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Mulheres e a resistência religiosa

Por: Gisele Rose

Foto: Joédson Alves | Agência Brasil

12/08/2024 | 18:40


A liberdade religiosa é um patrimônio social, sendo assim, a luta contra a intolerância religiosa lideradas por mulheres negras e indígenas têm suas ações pautadas na filosofia africana Sankofa que tem suas raízes na cultura Akan, da África Ocidental que propõe um retorno para adquirir conhecimento do passado, a sabedoria e a busca da herança cultural dos antepassados para construir um futuro melhor.



Seria injusto de minha parte não demonstrar essas tantas camadas deixadas pela colonialidade, pois geralmente quando falamos sobre intolerância religiosa, logo pensamos nas mulheres que estão inseridas nas religiões de matrizes africana, mas quando ampliamos nosso olhar para a temática chegamos no ponto crucial do problema que desde o início sempre foi o racismo, vide que em agosto de 2018, várias lideranças evangélicas do Brasil se reuniram no Recife para realizar o primeiro encontro de mulheres negras cristãs, da Rede de Mulheres Negras Evangélicas.1 Quando mulheres negras evangélicas que lutam pela equidade de raça e gênero se posicionam é um marco para a queda de um projeto colonial que há séculos cristianiza uma população que é economicamente explorada.


Representantes do Conselho da Kuñangue Aty Guasu durante a Assembleia Das Mulheres Kaiowá e vem a público denunciar o crime de intolerância religiosa praticada contra as mulheres anciãs Kaiowá e Guarani:


Desde novembro de 2019, a Kunangue Aty Guasu vem denunciando. para o Estado brasileiro, as perseguições, torturas, espancamentos, dentre tantas violências contra as anciãs nhandesys praticadas por homens vestidos de "crentes" e outros líderes ligados à capitania das comunidades Kaiowá e Guarani. Esses homens, em sua maioria, fazem parte da doutrina da igreja pentecostal Deus é Amor e pregam discursos coloniais de dominação do corpo da mulher, silenciando e violentando em nome da igreja.

Nas primeiras semanas de Janeiro de 2021, o crime de intolerância religiosa avança fortemente nas comunidades indígenas, pois sobe para nove casos identificados somente este ano. As mulheres têm seus corpos violentados por homens que usam facas, chicotes, cordas e pedaços de paus para “condená-las”: torturá-las pela prática do chamado "feitiço"

As mulheres Kaiowá e Guarani violentadas e abusadas têm seus corpos cortados com ponta de facas, carregando em suas costas marcas de chicotes de couro. Ainda, essas mulheres têm seus cabelos cortados por faca, carregam hematomas físicos profundos em suas cabeças e em muitas outras partes do corpo. Nos processos de “condenação” pelos neopentecostais, seus joelhos podem ser vistos sangrando, suas casas são queimadas, elas são expulsas das comunidades e carregam consigo traumas de violência psicológica brutal, temendo serem queimadas vivas, enforcadas e mortas. São insultadas e xingadas de bruxas e de feiticeiras (TEKOHAS KAIOWÁ e GUARANI, 2021)2.


Na 12ª edição do Latinidades - Festival da Mulher Afro Latino Americana e Caribenha, mulheres negras evangélicas, católicas e candomblecistas apresentaram durante a - suas experiências de resistência ao racismo a partir da prática religiosa. Ao participar de debate que discutiu as "Ancestralidades como pertencimento", as mulheres reafirmaram a necessidade de combater a intolerância religiosa que, no Brasil, se expressa, sobretudo, no ódio às crenças de matriz africana3.


O levante de mulheres negras e indígenas na luta antirracista reverberam nos vários espaços de disputa onde, a ideia construída pela Filosofia Ocidental de um homem, branco e cristão detentor de todos os conhecimentos ainda estão vigentes.


As situações apresentadas são alguns exemplos de ações lideradas por mulheres que historicamente foram invisibilizadas e apagadas dos espaços sociais. A ideia de propor este recorte filosófico na compreensão de como mulheres sofrem a intolerância, segue no intuito de: primeiramente mostrar a luta das mulheres negras e indígenas, compreender que as questões que perpassam os corpos dessas mulheres diferem e muito das questões que perpassam os corpos das mulheres brancas.


Vale ressaltar que mulheres brancas também sofrem com a intolerância religiosa através de outro prisma, pois mesmo sendo brancas não possuem locais de poder que foram construídos historicamente pelos homens brancos.







Gisele Rose - AxéNews

Gisele Rose

Filósofa e escritora. Professora da Secretaria Estadual de Educação do Rio de Janeiro (SEEDUC-RJ). Mestra em Relações étnico raciais pelo Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (CEFET-RJ), Especialista em Energia e Sociedade no Capitalismo Contemporâneo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Graduada em Filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)...  [+ informações de Gisele Rose]  


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