top of page

A Importância do Candomblé para a preservação do Meio Ambiente

Por: Glauber Ọ́ṣọ́ọ̀sí

20/04/2023 | 18:23


A relação do Candomblé com a Natureza é de templo sagrado, cultuamos a água, o sol, a terra, a chuva, o ar, as árvores e tudo aquilo que tem vida, e por isso a preservação do Meio Ambiente é vital, no sentido de gestação, manutenção e reprodução da Vida.


Para o Candomblé os Orixás são, eles mesmos, elementos e forças da natureza, que nós, que professamos esta religião, consagramos em nossas práticas litúrgicas.

Não há, para nós, uma Casa de Axé na qual não haja um chão, (ou um punhadinho de terra, que seja!) para ser cultivado.




Infelizmente, por razões históricas, os poderes institucionais do Estado brasileiro não valorizam nossas práticas e saberes.

Contudo, muito do que há de "reservas ambientais" (não necessariamente reconhecidas pelo poder público) decorrem das tradições de Matrizes Africanas, bem como das de Matrizes Indígenas – lembrando que foram estes povos originários desta terra, que nos ajudaram a conhecer as plantas, animais, rochas, e águas existentes do lado de cá do Atlântico.


Muito antes das explicações acadêmicas e científicas eurocêntricas cunharem o termo "biodegradável", nós do Candomblé, e de outras religiões de Matrizes Africanas, já reutilizávamos tudo aquilo que é vida, as folhas, por exemplo, enquanto receptáculos para as oferendas de nossos cultos. Nós, candomblecistas – verdadeiros cultuadores e protetores da natureza – trazemos em nossas práticas ancestrais a idéia de converter tudo o que é deixado na natureza como alimento para animais, vegetais e para a própria terra onde são ofertados.


Desde criança, sempre aprendi que cada espaço onde há terra, é um espaço para se cultivar, para proliferar a vida. Não se arranca uma planta da Terra, primeiramente sem pedir permissão, e em segundo lugar, sem garantir que haja mais mudas ou unidades daquela planta para a continuidade.


A ancestralidade, princípio básico do Candomblé, é sustentada pela continuidade. Só há ancestral de quem é vivo. Por está razão, o Candomblé é inexoravelmente conectado ao meio ambiente: entendemos a natureza enquanto espaço para a vida. Sem a preservação de um meio ambiente saudável para a vida prosperar, não há continuidade, portanto, não há ancestralidade, não há Candomblé. Como diz o provérbio iorubá: "Kó sí ewé, kó sí Òrìṣà", "Sem folha não tem Orixá"!


Esta reflexão sobre a importância do Candomblé, e das religiões de Matrizes Africanas e Indígenas, para a manutenção da vida no Planeta Terra é necessária, diante dos reiterados casos de Racismo Religioso, que nos vitima prioritariamente.


Esta discriminação decorre do Colonialismo Eurocêntrico, que coloca a forma de viver dos povos da Europa acima de todas as outras formas de viver e existir no Mundo. Mas a Europa é um subcontinente da Ásia, muito pequeno em extensão (um pouco maior do que o Brasil), e muito pobre em biodiversidade e em recursos naturais. Por isto mesmo, os povos europeus aprenderam a enxergar a terra apenas como fonte de recursos – em oposição aos povos africanos e ameríndios, que sempre enxergaram a Natureza como mãe!


O Candomblé é a resistência das cosmovisões de diversos povos africanos – desde o Golfo do Benin (Gana, Benin, Nigéria…), até a costa ocidental (Congos, Angola, Namíbia…), chegando à costa oriental (Malauí, Moçambique…). Esta resistência não é só das práticas sagradas, mas dos modos se viver: o respeito a todas as crenças, e sobretudo o respeito à natureza, o meio-ambiente onde todos vivemos!


Esta forma de ver o mundo, que entende a Natureza como Mãe, é a Importância do Candomblé para a preservação do Meio Ambiente.





Glauber Ọ́ṣọ́ọ̀sí - AxéNews

Glauber Ọ́ṣọ́ọ̀sí

Ẹgbọn Glauber ty Òṣóòsí foi iniciado no Candomblé no Ilé Àṣẹ Omolu regido pelo Bàbálòrìṣà Valnei de Omolu.

É representante das religiões de Matrizes Africanas junto à Comissão de Liberdade Religiosa da OAB-RJ Seccional Bangu; é professor de dança e percussão de matrizes africanas. [+ informações de Glauber Ọ́ṣọ́ọ̀sí]


Redes Sociais de Glauber Ọ́ṣọ́ọ̀sí

Comments


bottom of page