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A Importância de não abandonar o Candomblé: Compromisso com a Ancestralidade e Lealdade aos Orixás

Por: Dr. Aurélio de Odé, Babalorixá



15/05/2024 | 19:46


Orixá é uma estrela que foi trazida do céu pelo sacerdote ou sacerdotisa e plantada no ori do(a) filho(a) e que só apaga quando a jornada nessa vida se encerra, sendo liberado daquela cabeça no ritual de passagem chamado axexê.




Vamos despertar um assunto extremamente importante no Candomblé, uma das mais antigas religiões afro-brasileiras, é muito mais do que simplesmente um sistema de crenças. É uma prática que está enraizada na ancestralidade, na tradição e na conexão com os Orixás, divindades interiorizada dentro de cada um(a) de nós e que representam diferentes aspectos da natureza e da vida humana. Vale ressaltar que o Candomblé não vai na casa de ninguém assediar ou forçar uma pessoa a entrar nesse mundo, nessa maravilhosa tradição, quem entra vem por vontade própria sem ameaças ou imposições.


Como ocorre essa conversão? Apesar de entender a iniciação no Candomblé como uma forma de se auto conhecer e se reconhecer enquanto afroreligiodo, muitos usam a palavra conversão, que é um processo, não um acontecimento isolado. Convertemo-nos como resultado de nossa retidão e nosso empenho em seguir os desígnios do Orixá, portanto abandonar o Candomblé é mais do que simplesmente renunciar a uma religião; é romper com uma herança cultural e espiritual que remonta a séculos de história.


Retidão

substantivo feminino

Qualidade, característica, atributo do que é reto.

"predomina a r. na arquitetura moderna"

FIGURADO

virtude de seguir, sem desvios, a direção indicada pelo senso de justiça, pela equidade; virtude de estar em conformidade com a razão, com o dever; integridade, lisura, probidade.

"a r. de seu caráter"


"Entre o Terreno e o Sagrado: A Cosmovisão do Candomblé"


O Candomblé é uma religião oriunda do continente mãe e que tem raízes profundas na cosmovisão africana. Para os praticantes do Candomblé, a vida é vista como uma interação complexa entre o mundo material e espiritual, onde os orixás, divindades que representam forças da natureza e aspectos da existência humana, desempenham um papel central. A cosmovisão do Candomblé valoriza a conexão com a natureza, a ancestralidade e a comunidade, enfatizando a importância do equilíbrio e da harmonia entre os seres humanos, os orixás e o universo como um todo. Os rituais, as danças, as oferendas e as rezas são meios de estabelecer essa comunicação com os orixás e manter esse equilíbrio, garantindo saúde, prosperidade e proteção espiritual para os adeptos. O Candomblé não apenas é uma religião, mas também um modo de vida que permeia todos os aspectos da existência, guiando os praticantes a viver em harmonia consigo mesmos, com os outros e com o mundo ao seu redor.


Compromisso com a Ancestralidade


Em sua essência, o Candomblé é uma religião que valoriza a conexão com os antepassados. Cada praticante é considerado um elo na corrente que conecta o presente ao passado.quando passamos para o lado de dentro conhecemos uma parte do AWO(segredo),digo "uma parte" é porque embora sigamos as determinações dos Orixás, o ser humano é imprevisível, não podemos confiar cegamente em quem chega ao axé,o segredo é revelado ao passar dos anos e para quem realmente conquista o direito e merecimento através de sua dedicação,também é uma forma de resguardar os saberes seculares,uma atitude de defesa para proteger toda sapiência que engloba esse vasto universo.


Manter-se no Candomblé é uma forma de honrar e respeitar aqueles que vieram antes de nós, reconhecendo sua contribuição para nossa existência e preservando sua memória. Além disso, ao exercer essa permanência, estamos continuando uma tradição que foi transmitida de geração em geração, preservando-a para as futuros porvindouros.


Juramento de Lealdade aos Orixás


Eis que é chegado o momento de selar o compromisso,no Candomblé, a relação entre os praticantes e os Orixás é de profunda reverência e respeito mútuo. Ao ser iniciado no culto, o praticante faz um juramento de lealdade aos Orixás, comprometendo-se a servi-los e a honrá-los ao longo de sua vida. Esse juramento não é apenas uma formalidade ritual, mas uma promessa sagrada que estabelece um vínculo espiritual duradouro.

Eu juntamente com outros Oloyês antes de começar a obrigação e derramar a primeira gota de ejé paro na frente do neófito e indago se é realmente isso que ele(a)quer pra sua vida,só depois da resposta é que dou segmento ao renascimento,quando finda o período de preceito ou na queda de kelé esse juramento é novamente selado em frente o Orixá da casa para que não reste sombra de dúvida que aquele iniciado tem um compromisso ancestral com a comunidade e com o divino,compromisso esse que foi selado com o sangue animal, vegetal e mineral.


Abandonar o Candomblé é quebrar esse juramento de lealdade, o que pode ter consequências espirituais significativas de acordo com a crença dos praticantes. É como virar as costas para aqueles que nos acolheram e nos guiaram espiritualmente, uma traição ao compromisso assumido diante dos Orixás e da comunidade religiosa.


