesso à literatura negra, criando espaços de valorização para escritores e leitores que buscam narrativas autênticas e diversas.
Muitas editoras independentes possuem uma forte atuação em comunidades e movimentos sociais, facilitando o acesso do público leitor às obras de autores negros. Isso ajuda a democratizar a literatura e a promover um consumo literário mais consciente e representativo.
Conclusão: a escrita preta como ato de resistência
A escrita preta não é apenas uma expressão artística, mas também uma ferramenta de transformação social. Publicar um livro sendo uma pessoa negra já é um desafio, mas escolher como e onde publicar também faz parte da luta por reconhecimento e valorização.
As editoras independentes são espaços de resistência, onde a literatura negra pode florescer com liberdade, alcançando leitores que realmente se identificam com essas histórias. Optar por elas não é apenas uma estratégia, mas um ato político e cultural, garantindo que a escrita preta continue sendo um instrumento de luta, empoderamento e preservação da identidade negra.
Se você é um escritor negro e deseja publicar sua obra com respeito e autenticidade, as editoras independentes como a Onira Editora é o caminho para que sua voz seja ouvida da forma que merece.

Lelo Oliver
Produtor Editorial, Design Gráfico, Capista e Diagramador. CEO da Onirá Editora e do selo Novos Griôts. Com Vários Livros e Revistas produzidos e Lançados dentro e fora do Brasil. Revista Escrita Sete (Portugal, Frankfurt e em breve Estados Unidos). Foi indicado com dois livros no Aclamado Prêmio Jabuti. Foi indicado com um livro na academia Brasileira de Letras. [+ informações de Lelo Oliver]
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