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Exposição “Marmo: o reencontro com ofá cuja voz ecoa” será reinaugurada na Biblioteca de Manguinhos

Marmo é figura-chave nas lutas recentes em prol da saúde da população negra

Arte: Thays Coutinho (Multimeios/Icict/Fiocruz)

27/05/2023 | 11:02


O retorno da exposição Marmo: reencontro com o ofá cuja voz ecoa, a partir da próxima terça-feira (30/5), é - mais uma vez - uma celebração ao ativista José Marmo, que ousou incluir o viés das religiões afro-brasileiras e a negritude sob a ótica da saúde. O evento ocorrerá no Salão de Leitura da Biblioteca de Manguinhos, na Fiocruz. A exposição trará mais de 400 objetos, entre cartões-postais, fotografias, vídeos, boletins informativos e outras publicações da Coleção José Marmo, que foi doada em 2020 à Biblioteca de Manguinhos por seu esposo, o psicanalista Marco Guimarães, curador da exposição. O evento também é uma grande reunião de familiares, amigos, conhecidos e ativistas que tiveram suas vidas modificadas pelo ativista. Marmo é figura-chave nas lutas recentes em prol da saúde da população negra.




Para Lucia Xavier, coordenadora geral da ONG Criola, organização da sociedade civil com 30 anos de trajetória na defesa e promoção dos direitos das mulheres negras, "Marmo foi uma das pessoas mais importantes dos nossos tempos. Ele dedicou-se a conectar talentos em prol de uma causa, a felicidade". Em suas palavras, Marmo é "o caçador de uma flexa só". Ele foi atuante na criação do grupo Criola.


Emocionada, Xavier falou da trajetória do amigo: "Filho do Caçador Oxoce (ou Oxóssi), divindade ancestral de origem africana que provém os alimentos para o seu povo, aquele que caça com uma flexa só. Agia como Oxum, divindade que governa os rios, a fertilidade e o amor, a quem jurou honrar e cuidar como seu ogã , serpenteando como um rio e agindo como as águas, gerando novos processos e possibilidades de vida. Atuou no campo da saúde da população negra, articulando os saberes e culturas afro-brasileiras, mais fortemente as religiões de matriz africana. Bem como, com a juventude das favelas e dos territórios periféricos do nosso país e com diferentes artistas negras/os/es. Foi o primeiro a chamar a atenção e articular ações de prevenção e cuidado com o HIV/Aids junto aos terreiros. Como Exú, a comunicação era o seu respirar. Via em cada um(a) de nós, que aceitávamos o seu chamado, talentos que não víamos em nós ou que pouco valorizamos. A partir deste momento construía outras possibilidades. Cada talento era conectado com alguém ou algo, resultando sempre em encontros. Encontros de fé, encontros de saberes, encontros de alegrias, encontro de lutas. Chamado para "ir ao rio buscar peixes", em 2017, resolveu permanecer lá, pois as conexões já realizadas dependiam de nós agora."


Segundo Marco Guimarães, Marmo não se resumia a uma palavra, "mas a um conceito: corajoso-ousado-inventor de estratégias, e sonhos, para a luta antirracista". E Marmo é tudo isso.


Ele foi um dos fundadores da Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde (Renafro), uma articulação da sociedade civil que reúne representantes de comunidades tradicionais de terreiros de religiões de matriz africana. Além disso, integrou o Comitê Técnico de Saúde da População Negra da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro e atuou em diferentes instâncias por políticas públicas de saúde para a população negra. Também foi coordenador do programa de saúde do grupo cultural AfroReggae e precursor das campanhas de promoção à saúde e prevenção de HIV/Aids para a população negra e povos de terreiro. Marmo foi fundamental para a criação de projetos como o Odô-Yá, que criava estratégias para que iniciados das religiões de matrizes africanas lidassem de forma preventiva e solidária ante a epidemia de HIV/Aids no Brasil, e do projeto Arayê, da Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids (Abia), que estimulava a reflexão sobre a saúde da população afro-brasileira, mostrando as contradições relacionadas à qualidade de vida no Brasil.


Uma vida como a de José Marmo não se resume a uma exposição: "temos tentado honrar o seu legado, mantendo a sua memória, a sua história, trazendo para nós a alegria de viver", afirma Lúcia Xavier, que conclui: "salve Marmo, o caçador de uma flecha só!"


A exposição que ecoa

A exposição Marmo: reencontro com o ofá cuja voz ecoa é uma oportunidade para que as pessoas conheçam não só quem foi José Marmo, dentista, formado pela UFRJ e educador, mas o trabalho que ele desenvolveu, segundo Marco Guimarães, "com suas ideias originais e criativas, que continuam construindo estratégias de luta antirracista". Na exposição, será possível perceber a "metodologia que Marmo desenvolveu ao longo dos anos, que se expressa não só nos materiais educativos, mas também na forma que ele tinha de se relacionar com pessoas e grupos aos quais esteve dedicado”, como explica Marco Guimarães.


“Marmo buscava se aproximar do ‘coração’, do lado sensível das pessoas, propiciando formas de identificação, agregação, acolhimento recíprocos que, ajudassem tanto a informar como também construir um campo inter-relacional e inter-subjetivo a um só tempo ‘nutridor e mediador’ para lidar com os devastadores efeitos psicossociais do racismo", explica Marco Guimarães, ele mesmo especialista em saúde da população negra e cultura afro-brasileira.


Na programação da reinauguração haverá um café de boas-vindas, a mesa de abertura que contará com a presença de Mel Bonfim, vice-diretora de Ensino do Instituto de Comunicação e Informação em Saúde (Icict/Fiocruz), Ana Furniel, da Vice-Presidência de Educação, Informação e Comunicação da Fiocruz, Flávia Paixão, da Coordenação de Equidade, Diversidade, Inclusão e Políticas Afirmativas (Cedipa) da Fiocruz, e Luís Eduardo Batista, assessor para Equidade Racial em Saúde do Ministério da Saúde. A partir das 9h45, começará a sessão de homenagens, com mediação da Marina Maria, do Icict/Fiocruz, e que terá diversas personalidades dos diversos campos por onde Marmo circulou. Para finalizar, a apresentação do Grupo Afoxé Ore Lailai


A exposição tem entrada franca, com horário de visitação das 9h às 16h e ficará aberta até 30 de junho. Para a reinauguração, é necessário fazer a inscrição pela internet. A reinauguração contará com intérprete de Libras e será transmitida pelo canal do Youtube da VideoSaúde.


Serviço

Data: 30 de maio de 2023 - 3ª feira Horário: 9h30 Local: Salão de Leitura da Biblioteca de Manguinhos, na Fiocruz – Av. Brasil, 4.365, no Rio de Janeiro

Acesse o link de inscrição para a reinauguração A exposição ficará aberta até o dia 30 de junho, com horário de visitação das 9h às 16h




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