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Capelania e Orixás: A Aliança Espiritual na Promoção do Equilíbrio e Bem-Estar nas Religiões de Matriz Africana

Por: Dr. Aurélio de Odé, Babalorixá


Foto: Alexsandra Moreira | @iyalerifotografia

29/08/2024 | 08:46


A Importância de Exercer a Capelania em Hospitais, Escolas, Quartéis, Presídios, Orfanatos, Asilos, Creches, Albergues, Empresas, e Instituições Governamentais,pessoas em estado de vulnerabilidade,em situação de rua e Terreiros Enquanto Liderança de uma Comunidade de Matriz Africana.



A capelania e as tradições dos Orixás compartilham uma rica conexão com o sagrado, ambos atuando como pontes para o divino e oferecendo ensinamentos que guiam a humanidade em sua busca por equilíbrio e plenitude.


Exú, como senhor da comunicação, atua de forma semelhante à capelania, abrindo caminhos e conectando o mundo espiritual ao material, permitindo que as orações e mensagens alcancem o divino. Bará, por sua vez, nos lembra da importância de despertar a energia vital em nosso corpo, promovendo a força e a disposição para enfrentar os desafios da vida cotidiana, algo também cultivado pelo cuidado espiritual da capelania.


Ogum nos ensina a ter coragem e determinação, características fundamentais para superar as dificuldades, uma lição que ressoa tanto nas práticas de aconselhamento espiritual quanto nos ritos dos Orixás. Onilé nos lembra de que temos a terra ao nosso favor, tal como as bênçãos concedidas pela capelania nos dão sustentação para caminhar com firmeza.


Iyemanjá, a grande mãe e psicóloga, atua como conselheira amorosa, oferecendo o amparo emocional, enquanto Odé,senhor do alimento com sua sabedoria médica, cuida do bem-estar físico, equilibrando corpo e alma através do alimento, Ossaim, com o poder das folhas, é o curandeiro da natureza, trazendo a cura e o vigor pelas plantas sagradas, assim como Omolú, que leva as doenças para o interior da terra, mantendo a saúde daqueles que servem ao divino.


Xangô, com sua intolerância às enfermidades, atua como guardião da justiça e do equilíbrio, prevenindo o desequilíbrio físico e espiritual, enquanto Nanã, a grande anciã, nos ensina sobre a maturidade e sabedoria que só o tempo pode oferecer. Iyewá, por outro lado, nos revela a beleza da vida, enquanto Oxum, com seu abebé, nos ensina a valorizar nossa beleza interior e exterior.


Obá nos traz resistência, ensinando-nos a suportar as adversidades, enquanto Oyá, com seu poder transformador, nos guia pelas mudanças necessárias para o crescimento. Iroko, que representa o tempo, nos ensina que cada coisa tem seu momento certo, um ensinamento que ecoa nos rituais religiosos e nas práticas de vida.


Ibeji nos traz a alegria da vida, enquanto Oxumarê, com sua relação com a longevidade, simboliza a continuidade e a renovação. Logum Edé nos inspira a buscar novas experiências, mantendo o espírito aberto à descoberta. Oxaguian, com seu poder transformador, e Oxalufam, com sua paciência e equilíbrio, complementam a jornada espiritual de cada indivíduo, abençoando os caminhos com serenidade.


Por fim, Ori, o poder interior de cada ser, lembra-nos da importância de reconhecer e honrar a força que habita dentro de nós, uma mensagem central tanto na capelania quanto nas religiões de matriz africana, que exaltam o poder divino presente em cada ser humano, cultivando a fé e o crescimento espiritual de forma contínua.


Essa conexão entre os Orixás e a capelania evidencia que, independentemente do caminho espiritual, o objetivo é sempre o mesmo: conduzir o ser humano ao encontro de seu verdadeiro potencial, em harmonia com o divino e com o mundo ao seu redor.

Exercer a capelania enquanto liderança de uma comunidade de matriz africana vai muito além de um serviço religioso: é um compromisso com o cuidado, o respeito à pluralidade religiosa e a preservação de nossa identidade espiritual. Em espaços como hospitais, escolas, quartéis, terreiros e presídios, esse trabalho é uma ponte que conecta as pessoas à sua fé e, principalmente, à força dos ancestrais e dos orixás. Nesses locais, estamos presentes não apenas para guiar, mas também para cuidar, acolher e proporcionar alívio espiritual e emocional para nosso povo.


