Por: Ademir Barbosa Junior
12/01/2024 | 13:00
A Mãe de Santo precisava de duas bacias de ágata para rituais e pediu doações. Uma filha doou um par, mas, como saiu do terreiro aos atropelos, dizendo que os fundamentos da casa eram ridículos e porque a Mãe de Santo conhecia bem a personalidade da filha, disse que levasse consigo as bacias e doasse para o terreiro onde entrasse. A filha, bufando e babando pelo canto da boca gritou com a Mãe de Santo que havia gastado dinheiro à toa e declinou o valor das bacias, virando as costas com elas debaixo do braço. Não pensou por um instante que era por esse motivo que a Mãe não tinha aceitado ficar com as bacias.
Uma semana depois, outra filha doou duas bacias de ágata para o terreiro, mas também decidiu ir embora dizendo não ter tempo para as coisas do Axé. Levou as bacias junto, alegando que não havia doado, mas comprado apenas para seu amaci. Entristecida com a atitude dessas filhas, a Mãe de Santo decidiu ela mesma comprar as bacias, mas estava sem dinheiro e não queria pedir aos filhos, que ajudavam em outras coisas, como podiam.
Então um homem bateu palmas no portão e a Mãe foi atender. Era um negro sorridente que dizia ser mascate, vendia coisas, era só encomendar que ele trazia logo. A Mãe de Santo perguntou quanto era uma bacia de ágata. Ele respondeu que não cobraria dinheiro de metal: cada uma custava um búzio e não precisava pagar à vista. Na manhã seguinte, no portão, ia deixar a encomenda dela. Era só deixar o valor onde encontrasse a encomenda que ele viria buscar depois.
E aconteceu. Na manhã seguinte, a Mãe de Santo encontrou no portão quatro bacias de ágata! Cada filha que havia deixado o terreiro, envergonhada, devolveu o par de bacias de ágata. A primeira porque não havia encontrado terreiro e até pensava em voltar para a antiga casa. A segunda porque não via serventia para as bacias em casa.
A Mãe de Santo recolheu as bacias e foi buscar quatro búzios, um para cada bacia. Colocou no chão do portão, bateu paô e, agradecida, saudou o suposto mascate com um sonoro “Laroiê!”.
Ademir Barbosa Junior
Ademir Barbosa Júnior (Pai Dermes de Xangô) é dirigente da Tenda de Umbanda Caboclo Jiboia e Zé Pelintra das Almas (Piracicaba – SP), fundada em 23/4/2015. É Doutorando em Comunicação pela UNIP (Bolsa PROSUP/CAPES) e Mestre em Literatura Brasileira pela USP, onde se graduou em Letras. Pós-graduado em Ciências da Religião pelo Instituto Prominas, é professor e terapeuta holístico. [+ informações de Ademir Barbosa Junior]
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