Por: Pai Ortiz Belo
17/05/2023 | 19:00
Saravá meus irmãos de Umbanda, é sempre uma grande honra poder expressar um
pouco do nosso conhecimento dentro da nossa religião falando de uma tradição.
A religião de Umbanda vem em um crescimento impressionante, são centenas e
centenas de terreiros e milhares de seguidores. Além dos filhos de santo, são outros
milhares de irmãos assistidos dentro de nossos trabalhos, tendo em vista que
atendemos mais que o SUS, portanto somos um número expressivo dentro do Brasil e
também em outros países. O atendimento espiritual, existente em outras religiões,
porém, nada se compara a Umbanda, nós somos a única religião mediúnica aonde os
moldes de atendimento são realizados direto com nossos guias espirituais, de frente
com o sagrado. Dentro destes atendimentos são observados que o assistido tem uma
orientação psicológica, permitindo que o indivíduo fale, desabafe, sendo também
trabalhado em sua fé, recebendo os benefícios dos descarregos através do passe.
Entendendo que antigamente não se ia ao médico, como hoje, recorrer aos
medicamentos alopatas, ficávamos doentes recebíamos orientação de caboclo e preto
velho sobre os medicamentos naturais feitos de ervas. Estes valores se mantem
dentro de algumas raízes de Umbanda, algumas águas de nascimento, porém, os
aspectos mediúnicos de algumas linhagens se perderam. Nos últimos anos a religião se
expandiu, trazendo aos que cultuam sua fé desafios até então não pensados, que hoje
através de grandes líderes religiosos, vamos sustentando e mantendo raízes
importantes da tradição.
Dentro deste crescimento observamos três situações, aqueles que possuem seus
terreiros por águas de nascimento, quando o médium foi apontado e preparado para a
função como dirigente espiritual. As outras duas formas, aonde nascem os terreiros
ficam os olhares de todos nós que nascemos dentro da religião e que tem seus fundamentos realizados dentro de preceitos que infelizmente é a minoria dentro da
Umbanda. Muitos terreiros nascem quando o médium por algum motivo se desgosta e
sai do terreiro, seja por não ter o suporte devido, ou mesmo quando passa a questionar o seu dirigente espiritual. Nesta modalidade existem variantes, os dirigentes não preparam seus filhos que tem coroa para se tornar um dirigente espiritual ou zelador(a), hoje muito comum chamar de sacerdote(a), fazendo que estes de maneira natural e pelos seus próprios guias abram seus terreiros. Vejo que um grande número de terreiros nascem desta maneira, muitos com trabalhos maravilhosos e com grande forças espirituais, porém também o oposto ocorre, por despreparo.
A terceira maneira aonde surge terreiros, é por cursos de sacerdócio, aonde médiuns, muitos ainda médiuns em desenvolvimento, fazem estes cursos e recebem “outorga” para tal função de grande responsabilidade. Antes de tecer comentário sobre esta modalidade, que é moda nos dias de hoje, quero ressaltar que um dirigente espiritual cuida de vidas, pessoas que buscam o acolhimento, muitos com problemas seríssimos. O estudo é fundamental para qualquer religião, entender e saber dos preceitos de sua doutrina, ter ciência sobre o que é realizado, porém, acima disto, está o “axé”, a força espiritual passada de quem recebeu de fato de um mais velho.
Sim a Umbanda tem iniciação, tem fundamentos, que vão além de textos escritos, como citei, não se estabelece a compreensão sobre a religião sem o estudo, mas o fundamento de recebe-lo de um dirigente de fato é profundo.
Ainda sobre as duas modalidades citadas por último, a mais danosa é quando uma
pessoa recebe informações via internet e se acha outorgado, palavra bem utilizada por
estes irmãos, e assim, fazem barbaridades dentro de uma religião tão linda, tão forte.
Aqui não quero me colocar como perseguidor de ninguém, mas como dirigente
espiritual há 26 anos, me vejo com a responsabilidade de apontar os acontecimentos,
que já se estabeleceram em outros seguimentos religiosos também, não sendo
exclusividade da Umbanda. Ser um pai ou mãe de terreiro requer muita
responsabilidade, visto por muitos destes que buscam por cursinhos de final de
semana como status, ou como a maioria, meio de vida. Quando o médium faz seu
desenvolvimento espiritual, seguindo os preceitos necessários, recebendo os
cruzamentos, firmezas e depois seus assentamentos, permite a este, caso tenha coroa
para tal, ser o verdadeiro dirigente espiritual. Compreendendo a existência de
variantes e maneiras de fundamentos peculiares dentro de cada água de nascimento e
não entrando no mérito de ritos.