Além disso, é fundamental que as lideranças saiam de sua zona de conforto. Muitas vezes, somos seduzidos pela aparência exterior de nossa fé — os colares valiosos, os torços imponentes, as publicações nas redes sociais em busca de engajamento e aprovação. Mas é necessário lembrar que ser um verdadeiro líder não está na ostentação, mas na prática diária da humanidade, na vivência real dos ensinamentos dos orixás. Liderar é, antes de tudo, ser um exemplo de comportamento e de humildade, inspirando os outros não pelas aparências, mas pelas ações concretas e pelo cuidado genuíno com o próximo.


Capelania nos Hospitais

Nos hospitais, a capelania é um porto seguro para quem está em momentos de dor e incerteza. Como liderança de uma comunidade de matriz africana, a presença de um capelão vai além da simples prática de orações. Ela envolve rituais de cura, gestos simples, como o uso de folhas sagradas, bençãos com águas de cheiro,citação de itans, um Orim de Orixá ou de Ori, o contato com as divindades e muitas vezes a necessidade de realização de ebós,banhos,etc... Esses elementos, profundamente enraizados na nossa tradição, trazem conforto e podem ser tão importantes para o espírito quanto o tratamento médico para o corpo.


A prática de uma verdadeira liderança envolve mais do que palavras. Muitos podem se preocupar em exibir seus colares e outros símbolos de status religioso, mas a verdadeira força da liderança está na ação direta — em estar ao lado de quem sofre, em segurar a mão de quem tem medo e em trazer a cura espiritual através de gestos simples, mas carregados de axé. A verdadeira liderança se mostra na humildade e na dedicação ao cuidado de todos, sem esperar reconhecimento ou aplausos.


Capelania nas Escolas

A capelania nas escolas é um espaço de educação e acolhimento. Ao trabalhar com jovens e crianças, oferecemos não só orientação espiritual, mas também ensinamentos sobre o respeito às diferenças e a importância da pluralidade religiosa. Vivendo em uma sociedade diversa, é fundamental que nossos jovens entendam que há valor em todas as crenças, e que a espiritualidade, independentemente de sua origem, deve ser respeitada.


Entretanto, para que esse ensinamento tenha real impacto, a liderança precisa se mostrar presente, não apenas em palestras ou eventos, mas no cotidiano das crianças e dos jovens. Publicar conhecimentos sagrados (awo) nas redes sociais pode trazer engajamento, mas isso não substitui a importância do exemplo prático e da orientação direta, onde o jovem vê o capelão não apenas como uma figura distante, mas como alguém que realmente se importa com suas lutas e está disposto a ajudá-lo a trilhar o caminho certo. O exemplo concreto é o que gera mudança e impacto real nas vidas desses jovens.


Capelania nos Quartéis

Nos quartéis,infelizmente durante meus 30 anos dentro da caserna eu não conheci nenhum capelão de afro religioso,sempre eram católicos ou evangélicos pois infelizmente nesses Espaços O preconceito e falta de empatia com as religiões de matriz africanas é gigantesco.

O capelão tem a missão de levar um pouco de humanidade a um ambiente de rígida disciplina e pressão. Os militares enfrentam situações que exigem muita força física e emocional, e ter alguém para guiá-los espiritualmente pode ser o que os mantém equilibrados. Como liderança de uma comunidade de matriz africana, trago comigo os ensinamentos dos orixás, que representam força, coragem e sabedoria. É nosso dever oferecer esses valores como forma de amparo para os militares, ajudando-os a encontrar equilíbrio, mesmo em meio à dureza do serviço.


Aqui, o desafio para a liderança é estar presente de fato, não apenas como uma figura cerimonial, mas como alguém que se envolve no dia a dia, compreendendo as dificuldades que os militares enfrentam. É fácil exibir símbolos de liderança e falar sobre coragem nas redes sociais, mas a verdadeira coragem está em sair de sua zona de conforto para estar com aqueles que necessitam, ajudando a aliviar suas dores, oferecendo uma palavra de apoio e, mais importante, sendo um exemplo de como a espiritualidade pode ser uma fonte de força em tempos difíceis.


