Por: Átila Nunes
22/05/2023 | 11:01
“Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar.” O autor dessa frase é Nelson Mandela, símbolo de luta pela igualdade racial e pelos direitos humanos. Mandela fez a sua passagem em 2013, aos 95 anos de idade. Os ensinamentos deixados por ele deveriam servir de inspiração para a construção de uma sociedade melhor e livre de preconceitos. Mas a ignorância continua sendo a mãe de todos os males, como dizia François Rabelais, padre e escritor francês.
Diante dos últimos acontecimentos, tenho refletido muito sobre os rumos que a nossa sociedade está tomando. Em especial, quando falamos sobre preconceito religioso.
No final de abril, dia 23, para ser mais específico, um ato de intolerância chamou a minha atenção. Ao ligar a tevê, uma reportagem narrava mais um caso de preconceito. Um motorista de aplicativo havia se recusado a levar duas mulheres e duas crianças. O motivo? Elas estavam vestidas com roupas do Candomblé.
Toda a situação foi filmada e a família buscou a Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) para registrar uma ocorrência. O caso aconteceu em Duque de Caxias e ganhou repercussão. A família não se calou. Nenhuma vítima de preconceito deve se calar. Ao contar o que sentiu, uma das vítimas disse: “quando ele viu que eu e minhas filhas estávamos com o traje, já veio com olhar de ódio”. Ninguém deveria ser submetido a isso. Mas a realidade é bem diferente. Todos os dias somos alvos de olhares de ódio, de preconceito, de falta de conhecimento, de ignorância. A ignorância que é a mãe de todos os males.
Ao assistir esse caso, lembrei-me de uma declaração dada pela então delegada da Decradi, Débora Rodrigues, em um evento sobre intolerância que participamos em setembro de 2022, também na cidade de Duque de Caxias. Seria coincidência? Infelizmente, não. O caso que acabava de ver noticiado apenas confirmava o que as estatísticas já apontavam.
Recordo-me, como se fosse hoje, da delegada dizendo para uma plateia de umbandistas e candomblecistas que seria arriscado pedir um carro por aplicativo. A maioria vestia roupas de santo e usava suas guias. O conselho não era em vão. A cidade de Duque de Caxias registrava o maior número de casos de preconceito religioso na Baixada Fluminense.
Uma lei de minha autoria, aprovada no ano passado pela Câmara de Vereadores do Rio, prevê punição a motoristas e empresas de aplicativo de transporte que se recusarem a levar passageiros por discriminação religiosa, racial, orientação sexual e política. A multa pode chegar a 100 mil reais. Por enquanto, a medida vale para a cidade do Rio. Torço para que outros parlamentares inspirem-se nesta lei e apresentem projetos semelhantes em suas cidades. Os casos recentes de intolerância evidenciam a importância da promoção de políticas públicas e leis que combatam o preconceito.
Cada um de nós tem o poder de fazer a diferença. Seja através de pequenas ações em nosso dia a dia ou através do engajamento em movimentos e organizações que promovam a igualdade e a diversidade.
O combate ao preconceito é um dever de todos. O caminho é longo. Desistir não é uma opção!
Átila Nunes
Carioca, 48 anos, casado, pai de dois filhos adolescentes, o vereador
Átila A. Nunes (PSB) é líder do governo na Câmara Municipal do Rio e está em seu terceiro mandato. Membro da Frente Parlamentar em Defesa dos Povos de Matriz Africana, ele cresceu num lar de família umbandista. [+ informações de Átila Nunes]
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