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Em entrevista ao AxéNews, Marcelo Varanda fala sobre o espetáculo que promete emocionar o público dia 13, na Portela

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    WR Express
  • há 3 dias
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Atualizado: há 1 dia

"Marcelo Varanda Canta Umbanda" chega a sua terceira edição


06/04/2025 | 15:15


Na batida sagrada dos atabaques e no coração do samba, o espetáculo “Marcelo Varanda Canta Umbanda” chega à quadra da Portela como um verdadeiro encontro entre espiritualidade, música e tradição no próximo domingo, dia 13 de abril. Esta será a terceira edição do espetáculo.


Em entrevista à AxéNews, Marcelo fala sobre a emoção de se apresentar em um espaço tão simbólico, revela os bastidores do processo criativo e destaca as parcerias que fortalecem o projeto. Com repertório que homenageia Exus, Pombagiras e o povo da malandragem, a nova edição promete ser inesquecível.


Confira a entrevista completa!


AxéNews: Marcelo, o projeto “Canta Umbanda” já emocionou muita gente com sua força espiritual e musical. O que essa edição na quadra da Portela representa para você, especialmente por ser em um espaço tão simbólico para o samba carioca?


Marcelo Varanda: Representa a realização de um sonho. Cantar em uma casa que tem uma referência musical do tamanho da Portela, é de uma responsabilidade enorme. Casa de Clara.Nunes, Monarco e tantos outros nomes que ainda nos influenciam é maravilhoso. Tenho certeza que será um domingo de.muita emoção


AxéNews: Você sempre se destacou por unir a devoção religiosa com a excelência musical. Como surgiu sua paixão pelas cantigas de Umbanda e em que momento você decidiu transformá-las em um espetáculo como esse?


Marcelo Varanda: Eu vim de uma escola de Umbanda que sempre se preocupou muito com o entrosamento musical dentro do terreiro, com a harmonia dos pontos e curimbas cantados. A Escola de Caboclo Mirim preza muito por isso e, religiosamente falando, eu fui criado dentro dessa disciplina musical.

Eu nasci e fui criado em Santa Teresa. Meu pai tinha um aviário no Estácio. Sempre vivi por ali e, desde muito novo, conheci o mestre Ciça, o mestre Beloba, e aprendi com eles a tocar instrumentos. Fui ritmista, desfilei em várias escolas de samba e me tornei diretor de harmonia de escola de samba. Esse cargo tem a responsabilidade de garantir o perfeito entrosamento do canto com o ritmo dentro de uma agremiação.

Então, desde muito novo, eu vivi dentro da música. Como fui obrigado a entender a parte técnica da música — por causa, inclusive, da escola de samba — resolvi fazer essa junção. Claro, tive um apoio muito grande do Sandro Luiz, em São Paulo. Estive lá, ele já estava nesse processo e me incentivou bastante.

Graças a Deus, temos músicos maravilhosos, todos da religião, cada um de uma casa, de uma tenda, e que são amigos, pessoas que estão sempre juntas. Resolvemos partir para este projeto. Graças a Deus, vamos para o terceiro espetáculo, esse com uma capa diferente, e tenho certeza de que dará tudo certo. O trabalho e os ensaios técnicos estão bons e a todo vapor para apresentarmos o melhor possível no próximo dia 13.


Foto: Reprodução | Redes Sociais, Marcelo Varanda
Foto: Reprodução | Redes Sociais, Marcelo Varanda

AxéNews: O show envolve tecnologia de ponta em som e iluminação, criando uma experiência sensorial intensa. Como é o processo criativo para alinhar essa parte técnica ao conteúdo espiritual das apresentações?


Marcelo Varanda: A gente faz reuniões com a produção do evento, dirigida pelo Rômulo Teixeira (Rômulo de Ogum), com a produção musical, dirigida pelo Matheus, e também realizamos encontros após a escolha do repertório. Procuramos alinhar os momentos certos para que tudo fique bem entrosado, para que, quando o público veja aqueles efeitos de luz, eles se encaixem com a música e com a forma como estamos apresentando aquela canção.

Tudo é feito com muita técnica, com muitas reuniões, com muita discussão no papel. Consequentemente, tudo isso é repassado para a equipe responsável — os técnicos contratados que estarão conduzindo os momentos de iluminação, fumaça e efeitos especiais.