Capelania nos Presídios

Nos presídios, o trabalho de capelania é ainda mais urgente. Aqui, lidamos com pessoas que, muitas vezes, foram privadas de sua dignidade e de suas esperanças. A capelania dentro do sistema carcerário é uma forma de levar luz para quem já não acredita em recomeços. E, como parte de uma comunidade de matriz africana, carregamos a missão de resgatar essas pessoas através de rituais, orações e gestos simples que trazem de volta a sensação de pertencimento e de valor.


Este é um dos espaços onde a liderança é testada de forma mais intensa. O capelão que realmente faz a diferença é aquele que não se limita à teoria ou à busca de prestígio público, mas que se envolve diretamente com aqueles que mais precisam. É nos pequenos gestos de humanidade — na escuta, no respeito, no acolhimento — que o verdadeiro trabalho se revela. Aqui, mais do que nunca, precisamos mostrar que nossa fé está viva e ativa, guiando aqueles que estão no fundo do poço para uma nova chance de redenção e cura espiritual.


Capelania em Orfanatos e Creches

Nos orfanatos e creches, a capelania se transforma em uma oportunidade vital de oferecer não apenas orientação espiritual, mas também amor e acolhimento para crianças que, muitas vezes, enfrentam a vida sem o suporte de uma família estruturada. Essas crianças, muitas vezes, vêm de histórias de abandono, violência ou outras formas de vulnerabilidade. A capelania nesses espaços proporciona a elas não apenas uma conexão espiritual com os orixás e os ancestrais, mas também uma referência de cuidado, proteção e carinho.Como líderes de matriz africana, podemos realizar rituais simples e acessíveis que ajudam essas crianças a se conectarem com algo maior que elas mesmas. Histórias sobre os orixás, rituais de axé, canções tradicionais e até mesmo momentos de brincadeiras ritualísticas trazem conforto e segurança emocional. Quando uma criança em um orfanato ou creche se sente parte de uma comunidade espiritual, ela adquire não apenas esperança, mas também um senso de pertencimento. O trabalho de capelania é uma oportunidade para proporcionar um alicerce emocional e espiritual que pode acompanhá-las por toda a vida, ajudando-as a superar traumas e a construir uma vida mais plena e confiante.


Capelania nos Asilos

Nos asilos, onde os idosos muitas vezes enfrentam o isolamento, a capelania atua como um ato de dignidade e respeito aos mais velhos. Nesses espaços, as pessoas costumam sentir-se desamparadas e esquecidas pela sociedade. A capelania nos asilos se torna, então, um ato de reverência aos nossos ancestrais vivos, que têm tanto a nos ensinar e ainda assim, são marginalizados. A presença de um capelão ou líder espiritual de matriz africana nestes ambientes traz renovação de energia através de rituais de axé, banho de ervas, cantos e preces aos orixás.Além de proporcionar conforto espiritual, a capelania nos asilos reconhece a sabedoria dos mais velhos e os honra como pilares de nossa tradição. O contato com os orixás e com os rituais de axé revitaliza o espírito dos idosos, resgatando neles o sentimento de pertencimento e valorização que, muitas vezes, se perde. É um trabalho que promove a restauração de sua dignidade e uma lembrança de que ainda fazem parte de uma comunidade que os respeita e cuida.


Capelania em Albergues e com Pessoas em Situação de Rua

nos albergues e entre as pessoas em situação de rua, a capelania é uma manifestação poderosa de amor ao próximo e de prática genuína da espiritualidade. Pessoas em situação de rua vivem nas margens da sociedade, despojadas não só de posses materiais, mas muitas vezes de qualquer esperança. A presença de um capelão afro-religioso nestes ambientes, com gestos simples como oferecer uma bênção, distribuir alimentos ou realizar rituais de purificação, carrega um profundo simbolismo: é uma reafirmação de que essas pessoas, mesmo em suas condições de extrema vulnerabilidade, continuam sendo dignas de amor, respeito e dignidade.Rituais de cura, banhos de ervas, bençãos e orações podem ajudar a restaurar o senso de valor e a autoestima dessas pessoas. A capelania nestes contextos é um trabalho que vai além do auxílio espiritual; ela é uma forma de resgatar a dignidade humana. E mesmo que as pessoas em situação de rua pertençam a diferentes crenças, a capelania afro-religiosa pode ser um alívio espiritual e emocional, uma luz que brilha no meio das adversidades.


