Por: Ademir Barbosa Junior
30/01/2023 | 16:44
Guardadas a diversidade e as particularidades da T. U. Caboclo Jiboia e Zé Pelintra das Almas (TUCJZPA), este texto traz algumas reflexões sobre o desenvolvimento mediúnico e o aprendizado em geral, que não cessam. Ao contrário, se ampliam e aprofundam. Vale lembrar que, embora algumas pessoas conheçam a casa no presente momento, ela existe desde 2015 e, com o projeto terreiro itinerante, foi preciso adaptar muitas situações litúrgicas e outras para os espaços ocupados (outros terreiros, espaços cedidos em casas de médiuns etc.). Isso gerou uma reação interessante a ser abordada inclusive do ponto de vista antropológico e sociológico, além do psicológico: toda vez que eu conseguia trazer à tona determinadas situações (litúrgicas e outras) dos fundamentos originais da TUCJZPA, alguns (umas) médiuns achavam que eu atentava contra a espontaneidade dos encontros, desejava hierarquizar (no sentido negativo) relações e posturas, priorizar este (a) ou aquele (a) médium. Ora, tais posturas, questionamentos e críticas são comuns em todos os terreiros, porém os motivos que os provocavam eram outros, vale dizer, o desconhecimento ou o esquecimento de relatos feitos sobre os fundamentos da casa, os quais, repito, não se confundem com protocolos estéreis, antes se explicam energeticamente.
É comum nesse tipo de crítica o (a) médium entender que o Pai ou Mãe não cumpre o que a Espiritualidade diz e, nesse sentido, o (a) médium confronta falas da Espiritualidade por vezes incompletas ou descontextualizadas, como se isso fosse possível numa casa séria, onde não ocorrem mistificações, e a Espiritualidade, durante uma gira ou em momento de reunião não pudesse desmentir o Pai ou a Mãe de um terreiro. Então a fé do médium oscila entre ouvir o que lhe agrada e duvidar do que lhe desagrada, com forte incidência não apenas em seu espiritual, mas também no emocional.
A primeira prova de um (a) médium nem sempre é resolvida no início do desenvolvimento, mas permanece por anos. Se não obtém sucesso, passará novamente até compreender a lição. E qual seria essa prova? Em primeiro lugar, está atrelada ao ego. Em segundo, se manifesta pelo questionamento “Por que meu irmão, e não eu?” Costumo dizer que, sobre o irmão, não posso responder porque isso está entre ele e a Espiritualidade, por mediação deste Pai. Sobre o “eu” (o/a médium que questiona), às vezes posso responder, às vezes somente mais adiante, noutras ainda não tenho a resposta completa da Espiritualidade, cujo tempo, aliás, vale lembrar, é diferente do nosso, portanto tanto do meu quanto do (a) médium. Contudo, é fácil deduzir que, de uma forma ou de outra, um (a) médium não está numa função porque estará em outra (s), embora o ego lhe aponte que sua função específica deve ser a do irmão. Isso o ego, não a Espiritualidade ou um/a Pai/Mãe, o/a qual, inclusive, já vivenciou momentos em que, se tivesse de escolher alguém por afinidade, acesso, tempo de convivência etc., teria escolhido, de fato, o (a) médium do questionamento, e não aquele (a) apontado (a) pela Espiritualidade. Contudo, um Pai ou uma Mãe não podem incorrer no erro do (a) filho (a) que questiona não pela espiritualidade ou pela razão, e sim pelo ego, pois este tem apenas a visão da ponta do iceberg. O Pai ou a Mãe veem um pouco mais fundo, mar abaixo. Quem enxerga a totalidade, porém, é a Espiritualidade.
Ter confiança quando se ouve apenas o que se deseja ouvir não é confiar. Mediunidade não é privilégio ou distinção. Mediunidade envolve amor e disciplina. Sem amor, é ouro de tolo. Sem disciplina, é tolice sem valor.
Ademir Barbosa Junior
Ademir Barbosa Júnior (Pai Dermes de Xangô) é dirigente da Tenda de Umbanda Caboclo Jiboia e Zé Pelintra das Almas (Piracicaba – SP), fundada em 23/4/2015. É Doutorando em Comunicação pela UNIP (Bolsa PROSUP/CAPES) e Mestre em Literatura Brasileira pela USP, onde se graduou em Letras. Pós-graduado em Ciências da Religião pelo Instituto Prominas, é professor e terapeuta holístico. [+ informações de Ademir Barbosa Junior]
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