Responsabilidade como Descendente do Orixá


Partindo do princípio de que no Candomblé, acredita-se que cada pessoa é filha ou filho de um Orixá específico, o que confere a ela uma responsabilidade especial perante essa divindade. e vale ressaltar que cada cabeça é um universo,em uma comunidade tradicional passamos a aprender a conviver com as diferenças,na egbé convivem pessoas de todas as esferas da sociedade, é necessário se desfazer de qualquer sentimento egocêntrico,nao é uma questao de se desvalorizar mas a necessidadede de respeitar todos sem questionar seu arquétipo psicológico ou sua forma de ser,quando nos despimos do sentimento de vaidade nos tornamos mais humanos,mais resilientes,o Candomblé nos ensina a viver em comunidade, sendo nós mesmos junto a tantas diferenças e diversidades,é uma aula de invulnerabilidade e respeito sem cobranças ou apontamentos, estou citando essa questao para que nao seja usada como subterfúgio por quem venha a abandonar sua comunidade tradicional,já que não há como abandonar o Orixá que foi plantado em seu Ori e só é retirado quanto iku vem ao seu encontro.


Essa responsabilidade não se limita apenas ao âmbito espiritual, mas também se estende à vida cotidiana. Os praticantes do Candomblé acreditam que devem viver de acordo com os princípios e valores de seu Orixá, buscando sempre agir de maneira ética e justa.


Ao abandonar o Candomblé, uma pessoa está negando sua conexão com seu Orixá e, consequentemente, sua responsabilidade como sua filha ou filho. Isso pode levar a um sentimento de desenraizamento e desconexão, à medida que a pessoa se afasta de sua identidade espiritual e cultural.


Consequências Espirituais e Éticas


Além das implicações culturais e espirituais, abandonar o Candomblé também pode ter consequências éticas e espirituais profundas. Quando fazemos um juramento aos Orixás, estamos estabelecendo uma relação de confiança e compromisso sagrado. Quebrar esse juramento é uma afronta não apenas aos Orixás, mas também à nossa própria integridade moral e espiritual.


Virar as costas para o Orixá que nos acolheu quando mais precisávamos é um ato de ingratidão e desrespeito. É como negar a ajuda daquele que nos estendeu a mão em nossos momentos de dificuldade e aflição. Além disso, ao quebrar um juramento feito com o divino, estamos falhando em manter nossa palavra e nossa integridade como seres humanos.


E quando resolvem abandonar o Candomblé?


A decisão de abandonar o Candomblé é uma escolha pessoal que deve ser respeitada,

Quando alguém que foi acolhido decide partir, é comum que aqueles que ficam sintam uma mistura de emoções. Podem experimentar sentimentos de tristeza pela partida da pessoa querida, saudade pela ausência da sua presença e a companhia que proporcionava. Ao mesmo tempo, podem sentir gratidão pelos momentos compartilhados e pelo crescimento mútuo que ocorreu durante o período de convivência. Também pode surgir um senso de orgulho por terem sido capazes de oferecer apoio e acolhimento à pessoa que agora parte em busca de novos caminhos. Esses sentimentos podem variar de intensidade dependendo do vínculo emocional estabelecido e das circunstâncias da partida,é um misto de conflitos internos e externos,ou seja causando inumeros problemas em toda comunidade tradicional, que assumirá a responsabilidade de se readaptar a desempenhar a tarefa deixada para traz por quem partiu, é importante reconhecer as implicações profundas que essa decisão pode ter. Ao fazê-lo, estamos rompendo com uma tradição ancestral, quebrando um juramento sagrado feito aos Orixás e negando nossa responsabilidade como seus filhos. Além disso, estamos cometendo um ato de ingratidão e desrespeito para com aqueles que nos acolheram em nossos momentos de necessidade e falhando em manter nossa palavra e integridade ética e espiritual. Portanto, é fundamental refletir cuidadosamente sobre essa decisão e considerar todas as suas consequências antes de agir,termino esse texto com o seguinte pensamento:


No coração da noite, sob o manto estrelado, o sacerdote, em sua jornada espiritual, empreende uma busca celestial. Seus passos ecoam como sussurros na escuridão, guiados pela luz das constelações que dançam no firmamento. Ele busca algo precioso, algo que transcende o simples material e mergulha no âmago da alma.


Em meio às estrelas, ele encontra a estrela sagrada, símbolo de poder e conexão divina. Com mãos reverentes, ele a colhe dos céus, sentindo sua energia pulsante e sua essência divina. É o orixá, manifestação das forças primordiais que regem o universo, que reside nesta estrela, emanando luz e sabedoria.


De volta à Terra, o sacerdote não guarda para si o tesouro celestial que encontrou. Com cuidado e devoção, ele planta a esteela no ori do seu filho espiritual, como um presente sagrado para iluminar o caminho da vida. Ele sabe que essa luz divina, agora enraizada no espírito do seu filho, guiará seus passos, protegerá seu destino e nutrirá sua jornada.


Assim, o filho do sacerdote recebe a bênção celestial, sentindo o calor e a energia da estrela em seu ori. Ele sabe que não está sozinho, que o amor e a proteção dos orixás o acompanharão em todos os momentos. E à medida que avança em sua jornada, ele brilha com a luz do divino, irradiando a sabedoria e a bondade que foram plantadas em seu ser.




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Dr. Aurélio de Odé, Babalorixá

Eu sou Paulo Aurélio Carvalho Lopes, nasci em 12 de agosto de 1968, em Simões, Piauí. Sou o primogênito de uma família de seis irmãos, criado por minha mãe solo, Maria do Socorro Carvalho e o apoio de meus avós Dona Maria e Seu José... [+ informações do Dr. Aurélio de Odé, Babalorixá]



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