Ela lembrou que a violência contra as mulheres nesses últimos tempos aumentou sensivelmente
23/12/2022 | 00:00
O AxéNews tem a satisfação de apresentar a entrevista com a dirigente do Grupo IRCA (Casa Espírita Irmãos de Caridade), Mãe Mônica D´Oyá. Entre os assuntos abordados, Mônica falou como começou sua trajetória na umbanda, o papel dos sacerdotes no acolhimento às vítimas de feminicídio, e a presença das mulheres nas coordenações de casas de santo.
AxéNews: Como começou a sua relação com a Umbanda?
Mãe Mônica D´Oyá: A minha relação com a Umbanda começou muito cedo, o primeiro contato foi em Ramos, na Casa da Mãe Geraldina – Templo Espírita São Francisco de Assis, indo com minha mãe, pois éramos vizinhas do Terreiro.
No entanto, comecei muito cedo devido a problemas espirituais com 15 anos, tinha incorporações involuntárias, Mãe Geraldina cuidou de mim, ai realmente começou o meu caminho na Umbanda, freqüentando e ajudando em pequenas coisas na Casa. Depois conheci Pai Elcyr Barbosa e ai começou meu desenvolvimento espiritual.
AxéNews: Em seu depoimento durante o ato inter-religioso pelo enfrentamento à violência contra mulheres, em agosto deste ano, a senhora reforçou a necessidade do acolhimento. Como a Umbanda pode contribuir para que essas mulheres, vítimas de diversas formas de violência, se sintam mais seguras e amparadas?
Mãe Mônica D´Oyá: A violência contra as mulheres nesses últimos tempos aumentou sensivelmente e é obrigação de todo Sacedorte, não importa segmento religioso acolher este mulher e sua família, para garantir o maior bem precioso determinado por Deus – A VIDA.
A Umbanda é uma religião de acolhimento, o ideal era criar locais de acolhimento a estas famílias vitimizadas, no entanto, não é a realidade financeira da maioria das Casas Espirituais. Logo, dentro de cada realidade daquela Casa é fazer o acolhimento, seja ele físico (ajudando obter nova moradia, emprego e se puder inclusive financeira); a ajuda espiritual, renova a pessoa buscar novas forças e foco, a fé é um alicerce para enfrentar novos caminhos, porem devemos conciliar as duas coisas e fundir em um único objetivo.
AxéNews: Ainda neste evento, a senhora também afirmou com vigor que “só construiremos uma sociedade forte e sadia respeitando o próximo através do amor”. Diante de tempos difíceis, onde o amor e o respeito têm sido esquecidos freqüentemente, quais são os maiores desafios para as religiões como a Umbanda nesse processo de construção de uma sociedade forte e sadia?
Mãe Mônica D´Oyá: A construção de uma sociedade forte e sadia, tem que ter como base RESPEITO e AMOR, e devemos começar pelo caminho mais simples “as sementes” – nossas crianças. Ensinando elas os princípios do respeito, dignidade, honestidade e amor. Elas aprendendo estes atos, também irão aprender a respeitar, acolher e entender as diferenças do mundo. A pressa do mundo moderno deixou de valorizar estes princípios basilares, trocando por coisas que não passaram por um processo de maturação.
A minha geração teve uma educação diferente, era importante RESPEITAR e acolher as ordens dos mais velhos, e acima de tudo entender que estes exalavam experiência de vida. Nas Religiões de Matriz Afro, este valores ainda são importantes, no entanto, quando o individuo não teve esta educação, tem choque cultural e ai o convívio religioso se perde, porque esta pessoa nunca entendeu este valores e o valor de uma NÂO educador.
E quando esta em uma casa Religiosa, você esta lá para aplicar estes valores, e usar outros dogmas de vida, como disciplina e hierarquia.
AxéNews: A senhora é dirigente do Grupo IRCA (Casa Espírita Irmãos de Caridade), que esse ano completou 28 anos de fundação. Desde 1994, o que a senhora pode destacar de seu sacerdócio a frente do grupo até aqui?
Mãe Mônica D´Oyá: No sacerdócio, o destaque é persistência, resistência e resiliência, pois sem eles desistimos da missão.O caminho é árduo, complexo e às vezes ainda há os espinhos da ingratidão.
A maior recompensa é a fidelidade, ter um corpo mediúnico que 40% que esta comigo há mais de 15 anos, alguns destes já fizerem bodas de prata.
Agora marco maior é Pai Benedito D Angola, e seus afilhados espalhados por este Brasil. Pois este Preto Velho, através de suas mandingas já ajudou mais 50 mulheres a realizar o maior projeto de vida – ser mãe.
No Grupo IRCA, a sessão que mais enche é deste querido e amado Preto Velho, ibope é ele, não Exus e Pombagiras. Afinal nada como conselhos e abraços de uma Preto Velho, é amor puro.
AxéNews: Hoje vemos a presença feminina cada vez mais ampla em todas, ou quase todas, as funções nas religiões de matriz africana. A senhora acredita que os tempos mudaram e evoluíram, no sentido de assimilar que a mulher faz parte do corpo mediúnico de um terreiro em igualdade com os demais?
Mãe Mônica D´Oyá: Eu não posso dizer para você que hoje a presença feminina nas religiões de Matriz Africana é grande, este fato sempre foi marcante, afinal ela começou sendo totalmente matriarcal, com o tempo os espaços foi ocupado de forma isonômica pelos dois pólos – feminino e masculino.
A diferença de uma Dirigente feminina é a visão, somos leoas com crias, lutamos e fortalecemos nossas Casas desta forma e as vezes somos galinhas acolhedoras, colocamos nossos filhos em baixo de nossas asas e transmitimos amor e conforto. O acolhimento de um Dirigente masculino é diferente, geralmente mais pragmático, direto. A mulher usa a força primária que vem direto das forças de nosso útero, fortalecidos pelas grandes Iabás.
AxéNews: Como a senhora está vendo hoje a evolução da Umbanda e o surgimento de novidades na religião, como o crescimento da utilização das mídias sociais?
Mãe Mônica D´Oyá: A Umbanda é uma religião mutável e adaptável ao seu meio, absorve o que esta a seu redor. O problema não é as novidades, é porquê desta novidade, qual é base, qual o porque, logo fundamento. Pois se crescente a esta árvore chamada Umbanda, positivamente, maravilhoso, senão, acho desnecessário.
Uso uma máxima, cada um faz em sua Casa o que quer, pois este Dirigente, vai responder por seus atos. Pois como não temos codificadores, não podemos definir como certo ou errado, quaisquer coisa. Temos fundamentos básicos, porem há muitas vertentes de Umbanda, algumas são bem polemicas, no entanto há adeptos, nem todos se sentem feliz com coisas cheias de regras e tradições basilares, precisam de brilho e barulho para se sentirem completo.
E com advento das mídias sociais, a informação e desinformação corre mais rápido. Como já citei a pressa é a máxima neste mundo moderno, e um bom religioso (de qualquer segmento) deve ser paciência, estudo e resiliencia. E bom adepto de Matriz Africana, a vivência dentro do Terreiro é a maior escolas, pois são as questões diárias que te trazem conteúdo. A vida em comunidade nesta religião é importante, pois todos os atos são lições. As atividades físicas, são atos de humildade, comprometimento atos de responsabilidade e por ai vai.
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