Por: Alessandra Aquino
28/03/2024 | 12:49
“Ler mudou, muda e continuará mudando o mundo.”
- Virgínia Woolf
Nos meandros da história brasileira, os povos tradicionais de terreiro emergem como guardiões de uma rica herança cultural, forjada na intersecção entre África e Brasil. Nossas tradições ancestrais, expressas através de rituais, mitos e práticas espirituais, são tesouros preciosos que resistiram às intempéries da diáspora e à marginalização social. Nesse contexto, a prática da leitura se revela não apenas como um ato de aprendizado, mas como uma poderosa ferramenta de resgate cultural, empoderamento e resistência.
A princípio, é crucial reconhecer o papel da leitura na preservação da memória coletiva e da identidade cultural dos povos tradicionais de terreiro. A literatura, os documentos históricos e as produções acadêmicas constituem um vasto repositório de conhecimento sobre a história e as tradições das nossas comunidades, oferecendo uma janela para o passado e uma base sólida para a construção do futuro. Ao terem acesso a esses materiais, os membros das comunidades podem resgatar e valorizar sua própria história, fortalecendo sua autoestima e seu senso de pertencimento.
Em conseguinte, a leitura desempenha um papel fundamental no desenvolvimento intelectual e emocional dos indivíduos de terreiro. Através da exposição a diferentes formas de expressão literária, como contos, poesias e ensaios, os leitores são estimulados a refletir criticamente sobre sua realidade e a expandir seus horizontes culturais. Esse processo de conscientização e autoconhecimento é essencial para a construção de uma identidade sólida e para o fortalecimento do senso de autonomia.
Ademais, a leitura é uma ferramenta poderosa de resistência contra a discriminação e o preconceito. Ao se apropriarem do conhecimento sistematizado, os povos tradicionais de terreiro podem desafiar estereótipos e narrativas negativas que historicamente nos têm marginalizado, promovendo a valorização da nossa cultura e da nossa contribuição para a sociedade brasileira.
Ler representa muito mais do que uma simples atividade intelectual para os povos tradicionais de terreiro; é uma fonte de resgate ancestral. Uma vez que, ao promover o acesso ao livro e à literatura, estamos investindo na ascensão intelectual das nossas comunidades e na construção dos nossos saberes. Logo, é imperativo que continuemos a apoiar e fortalecer iniciativas que promovam uma cultura de leitura mais acessível e representativa para todos.
Em suma, programas de incentivo à leitura, como bibliotecas, projetos de contação de histórias e clubes de leitura, dentro dos próprios terreiros, podem desempenhar bem o papel de promoção e incentivo à leitura para as comunidades tradicionais, e, nesse aspecto, a circulação de obras literárias que reflitam as vivências, valores e tradições das nossas comunidades são fundamentais para garantir uma representação autêntica e diversificada na cena literária. Promover e valorizar a leitura dentro das nossas comunidades é um ato de justiça, um investimento no fortalecimento da diversidade cultural e na construção de uma sociedade mais equitativa.
Ler é um hábito poderoso, cada página virada é um exercício de afirmação, de transformação e de esperança. Leia um livro!
Alessandra Aquino
Educadora, Editora formada pela Casa Educação de São Paulo, Produtora e Gestora Editorial pelo NESPE; CEO da Editora Folha de Ouro; Fundadora do Instituto de Literatura e Arte Ancestral Folha de Ouro (ILAFO).... [+ informações de Alessandra Aquino]
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