Aqui escrevo sobre a luz da Umbanda Tradicional, centenária, fundamentada nos
pilares dos nativos da terra(índios), na ciência africana com nossos Orixás, na
compreensão dos santos na visão do catolicismo popular, que é diferente do
catolicismo dominante. Baseado na mediunidade em sua compreensão espírita, seja
unindo o Kardecismo, ou mesmo o hinduísmo, observando em nossos guias a
universalidade dentro da Umbanda, que tem suas particularidades, entendendo que
influências não significam interferências. A Umbanda tem sua liturgia própria, seus
sacramentos, batismo, casamento e ritual fúnebre, não tendo a necessidade de
recorrer a outras religiões para absolutamente nada, e quando cito isto, inclui
fundamentos com forças de Orixá. A camarinha é onde nasce o médium de Umbanda
Tradicional, ali ele é apresentado ao Criador, Olodumare, Deus, para os seus Orixás,
guias, mentores e protetores. Dentro deste espaço sagrado são feitos os cruzamentos,
alguns ensinamentos são passados, de acordo com a função do médium, desde um
iniciante, até um dirigente espiritual.
Entendo que muitas doutrinas de Umbanda não possuem tais atributos de preparo, isto não diminui em nada o trabalho de nenhum terreiro e de nenhum dirigente espiritual, porém tem o porquê de se fazer o recolhimento em camarinha. Antes do entrar na camarinha, o médium passa pela tronqueira do terreiro, ali ele faz os seus assentamentos de esquerda, com fundamentações de elementos que potencializam o trabalho do médium. Ambas as situações de direita e de esquerda, permite que o médium atue sobre tudo que for necessário na espiritualidade. Aproveitando para citar, a esquerda da minha Umbanda chamo de Quimbanda, não se tratando da religião Quimbanda, mas sim a união de valores de nossos exus que militam na espiritualidade de Quimbanda. O que significa
isto? A Umbanda é uma religião de impactos, lidamos com tudo de bom, para atrair
para quem busca nela sua sustentação, mas também atuamos sobre o inferno pessoal
das pessoas, que são atacadas espiritualmente. Uma pessoa que teve ataques
espirituais provenientes do campo santo, calunga pequena, ou mesmo de outros pontos de grande aglutinação vibracional, tem dentro da Umbanda Tradicional um médium que tem suas fundamentações próprias para atuar sem que haja os resquícios sobre ele. Isto acontece por que o assentamento de exu estão elementos análogos para anular qualquer força contrária, em seu assentamento está a encruzilhada, o cemitérios, as montanhas, a beira mar, entre tantos forças e pontos fundamentados seja por terras, sementes, pedras, elementos de origem animal e pós. O mesmo ocorre dentro dos assentamentos de Orixás e guias espirituais, onde se encontra as quartinhas com seus otás (pedras), águas, entre outros elementos que possibilita que o Orixás e os guias estejam vibrando suas forças diretamente dentro do campo mediúnico do médium. Tudo isto é feito dentro da ciência da Umbanda Tradicional, seja dentro da camarinha, como dentro da tronqueira! A Umbanda como religião mediúnica atua direto através do tônus energético, vibracional e magnético, forças que só são passados através de cruzamentos, batismos, amacis. O pai ou mãe de terreiro, zelador, dirigente espiritual, sacerdote, devidamente preparado possui este tônus de ordem espiritual, chamamos de axé, de força! Só se passa a alguém o que se possui, o que recebeu, ou melhor, o que conquistou através de sua paciência, de sua
dedicação e principalmente respeito ao sagrado. O imediatismo e a realização de
procedimentos sem que haja o desenvolvimento dentro dos padrões adequados,
chamo este “médium” de vaidoso, se torna prepotente, influenciando outros dentro
do mesmo padrão, passando o que possui, nada! Fica aqui para estes que queiram se
iniciar dentro de uma camarinha a minha inteira disposição, seja para aconselhamento
ou mesmo fazer os fundamentos!
A relevância do devido preparo entra em várias esferas, algumas citadas aqui, outras
tantas eu poderia citar, porém não seria uma matéria, seria um livro de apontamentos
das várias maneiras que a ciência de Umbanda traz aos verdadeiros médiuns!
Saravá Umbanda
Pai Ortiz Belo
Escritor umbandista e espiritualista. Dirigente espiritual do Templo Portais de Umbanda desde 1997. Nasceu em berço religioso de Umbanda, consagrado pai pequeno aos 19 anos e dirigente aos 26. Filho de pai Xangô e mãe Oxum, sempre procurou fazer pela religião desde jovem, participando de momentos valiosos para a Umbanda. [+ informações do Pai Ortiz Belo]
Redes Sociais do Pai Ortiz Belo
Instagram | Facebook
Commentaires