Terreiro Òbá Labí institui a Honraria Xangô Oba Labi, voltada para a comunidade afro-brasileira
- WR Express
- 6 de fev.
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Atualizado: 13 de fev.
O dia 1 de fevereiro de 2025 irá compor a memória do território Òbá Labí

✅ 06/02/2025 | 11:09
O terreiro Òbá Labí completou 10 anos de aquilombamento em janeiro, lançando a primeira condecoração ancestral, a honraria Xangô Oba Labi. O dia 1 de fevereiro de 2025 é uma data que irá compor a memória do território Òbá Labí.
Os 10 anos do Terreiro foram celebrados neste chão-quilombo reunindo passado, presente e o futuro das muitas vivências que contribuem para a preservação da história negro-brasileira.
A celebração que contou os 10 anos do nascimento deste quilombo em Guaratiba e todos os anos de vida de Pai Thiago de Xangô, nascido em berço ancestral, cedeu o protagonismo do evento a honrar a vida, a memória e a história da matriarca Mãe Iyá Baba Soumim, senhora Acidalia dos Santos. Mãe Soumim de Oxaguiã, que é a atual sacerdotisa do Ilê Igbo Asé Oyá Balé Oxossi Oxaguiã de mãe Ilka de Balé - 1948, descendentes do Afonjá/BA.
“Eu botei minha semente aqui, que é semente de Oxalá. E os Orixás são únicos, não tem mais forte, mais sabido, mais violento. É uma força única. Aqui plantei esse axé, que hoje completa 10 anos. Eu estou honrada. Muito honrada mesmo. Porque é muito bom para qualquer Babalorixá ou Iyalorixá que esteja aqui ou que será você ser reconhecida pelo seu próprio filho. Já não é mais uma semente, é uma árvore.” declarou Mãe Soumim.
Outro Ponto fundamental das atividades comemorativas foi a entrega da 1ª honraria Xangô Oba Labi, uma condecoração ancestral voltada para nosso povo incansável na preservação e salvaguarda da memória negra.
“Uma premiação sem protocolos de interesse e domínio, um reconhecimento que parte de nós para nós, das nossas mãos de axé, dos territórios que realmente instituem a memória negra deste país, uma rasura nos prêmios puramente ocidentocentricos”, afirma Iya Katiuscia de Yemanjá.
O Alaba Pai Liò, do culto a Egungun, descendente do Afonjá e o ilê Agboula (Itaparica/BA) foi homenageado com a honraria por ser uma das mãos que fundamentaram o axe do Terreiro Òbá Labí. Um reconhecimento de origem, que muitos espaços silenciam.
A importante parceria de luta e resistência entre casas de axé do território também foi celebrada com homenagens ao Ilê Asé Ofá Layo e suas matriarcas Mãe Ju de Oxossi e Mãe Monique de Logunede, ao Ilê Asé Adajá Ogum Ajá, de Pai Togun, e à Casa de Caridade Pai Joaquim de Angola (CCPJ) e seu sacerdote Pai Willian de Ogun. Ambos territórios de Guaratiba que têm mostrado a potência comunitária da memória afro-brasileira e os projetos sociais.
“É uma honra estar aqui. Conheço muito do seu trabalho (Pai Thiago e Iyá Katiuscia) e um dos trabalhos principais é fazer esta união de quilombo. Eu sou de um terreiro de umbanda e estou num terreiro de candomblé. Isto é resistência. Isto é sobrevivência. Porque só existe resistência se houver união. Ainda mais neste momento que estamos enfrentando erseguições e destruição de terreiros. E a gente precisa se unir. Parabenizo esta união de quilombo.” declarou Pai Willian, grande liderança social e ancestral do Jardim Maravilha.
Ainda durante as atividades o quilombo mostrou seu livro de renascidos e retornados, documento histórico da casa com o registro dos nomes nascidos neste chão e chegados neste quilombo. Uma devolução da identidade ancestral.
O evento foi enriquecido pelas presenças essenciais das sacerdotisas Iya Luizinha de Nanã, da Casa de Nanã, e Iya Roberta de Yemonja, do Instituto Águas do Amanhã, promotoras de cultura e resistência na região.
A cerimônia ainda homenageou as figuras da Vereadora Thais Ferreira e de Juliana Drumond - militante dos direitos humanos, assessora parlamentar da deputada Renata Souza e dirigente sindical. Este gesto de homenagem ratifica o elo entre territórios tradicionais e política, além da importância da aproximação dos povos de axé a parlamentares e figuras públicas comprometidas com uma agenda de resistência e promoção da cultura de axé no Brasil.
A tarde e a noite se transformaram em uma reunião vibrante de comunidades tradicionais, reunindo seus sacerdotes, filhos e filhas em um movimento familiar, coletivo e circular de resistência, culminando os 12 dias de xangô com seus 12 Amalás.
A celebração dos 10 anos do terreiro Òbá Labí, marcada pelo lançamento da honraria Xangô Oba Labi, é um testemunho da força e resiliência das comunidades tradicionais. Como bem disse Mãe Soumim, “aqui plantei esse axé, que hoje completa 10 anos”, simbolizando não apenas o crescimento de um espaço sagrado, mas também a união e a resistência diante das adversidades.
“Estarei a frente desta casa até quando Xangô permitir.” declarou o babalorixá
Pai Thiago de Xangô.
Ao final das homenagens, a grande fogueira foi acesa para receber a ancestralidade de Xangô Oba Labi e toda nossa linhagem familiar, salvaguardando a memória tradicional de nossa cultura e religiosidade. Assim, a celebração não é apenas um marco temporal, mas um convite à continuidade da luta pela preservação da cultura afro-brasileira, onde cada semente plantada se transforma em uma árvore frutífera, nutrindo as gerações que virão.
Confira alguns registros das cebrações:
Fotos: Guilherme Moraes | @moraes.rzn
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