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Crianças dentro das Casas de Axé

Por: Mãe Manu

27/04/2023 | 17:33


Olá, meus queridos,

Saudações tradicionais. Que Oxum abençoe imensamente a cada um de vocês. Bom, estamos aqui para trazer mais um assunto, a meu ver, importantíssimo para nós, povos de terreiro e de matrizes africanas. Não é de hoje que vemos casos de mães que sofrem perseguições por levarem seus filhos para os terreiros de Umbanda e de Candomblé. Costumes que eram ensinados quando éramos crianças, hoje em dia se tornam cada vez mais alvo de denúncias, de perseguições e de discursos de ódio velado, baseando-se no "direito da criança".




A grande verdade é que precisamos entender que hoje em dia temos um grande legado de pessoas que são contra a nossa religião, estão instalados em vários setores de supervisão do menor, o que acaba implicando negativamente no direito de ir e vir e no direito da educação, porque educação religiosa também faz parte da educação para um filho. Uma vez que você tem que zelar pela saúde, você tem que zelar pela sua matrícula na escola, você tem que zelar pela alimentação, pela moradia e pela educação moral e ética. Por que se torna tão arbitrário uma mãe também ofertar para o seu filho uma educação religiosa? Acontece que nós não vemos pessoas de outras religiões serem perseguidas por estarem levando seus filhos que são menores de idade para uma religião, mas parece que virou moda perseguirem o nosso povo.


Então, é importantíssimo que possamos ocupar todos os lugares, inclusive os lugares na educação, nas escolas privadas e públicas, assim como também nos conselhos tutelares, na parte de assistencialismo social, na psicologia, terapias, médicos em geral, porque infelizmente o discurso de racismo religioso velado muitas vezes tem se aplicado como um direito da criança. Agora precisamos verdadeiramente de políticas mais fortes, políticas que respaldem as mães, decretos que determinam que a mãe tem direito de oferecer para o seu filho a religião que ela pratica, para que cada vez menos sejamos alvo de intolerantes que tentam manipular o nosso emocional, tirando nossa estabilidade, tentando fragilizar a nossa fé e impedindo a permanência dos nossos filhos em nossos cultos de matrizes africanas de povos originários.


Em contrapartida, eu gostaria de falar aqui sobre a importância de um filho nosso ser criado dentro de um terreiro. Dentro de um terreiro, essa criança vai aprender o que é tomar benção aos mais velhos, como antigamente fazíamos com os nossos avós: tomávamos a benção a vovó e a benção ao vovô. Acontece que, na atualidade, a criança é desprovida de valores que eram tão importantes e que serviam tanto de base para construção de um ser humano mais doutrinado e mais consciente das suas responsabilidades. Tudo porque, hoje em dia, pais e mães precisam trabalhar fora para gerar o sustento da família. Afinal, tudo está muito caro.


Quando a criança é criada dentro de um terreiro, aprende a ter empatia pelas causas sociais. Ela aprende a dividir aquilo que ela tem a mais com aqueles que tem menos. Ela aprende a respeitar seus mais velhos, ela entende que, na hora que se pede silêncio, é necessário que se faça esse silêncio. Ela aprende a esperar. Ela entende que não adianta bater pé. Não adianta querer do jeito dela, pois, todos são iguais e ninguém tem mais ou menos direito que o outro.


Outra coisa importantíssima que se aprende dentro do terreiro, é a respeitar aqueles que são diferentes. Dificilmente você vê uma criança que é criada dentro do terreiro ter algum tipo de racismo, renegar o seu irmãozinho de santo porque ele possui alguma deficiência física, auditiva, motora ou visual. Você não percebe essas crianças com olhares recriminando o diferente. Essas crianças crescem entendendo que as pessoas se amam e que o amor precisa ser respeitado. Sim, que venhamos a falar sobre sexualidade e orientações sexuais - isso não tem a ver com a conversa sobre sexo, que fique claro que são coisas diferentes - simplesmente porque eles veem dentro daquele ambiente religioso, uma família constituída onde as pessoas se respeitam, onde as pessoas podem até entrar em algum momento em discordância, porém nunca com desrespeito ou agressividade, pois onde existe Orixás, Jesus e povo cigano, habita a ordem, a disciplina e a hierarquia.


Então, um pedido que faço é para que cada mãe e pai tenham coragem e levem seus filhos para dentro das suas casas religiosas, ensinem eles esses valores que aprendemos dentro dos nossos terreiros, que amanhã e depois possam multiplicar isso para a sociedade. Afinal, as crianças e jovens são a nossa esperança. Percebemos a cada tempo, que o mundo anda tão corrido que até valores e sentimentos que eram tão importantes vão ficando obsoletos. Cada vez mais perdidos na era digital, que muito nos ajuda, mas também muito nos aprisiona. Levem seus filhos. Ensinem eles a respeitar as ordens, a disciplina, pois eu tenho certeza que lá na frente, os frutos colhidos por nós serão prósperos.


Saravá! Optchá! Salve o povo de axé!




Mãe Manu - AxéNews

Mãe Manu

Mãe Manu da Oxum é Bisneta de Pai Nelson que morava no Bairro Boa Esperança e trabalhava com Preto Velho Pai Tomé. Neta espiritual de Mãe Ivonete do Ogum (desencarnada), nordestina, trabalhava nos fundos de sua casa e era costureira. Seus Guias chefes eram o Velho Rei do Congo, Caboclo 7 Flexas, Cigana Carmencita e Cigano Wladimir. [+ informações de Mãe Manu]


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