Até mesmo nas músicas, há diferenças: algumas pedem um timbre mais forte na percussão; outras, um destaque maior no violão, no teclado, no cavaquinho, na bateria. Por isso, antes mesmo do show, depois que tudo estiver instalado, fazemos a passagem de som. É nesse momento que construímos o “mapa” de cada música. Cada uma tem seu próprio mapa, e o técnico sabe, por exemplo, que em determinada música precisa aumentar o atabaque; em outra, entra a luz vermelha, depois a azul, a amarela... Enfim, o processo é bem estudado e preparado com muito profissionalismo.


Foto: Reprodução | Redes Sociais, Marcelo Varanda
Foto: Reprodução | Redes Sociais, Marcelo Varanda

AxéNews: O repertório do espetáculo mergulha nos arquétipos dos Orixás, Exus, Pombagiras e o povo da Malandragem. Como você escolhe as músicas para que elas contem essa história de fé e resistência?


Marcelo Varanda: Nesse novo show na Portela, resolvemos seguir um novo caminho, digamos assim — sem desvirtuar do que fizemos anteriormente. Os dois primeiros shows foram “Marcelo Varanda Canta Umbanda”, nos quais cantamos para os Orixás e para as entidades (caboclos, pretos-velhos, boiadeiros, malandros...).

Como o show na Portela terá um palco em 360 graus — um palco ali no meio, bem próximo da plateia — resolvemos fazer algo mais “povão”. E quem é o povão da nossa religião? São os nossos Exus, as nossas Pombogiras, os nossos malandros. Então, estaremos fazendo um passeio, um passeio da Encruza à Calunga. Um passeio que irá homenagear os nossos Exus, Pombogiras e o povo da malandragem.

A gente sempre procura escolher cantigas de minha autoria — digamos que metade do repertório é meu — e a outra metade são aquelas curimbas que já estão em domínio público ou de compositores amigos, para as quais, claro, pedimos licença antes de levar para o show.

Porque é uma experiência diferente cantar uma música num terreiro e cantar essa mesma música num espetáculo, num show. Então, temos o cuidado de, se for cantar uma música, saber quem é o autor, pedir autorização — até porque pode ter sido uma entidade que passou a canção, e ela pode não permitir.

Temos todo esse cuidado na escolha das músicas. Há músicas muito conhecidas, outras mais ou menos conhecidas, e outras que queremos apresentar ao público.


AxéNews: Você contará com participações de grandes nomes como Tião Casemiro e Gabriel Gogó de Ouro. Como foi reunir essa equipe e o que o público pode esperar desses encontros no palco?


Marcelo Varanda: A Umbanda tem muita gente talentosa. A música da Umbanda merece ser ouvida, ser apresentada ao grande público também. Assim como em outras religiões, que têm suas bandas e ministérios, a nossa também merece espaço — todas as religiões têm uma apresentação musical voltada para o grande público. A curimba é a nossa reza cantada, assim como os louvores em outras tradições.

A gente tem grandes nomes. Eu brinco e falo “MPU – Música Popular de Umbanda” (risos). O Tião Casemiro é uma das nossas maiores referências — ele é meu padrinho de casamento, inclusive — então é um nome que é um verdadeiro ícone para a gente. O Gogó de Ouro representa a nova geração de músicos e compositores da Umbanda, tem muitos seguidores e é um ótimo garoto. E tem também o Max Madeira, um jovem que está se destacando nos Festivais de Umbanda. Ainda não tive a oportunidade de participar dos festivais com ele, mas ele vem se destacando nessa nova geração.

Então, a gente procura, em cada espetáculo, convidar dois ou três artistas que fazem parte desse caminho da musicalidade. Como foi no meu primeiro show, com a participação do Zé Carlos de Oxóssi e do Carlinhos de Xangô; no segundo, vieram o Pai Paulo Roberto, a Verônica Vasconcelos e o Rômulo de Xangô. E agora estou trazendo o Tião Casemiro, o Gabriel Gogó de Ouro e o Max Madeira para subir ao palco com a gente — sempre com o objetivo de agregar e oferecer o melhor para todos que estiverem ali.


AxéNews: O projeto tem o envolvimento de grupos como Risca o Chão, Aruandê e o Coletivo Kalundu. Qual a importância dessas parcerias para a construção desse espetáculo coletivo?


Marcelo Varanda: O Risca o Chão e a Aruandê são as duas produtoras responsáveis pelo “Marcelo Varanda Canta Umbanda”. Risca o Chão também dá nome à banda que nos acompanha. Portanto, essas duas produtoras são as responsáveis pelo show.

O Coletivo Kalundu é uma parceria que estamos desenvolvendo desde o segundo show, lá na São Clemente, com o Pai Caio, que tem sido um grande parceiro e amigo na divulgação e em todo o processo. E o projeto continua sempre aberto a novas parcerias. Isso é muito importante, porque ninguém caminha sozinho.

