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Destino e a ancestralidade

Por: Mãe Kátia



17/06/2024 | 08:56


Sem dúvida, a ancestralidade é algo que permeia diversas culturas ao redor do mundo, nas quais as pessoas prestam honras e reverências através de rituais, festas, celebrações e cerimônias religiosas. Na cultura Yorùbá, essa tradição está fortemente presente, com uma rica devoção ancestral que forma e guia as práticas sociais e religiosas.




Observemos este provérbio africano: "O homem pisa no destino com a herança dos seus ancestrais." As heranças ancestrais incluem valores genéticos, biológicos, emocionais e espirituais que influenciam a identidade, as características físicas, espirituais e emocionais, assim como as habilidades e o comportamento do indivíduo. O destino de uma pessoa é, em parte, um reflexo das escolhas e ações de seus antecessores. Cada geração contribui para o tecido da história e influencia o caminho das futuras gerações.


Há uma interconectividade entre o passado, o presente e o futuro, onde o ser humano está em constante diálogo com suas raízes e sua história, manifestando a hereditariedade ancestral como parte integral e complexa da identidade humana, influenciando o destino e o caminho de cada ser. No entanto, poucos têm acesso a esse conhecimento, que amplia nossa consciência e nos fornece ferramentas de autoconhecimento e cuidados espirituais, possibilitando entender nossas limitações e atraindo equilíbrio mental, emocional, social e espiritual. Esse conhecimento permite romper alguns ciclos que sucedem a várias gerações e fortalecer os laços positivos e construtivos de nossa árvore genealógica.


Na religião tradicional Yorùbá, algumas das divindades que cultuamos para nos conectar com nossos ancestrais são: Egúngún, Gẹ̀lẹ̀dẹ̀ e Ìyàmi Òṣòròngà. Ao cultuarmos essas forças, apaziguamos discórdias, pragas familiares e ciclos que não se encerram, além de despertarmos os aspectos positivos de toda essa raiz de saberes que trazemos, beneficiando-nos com a consciência, a profundidade e a responsabilidade dos passos seguintes que deixaremos como herança para nossos descendentes.


Como gosto muito de histórias, vou compartilhar como exemplo para nossa didática de estudo:


Maria José, avó de Ana Clara, conta à neta que sua bisavó (trisavó de Ana) mencionou um pentavô que, ao descobrir a gravidez da única filha, fruto do amor dela por um homem escravizado, ficou tão enfurecido que a deserdou e lançou uma maldição sobre ela. Ele afirmou que todas as futuras gerações de mulheres descendentes dela não encontrariam felicidade no amor. Atualmente, todas as mulheres dessa família são fortes, decididas e empoderadas. No entanto, no âmbito amoroso, nenhuma delas alcançou êxito.


A história que acabei de contar é fictícia, mas retrata uma situação possível nas sete gerações passadas que carregamos.


Agora vou contar outra história:


Marcos tem uma habilidade nata para liderar. Desde pequeno, ele conseguia organizar todos da turma e trazia muitas ideias criativas, o que sempre o colocava em destaque. Na família, há pelo menos três gerações conhecidas, todos foram empreendedores com resultados extraordinários. Marcos traz consigo a herança emocional e conectiva de suas gerações anteriores. Ele não precisa se esforçar para ser um bom líder; isso já está dentro dele, basta saber direcionar positivamente para seu sucesso.


Quando olhamos dessa forma, começamos a entender a influência positiva e negativa que trazemos como herança, destacando a carga energética espiritual e emocional que recebemos dos nossos antepassados. Ao cultuarmos divindades que nos conectam aos nossos ancestrais, podemos agir retroativamente, eliminando obstáculos que dificultam nosso progresso, resolvendo antigos conflitos familiares e restaurando o equilíbrio, bem como potencializando os aspectos positivos e construtivos dos anteriores.


Cultuar nossos ancestrais é manter viva a relação de respeito e reverência àqueles que vieram antes de nós e que habitam nosso ser, pois: "Somos o que somos, porque estamos em cima dos ombros daqueles que vieram antes de nós." (Provérbio Yorùbá).


Para iniciar o processo de conexão com essa força ancestral, sugiro cultivar o hábito de, todas as manhãs, ao realizar suas orações matinais, pedir e invocar as bênçãos de todos os seus ancestrais antes de iniciar o dia. Certamente, você perceberá a diferença em sua vida ao fazer isso de forma consistente.


Que possamos receber as bênçãos daqueles que residem em nosso interior, promovendo a harmonia e fortalecendo nosso desenvolvimento neste mundo, de modo a preparar o caminho para as gerações futuras.




Mãe Kátia - AxéNews

Mãe Kátia

Mãe Kátia é sacerdotisa dirigente do Templo Luz do Amor Divino, Ìyálórìṣà coroada na Umbanda e iniciada nos cultos afro-brasileiro e tradicional Yorubá. Além de ser a fundadora do Projeto Social Mensageiros do Amor, que já atendeu mais de 300 famílias proporcionando a melhoria da qualidade de vida em suas comunidades e levando dignidade, respeito e humanidade, a Ìyálórìṣá tem um grande histórico acadêmico: possui formação em psicanálise com ênfase na ciência da religião e nas relações do homem com o universo consciente e inconsciente e graduação em metafísica da saúde, cromosofia, cromologia e em cromoterapia. [+ informações de Mãe Kátia]


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