Capelania nas Empresas e Instituições Governamentais

A capelania também pode ser exercida em empresas e instituições governamentais, sempre mediante autorização. Esses ambientes de trabalho, muitas vezes marcados por pressões, competitividade e desafios diários, podem se beneficiar enormemente de uma presença espiritual que ofereça equilíbrio, bem-estar e uma pausa para reflexão. Como líderes religiosos, temos a oportunidade de trazer a sabedoria dos orixás para dentro desses espaços, promovendo atividades de renovação energética e mental, como rodas de conversa, rituais de cura e meditações.O papel da capelania em empresas e instituições governamentais também inclui aconselhamento e mediação de conflitos, promovendo ambientes de trabalho mais harmoniosos e colaborativos. Em tempos de tensão e incerteza, o capelão se torna um ponto de apoio, ajudando os trabalhadores a reconectarem-se com sua força interior e a se equilibrarem espiritualmente. O objetivo é não apenas o bem-estar do indivíduo, mas também a criação de uma cultura corporativa mais saudável, que valorize o ser humano em sua totalidade – mente, corpo e espírito.


Capelania nos Terreiros

Nos terreiros, o capelão já atua em um espaço naturalmente sagrado, mas sua função é manter a conexão viva com os ancestrais e garantir que a fé de nosso povo seja renovada em cada ritual. Aqui, a capelania se manifesta no cuidado com cada membro da comunidade, na preservação dos rituais de axé, na força das oferendas e nos gestos de carinho, como o acolhimento com comidas sagradas e rezas específicas.


Mas é importante que a liderança não se acomode no conforto do terreiro, confiando apenas na tradição. Não basta ostentar torços gigantescos e se mostrar em eventos de destaque. É necessário praticar a humanidade de forma contínua, demonstrando com atitudes diárias o que significa liderar com humildade e respeito. Nossa responsabilidade é ir além dos portões do terreiro e levar nossa fé e nossos valores para aqueles que mais necessitam.


Concluímos então que exercer a capelania em diferentes espaços, enquanto liderança de uma comunidade de matriz africana, é um serviço de cuidado e de preservação da fé, que respeita a pluralidade religiosa e se preocupa com o bem-estar de nosso povo. Em cada gesto simples, seja uma palavra de conforto, um banho de ervas ou uma invocação ou oração aos orixás , carregamos nossa tradição e nosso axé, levando força e esperança onde quer que estejamos.temos. necessidade de nos despirmos de nossos orgulhos,vaidades,deixemos a ociosidade e a preguiça e vamos praticar nosso verdadeiro papel na vida somos apenas o que fazemos e construímos,se não realizamos nada durante essa trajetória ,passamos pela vida sem viver de verdade então não fomos nada.


A verdadeira liderança não se limita ao uso de símbolos ou à busca de reconhecimento público. Ela se manifesta na prática cotidiana de humanidade, no exemplo que oferecemos a todos que nos seguem, e na disposição de sair de nossa zona de conforto para cuidar dos mais vulneráveis. Seja nos hospitais, escolas, quartéis, presídios,orfanatos, asilos, creches, albergues, empresas, pessoas em estado de vulnerabilidade, situação de rua e nossos terreiros. A capelania é uma forma de manter viva a conexão com o sagrado, fortalecendo nossa comunidade e cuidando de cada ser humano com respeito e compaixão.



Dr. Aurélio de Odé, Babalorixá - AxéNews

Dr. Aurélio de Odé, Babalorixá

Eu sou Paulo Aurélio Carvalho Lopes, nasci em 12 de agosto de 1968, em Simões, Piauí. Sou o primogênito de uma família de seis irmãos, criado por minha mãe solo, Maria do Socorro Carvalho e o apoio de meus avós Dona Maria e Seu José... [+ informações do Dr. Aurélio de Odé, Babalorixá]



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