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A Mentira Sob o Olhar dos Orixás e da Psicanálise

Por: Mãe Kátia


02/12/2024 | 08:04


Todos nós, em algum momento da vida, já mentimos. Este é um fato da condição humana. Um exemplo cotidiano: quando um ex-namorado liga por engano e, para evitar conflitos, você diz ao seu noivo que foi "uma amiga". Estas são as chamadas “mentiras inócua”, inofensivas na superfície, que evitam discussões desnecessárias. No entanto, mesmo essas pequenas inverdades requerem cuidado, pois a prática constante pode se transformar em um hábito de fuga da realidade, desviando-nos do caminho da verdade.



A psicanálise nos ensina que a mentira frequentemente nasce de uma tentativa de proteger o ego. É uma defesa contra aquilo que não estamos prontos para enfrentar: julgamentos, rejeições, falhas ou a dor da inadequação. No entanto, enquanto algumas omissões momentâneas podem ser necessárias para recompor o equilíbrio emocional, a mentira deliberada, repetida e manipuladora carrega perigos profundos para o indivíduo e suas relações.


Na perspectiva espiritual e da filosofia Yorùbá, a mentira é um ato que desequilibra o Orí (consciência e destino) e afasta o indivíduo do alinhamento com os Orixás. Cada Orixá representa valores que guiam o ser humano para uma vida equilibrada e plena. A mentira, no entanto, transgride esses valores. Por exemplo:


  • Exu, o Orixá da comunicação, rege a verdade e a clareza nos caminhos. Quando mentimos, rompemos com a energia de Exu, criando bloqueios e desordem em nossa trajetória.

  • Xango, o Orixá da justiça e da retidão, reprova as falsidades que desviam o indivíduo de sua responsabilidade e propósito.

  • Obatalá, o Orixá da pureza e da sabedoria, ensina a importância da honestidade como fundamento para a harmonia espiritual. Mentir é macular essa pureza, distanciando-nos da paz interior.


O mentiroso compulsivo, além de prejudicar outros, enfrenta o risco de se afastar das bênçãos dos Orixás, já que suas ações desalinham seu Orí e enfraquecem sua conexão com as forças divinas que sustentam a vida.


O mentiroso habitual torna-se escravo de suas próprias invenções, pois cada mentira exige outra para sustentar a anterior, criando uma teia de ilusões que aprisiona tanto a si quanto aos outros. Essa prática reflete um profundo egoísmo, pois prioriza ganhos imediatos ou a preservação de uma imagem fantasiosa em detrimento da verdade e do impacto que causa no próximo.


A filosofia Yorùbá destaca que a repetição de atos contrários ao equilíbrio do Orí gera Ìpàdà, consequências inevitáveis de nossas ações. Assim, a mentira pode resultar em isolamento, desconfiança e afastamento das bênçãos espirituais.


Por mais difícil que seja, a verdade é o caminho que nos liberta. Ela exige coragem para enfrentar o julgamento e o desconforto do momento presente, mas promove crescimento a médio e longo prazo. Na visão espiritual, a verdade é uma manifestação do alinhamento com as Leis de Deus e com os Orixás, enquanto a mentira é um desvio que gera débitos e expiações futuras.


Nada permanece oculto para sempre; tudo um dia será revelado. Estamos constantemente cercados por uma nuvem de testemunhas invisíveis, como bem destaca a filosofia Yorùbá: nossos ancestrais e os Orixás estão sempre presentes, atentos às nossas ações e intenções. Nada escapa ao olhar do divino. Cada escolha que fazemos, seja baseada na verdade ou na mentira, contribui para moldar o tecido do nosso destino e reflete diretamente no alinhamento com o nosso Orí e com as forças espirituais que nos guiam.


A pessoa que vive na mentira colhe os frutos amargos de seu comportamento: desconfiança, desprezo e solidão. Enquanto isso, aquele que se compromete com a verdade — mesmo que enfrente dificuldades — constrói um legado de confiança, respeito, autenticidade e equilíbrio emocional. Na balança divina das conquistas espirituais, a verdade sempre pesará mais do que a ilusão.


Na Umbanda, aprendemos que a prática da verdade não apenas fortalece nosso Orí, mas também nos alinha com os Orixás e com o fluxo da vida. Oxum, a Orixá do amor e da sensibilidade, nos ensina que a verdade é um rio que limpa, cura e restaura. Já Ogum, o Orixá da força e da guerra nos mostra que a honestidade é o caminho da retidão e da coragem.


Mentir pode parecer um atalho fácil, mas a VERDADE é um caminho que nos transforma. É ela que nos conecta com nosso propósito, com a força dos Orixás e com a nossa essência mais profunda. Assim como Exu traz equilíbrio ao caos, a verdade organiza e ilumina os caminhos da vida, permitindo que avancemos com clareza e dignidade.


Que possamos, com humildade e coragem, abandonar a teia das mentiras e nos abrir para a construção de uma vida verdadeira, pautada na luz, na retidão e na sabedoria espiritual.


Axé!



Mãe Kátia - AxéNews

Mãe Kátia

Mãe Kátia é sacerdotisa dirigente do Templo Luz do Amor Divino, Ìyálórìṣà coroada na Umbanda e iniciada nos cultos afro-brasileiro e tradicional Yorubá. Além de ser a fundadora do Projeto Social Mensageiros do Amor, que já atendeu mais de 300 famílias proporcionando a melhoria da qualidade de vida em suas comunidades e levando dignidade, respeito e humanidade, a Ìyálórìṣá tem um grande histórico acadêmico: possui formação em psicanálise com ênfase na ciência da religião e nas relações do homem com o universo consciente e inconsciente e graduação em metafísica da saúde, cromosofia, cromologia e em cromoterapia. [+ informações de Mãe Kátia]


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Artigo de Opinião: texto em que o(a) autor(a) apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretações de fatos, dados e vivências. ** Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do AxéNews.


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