Por: Etemí Shaiane de Lissá
15/02/2023 | 11:29
Sabe-se que na maioria das religiões as crianças são educadas, orientadas e preparados para ser o futuro de suas comunidades, nas doutrinas católica, pentecostal e neopentecostal, judaísmo, islamismo e em tantas outras as crianças são iniciadas e passam a viver sobre os costumes religiosos de seus pais e familiares recebendo os sacramentos de suas doutrinas vivendo de acordo com cada comunidade e costume. Por que nós povos tradicionais de matriz africana em sua maioria vivemos na contramão de tudo isso? Na contramão dos costumes religiosos e somos contra a iniciação de nossos pequenos? Por quantas vezes já ouvimos e ainda ouviremos nosso povo falar: Tem que esperar crescer para saber o que quer da vida?! Eu me pergunto como assim? O que é bom para a família não será bom para as crianças?
Como podemos defender nossas crianças se a intolerância e o racismo religioso estão à nossa própria mesa, nossos sacramentos são tão importantes, tão puros e tão grandiosos. O que devemos apenas, é entender que para as crianças iniciadas o tudo deverá ser no tempo delas, conforme suas idades biológicas. Eu mesmo fui iniciada com 5 meses de vida por minha avó paterna Ítala Catulembá, que à ocasião quase foi presa, minha própria família a denunciou, mas sendo a grande mulher que foi, superou tudo e, hoje sou imensamente grata por ter sido iniciada ainda bebê e por essa grande mulher.
Nós Povos Tradicionais de Terreiro, devemos levar os costumes da Comunidade Religiosa para educação e vivência de nossas crianças. O futuro de nossas comunidades, a perpetuação de nossas histórias de resistência, assim como de nossos sacramentos depende de nossas crianças! O candomblé nos ensina a viver em família, a valorizar a convivência em comunidade e a reconhecer no outro a ancestralidade familiar. Se acreditamos que a iniciação no candomblé nos conecta diretamente com a centelha divina ao qual o nosso ancestral pertenceu, porque algumas pessoas consideram ruim a iniciação em crianças, mesmo os já iniciados? Sem ter a intenção esses mesmos adultos fazem com que nossas crianças sofram dentro do próprio ambiente familiar, seus primeiros casos de intolerância e racismo religioso, precisamos mudar este cenário dentro de nossa cultura, os de fora já nos perseguem demais... Quantas mães vi perder as guardas de seus filhos por iniciá-los na religião delas? Isso precisa e necessita ser mudado, creio e acredito que devemos começar a melhorar isso de dentro dos terreiros, conversando, ensinando e educando a todos para que possamos mudar fora de nossas UTTs. Precisamos propagar o que há de bom em nossa religião, o candomblé não é mau, muito pelo contrário então precisamos deixar de ser nossos próprios algozes, nossos ancestrais lutaram e resistiram bravamente para que todos nós estivéssemos aqui e agora, devemos continuar a cuidar, zelar e a mostrar ao próximo o que os nossos Voduns, Inkisis, Orixás nos fazem de bom e o bem que nos trazem. Precisamos proteger nossas crianças do mundo perverso dos intolerantes e racistas e não as afastar de nossos costumes. O estatuto da criança e do adolescente garante a Liberdade de crença e se for preciso acione o Conselho Tutelar para defender nossos pequenos e não para nos auto denunciar ou pior para protegê-los de rituais sagrados da religião., é sabido que em todas as religiões existem ritos iniciáticos e no candomblé não poderia ser diferente, o Orixá em sua essência é lindo, nosso culto é lindo!! Precisamos desmistificar que nossa doutrina é demoníaca, nós cultuamos deuses e deusas e somos descentes de reis e rainhas e abençoados por toda a nossa ancestralidade e espiritualidade.
Precisamos derrubar os muros de nossos terreiros e construir pontes, para que possamos perpetuar nossos costumes!!!
Viva o Orixá!!!
Viva o Vodun!!!
Viva o Inkisi!!!
Que Pai Oxalá e todo Sagrado nos abençoe, benção!
Kolofé!
Iboru Iboya Ibosheshse!
Etemí Shaiane de Lissá
Etemí Shaiane de Lissá (Shaiane Ezechiello). Matriarca do Kwe Lissá Ogifè/Terreiro de Obaluaye. Terapeuta holística, graduanda em História,Comunicadora do Programa Vozes Ancestrais, Coautora do livro Mulheres de Axé.
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