Por: Cibele Martins
02/08/2024 | 10:31
Frequentemente, temos testemunhado um aumento preocupante de casos de intolerância religiosa contra adeptos e sacerdotes de religiões de matriz africana, incluindo líderes espirituais como a respeitosa e saudosa Mãe Bernadete, líder comunitária conhecida por atuar na defesa da cultura popular quilombola.
Notificações de fatos chocantes indicam que assim como essa importante sacerdotisa, que será sempre lembrada por sua liderança e influência, bem como muitos outros, têm sido vítimas de discriminação e alta violência em decorrência de suas práticas religiosas.
Este cenário se reflete nos dados alarmantes sobre a intolerância por todo o país. Em 2018, foram registradas 615 denúncias de intolerância religiosa no Brasil, número que saltou para 1.418 em 2023, representando um aumento de 140,3%. Além disso, a intolerância aparece em um terço dos casos de racismo no país, conforme revelado por pesquisas feitas a partir das páginas oficiais dos tribunais e órgãos referentes.
É importante lembrar que o trágico assassinato da estimada Mãe Bernadete , vítima da crueldade e da intolerância religiosa entre os demais aspectos que envolvem o terrível caso, exemplificam um lembrete impactante do perigo real que a intolerância religiosa representa para os líderes e praticantes das religiões de matriz africana.
Em paralelo acompanhamos o recente e lamentável episodio envolvendo Mãe Iara D'Oxum em um salão de beleza na região de Salvador, apontando mais uma evidência na persistência da intolerância religiosa decorrente em nosso pais que é majoritariamente povoado por pessoas pretas e composto por diversas descendências.
Diante desse contexto, é urgente que medidas efetivas sejam tomadas para combater essa realidade garantindo a estes povos o respeito à liberdade religiosa o direito ao culto e das praticas de crenças e preceitos em todos os espaços sem medo.
A conscientização sobre a importância da diversidade religiosa e a promoção do diálogo inter-religioso são passos fundamentais para a construção de uma sociedade mais inclusiva e respeitosa. Além disso, as autoridades precisam agir velozmente para assegurar a proteção e segurança de todos os praticantes, permitindo que exerçam suas funções no direito de ir e vir e que transitem livres sem temer pela sua integridade física e espiritual dignamente.
É essencial reforçar o compromisso com a promoção do respeito mútuo e ao combate de qualquer forma de discriminação baseada na religião com a finalidade de extinguir o racismo estrutural e religioso que ainda se apresenta compactado de pura crueldade desumanizando pessoas.
A conscientização e a ação coletiva são fundamentais para enfrentar esse desafio e assim construir uma sociedade mais justa, igualitária e respeitosa para todos os praticantes de diferentes crenças e culturas.
Ressaltando o lastimável caso da Mãe Iara D'Oxum em sua amplitude, vemos mais um exemplo do desafio contínuo e permanente que enfrentamos na luta contra a intolerância religiosa e a discriminação decorrente. É fundamental que casos como esse sejam tratados com seriedade, responsabilidade e cautela pelas autoridades competentes, garantindo que as vítimas encontrem urgência no amparo e justiça com excelência para uma preventiva solução e posteriormente respostas efetivas em todos os casos respectivos.
Ainda existem várias camadas de racismo que permeiam todas esferas de nossa sociedade , enquanto que pessoas de religião de matriz africana lutam para que seu corpos, mentes e dignidade sejam preservados e deixem de ser dilacerados com tamanha brutalidade de ataque que nos designa a uma exaustão emocional e que entretanto nos condiciona a colapsar ou paralisar quando lançada de maneira fria e calculada numa ação de aniquilação (polida) e com um refinamento que os algozes são capazes de reproduzir pelo instinto de seu histórico mental.
Episódios como estes reforçam a necessidade emergencial de promover o respeito mútuo entre diferentes práticas religiosas, visando construir uma sociedade com espaços e ambientes onde todas as crenças sejam respeitadas, praticadas e celebradas em suas formas e no direito existir.
Cibele Martins
Iniciei minha jornada no culto tradicional de candomblé para Oyá, pela nação do Efon, em 2014. Filha do respeitado líder religioso Babalorixa Sr. Michel de Odé e pertencente à hierarquia do Asé Egbe Efon Odé Bilori, localizado no distrito de Terra Preta – Mairiporã/SP. Asé reconhecido e interligado diretamente ao tradicional Ilé Ògún Anaweji Ìgbele Ni Oman, também conhecido como Àse Pantanal, localizado em Duque de Caxias-RJ, sob a diligência religiosa da sacerdotiza Sra. Iya Maria de Xango, a Matriarca da Nação de Efon. [+ informações de Cibele Martins]
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