É um espetáculo novo — estamos indo para a terceira edição — então temos a expectativa de firmar muitas parcerias que venham a somar nesse projeto. A parceria é fundamental, pois divide responsabilidades e nos ajuda no processo, que, sem apoio, pode se tornar muito desgastante e cansativo.

Mas temos a esperança e a expectativa de que, a partir desta edição, as parcerias comecem a crescer — e que grandes espetáculos estejam por vir.


Foto: Reprodução | Redes Sociais, Marcelo Varanda
Foto: Reprodução | Redes Sociais, Marcelo Varanda

AxéNews: Além da apresentação na quadra, existem planos de levar o “Marcelo Varanda Canta Umbanda” para outras cidades ou regiões? Há novidades vindo por aí?


Marcelo Varanda: Planos, sempre temos. Já temos, inclusive, um espetáculo confirmado para outubro, na Arena Bangu — que tem capacidade para mil pessoas. Estamos levando esse espetáculo para a Zona Oeste, e vai ser um show 100% popular. Esse é o nosso perfil: o povão. Nada contra outras propostas, mas o nosso foco é esse público que está com a gente, cantando, vibrando e se emocionando.

Um projeto do nosso tamanho requer sempre parcerias, necessita de equipes — e vamos ver como as coisas caminham. Quem sabe a apresentação na Portela alavanque a visibilidade e traga novos parceiros? Porque sair do eixo Rio de Janeiro é mais complicado.

Temos esse desejo e, até (usando uma palavra mais comercial), temos "mercado" para sair do Rio. Mas, para isso, o projeto precisa estar bem solidificado. Por isso, as parcerias são tão importantes.


AxéNews: Você tem uma carreira sólida e respeitada. Como tem sido equilibrar o crescimento artístico com a responsabilidade de representar uma fé e uma cultura que ainda enfrentam tanto preconceito?


Marcelo Varanda: Tem momentos em que ficamos cansados, mas a equipe é muito sólida. Temos uma galera boa na produção e procuramos, principalmente nessa reta final, dividir as responsabilidades da organização. Todos têm seus compromissos espirituais, cada um tem sua casa religiosa. Tanto que todas as datas de ensaios e reuniões são marcadas considerando um dia em que não haja trabalho espiritual na casa de ninguém. Então, com um pouquinho de sacrifício e organização, a gente consegue dar conta das diversas demandas do dia a dia: trabalho, parte religiosa e artística.

Com relação ao preconceito, infelizmente, a gente acaba vendo isso dentro da nossa própria crença, dentro da nossa própria religião. Um preconceito interno — e eu acho que esse é ainda pior que o externo. O preconceito externo a gente já conhece, sabe que o “cara” tem preconceito com a gente, então nem chega perto. O problema é quando você tem que enfrentar o preconceito de dentro.

Quando você pensa que a pessoa tá ali contigo, que vai te apoiar, e não é isso que acontece. Mas se você tem um conteúdo sólido e um coletivo para chegar junto com força… é como diz o velho ditado: “uma andorinha só não faz verão”.

O preconceito externo não atrapalha tanto a gente. Ele existe, claro, mas é estilo Zagallo: “vão ter que me engolir”. O que realmente abala é o preconceito interno.

Eu tenho 53 anos dentro da religião, e ainda escuto, até hoje, pessoas dizendo que “é falta de respeito fazer isso em quadra, em bar…”. Gente! Eu digo que o nosso swing, o swing das nossas batidas, vem lá dos nossos ancestrais, da África. Mas muitos dos pontos que a gente canta hoje vêm do samba de roda, lá de cima dos morros, dos terreiros que faziam samba de roda.

Então, a nossa musicalidade é alegria. É com essa alegria que a gente expressa a nossa fé. É assim que exercitamos a nossa espiritualidade. Esse é o meu pensamento — e não sou contra quem pensa diferente. Cada um tem sua forma de pensar. Mas acredito que esse preconceito interno ainda atrapalha um pouco a gente a difundir e mostrar a musicalidade da Umbanda.


Serviço:

Marcelo Varanda Canta Umbanda - terceira edição

Data e hora: 13 de abril, 15h

Local: Quadra da Portela

Endereço: R. Clara Nunes, 81 - Madureira, Rio de Janeiro


Para conhecer um pouco mais do trabalho de Marcelo Varanda, acesse seu instagram: @marcelovarandaoficial1

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