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Melodias de Terreiro: uma conexão viva com a nossa história

Por: Átila Nunes

23/10/2023 | 18:41


Uma história que me enche de orgulho e emoção é a do meu avô, Attila Nunes, e sua corajosa jornada na criação do programa de rádio Melodias de Terreiro. Desde minha infância, ouvi meu pai e minha avó Bambina Bucci compartilharem essa história com detalhes que me transportam para outra época. Uma história de amor pelas religiões de matriz afro-brasileiras que tem sido transmitida de geração a geração.




O ano era 1948. Nas ondas da antiga Rádio Guanabara, um momento histórico estava prestes a acontecer. Meu avô, o radialista Attila Nunes, deu início a uma jornada audaciosa e que se tornaria um dos programas de rádio mais duradouros do Brasil: o Melodias de Terreiro. Naquela época, as religiões de matriz africana eram perseguidas e estigmatizadas, mas meu avô estava determinado a mudar isso.


O programa começou modestamente, com algumas cantigas e preces, mas a semente estava plantada. Com o passar dos anos, o Melodias de Terreiro ganhou cada vez mais espaço na programação da rádio. Em 1952, já ocupava uma faixa de trinta minutos, e dois anos depois, seu impacto era inegável, ocupando um impressionante espaço de quatro horas na programação da Rádio Guanabara. Era uma vitória da cultura e da espiritualidade afro-brasileira.


O caminho não foi fácil. A receptividade à novidade foi intensa, mas nem sempre positiva. Os telefones da emissora não paravam de tocar, mas muitos rotulavam o programa como "músicas de macumba”. A decisão de continuar transmitindo o Melodias de Terreiro ficou nas mãos do diretor da Rádio Guanabara, Dr. Carlos Brasil de Araújo. Felizmente, ele teve a visão e a coragem de permitir que o programa continuasse, rompendo barreiras culturais e desafiando estereótipos.


Meu avô Attila Nunes não estava sozinho nessa empreitada. Ele contou com o apoio imensurável de colegas da emissora, como Jorge Bartoly, Newton Pinheiro, Santos Garcia e Renato Valente. Minha avó, Bambina Bucci, também desempenhou um papel fundamental na transformação desse grande sonho em realidade. Além disso, o compositor J.B. de Carvalho, conhecido como "O batuqueiro famoso," foi um dos principais apoiadores da ideia da criação do programa e lançou vários discos com cantigas de Umbanda em parceria com o Melodias de Terreiro.


Para meu avô, o Melodias de Terreiro era muito mais do que um programa de rádio: era uma missão de preservação cultural e espiritual. É importante lembrar que aquela era uma época de forte repressão policial às religiões de matriz africana. No entanto, meu avô e todos aqueles que caminhavam ao seu lado enfrentaram todos os desafios de cabeça erguida, conscientes de que estavam defendendo algo precioso.


Hoje, com mais de sete décadas de existência, o Melodias de Terreiro representa não apenas um legado, mas também um farol de resistência. Aquele programa de rádio que nasceu timidamente em 1948, cresceu, deu frutos e ganhou o mundo através das redes sociais. Essa história é apenas um lembrete de que mesmo em um mundo em constante mudança, as raízes da nossa identidade podem permanecer firmes e fortes, tocando nossos corações com a magia eterna das tradições afro-brasileiras.





Átila Nunes - AxéNews

Átila Nunes

Carioca, 48 anos, casado, pai de dois filhos adolescentes, o vereador

Átila A. Nunes (PSB) é líder do governo na Câmara Municipal do Rio e está em seu terceiro mandato. Membro da Frente Parlamentar em Defesa dos Povos de Matriz Africana, ele cresceu num lar de família umbandista. [+ informações de Átila Nunes]

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