Por: Juliana D Passos
30/01/2023 | 16:44
Ao longo de quase 23 anos cantando profissionalmente, passando por diversos ritmos e gêneros musicais, uma coisa curiosa sempre me aconteceu, independente de estar cantando para a Espiritualidade ou não. Em 90 por cento das vezes que terminei de cantar e desci do palco, sempre vinha alguém me abraçar e dizia assim: “Poxa, muito obrigada. Sua música era o que eu precisava escutar hoje.”
Carrego isso comigo ao longo de todos esses anos, e passeando também por diversas louvações religiosas (já fui cantora de igreja evangélica também), percebi o quanto a música é divina. O quanto lava a alma. Como as ondas sonoras, as melodias, ritmos e letras, podem tocar o nosso coração. Principalmente nas nossas religiões de axé, que tem como base fundamental a musicalidade, o ritmo, as palmas, o canto, a louvação, a reza cantada. E como isso é importante e impacta no nosso dia a dia, não é mesmo, meus irmãos?
Algo que preciso partilhar com vocês também, é como a música tem esse poder espiritual até mesmo em locais onde alguns chamam de profanos, como bares, casas de shows, etc. Tirando principalmente pela minha última experiência, nos últimos dois Sambas de Macumba que realizamos no Rio de Janeiro, algo me tocou demais no coração. Eram pessoas que estavam ali pela proposta do samba, para curtir, dançar, cantar, vibrar. Mas também na expectativa de ouvir aquele ponto que tanto gosta, aquele Orixá que é devoto, o guia que é seu mestre, seu guardião, transformado em Samba. E meus irmãos, como foi lindo ver a expressão de gratidão, de felicidade, de devoção, de amor e de emoção no rosto de cada um que pôde estar presente conosco nesses dias tão especiais.
A música espiritual, e digo ela como um todo, em melodias, ritmos, compassos, letras, nos remete à memórias afetivas e emocionais. Mexe com a nossa vibração, aumenta nossa força e firma a nossa fé. Ao vibrarmos juntos uma cantiga, em uma só voz, se torna o mais lindo coro e louvação ao nosso sagrado.
A Espiritualidade que tem em sua base a música, como muitas das nossas vertentes de axé, com certeza tem nela uma ferramenta poderosa de cura, de trabalho espiritual, de aconchego, de alento ao coração daqueles que necessitam apenas de uma palavra de consolo de seus guias. A música espiritual nos ajuda a seguir nossos caminhos com leveza e firmeza.
E como diria Aristóteles, em uma frase que um dia eu vi, nunca mais esqueci e que levo comigo pra vida inteira, pra poder responder aqueles que sempre vem me agradecer pela música: “A música é celeste, de natureza divina e de tal beleza que encanta a alma e a eleva acima de sua condição.”
E você, já escutou música hoje?
Beijo, e aquele axé!
Juliana D Passos
Para além do interesse musical, a vida de Juliana D Passos é repleta de ligação com a cultura africana. Algo que está refletido, antes de mais nada, na sua origem, como descendente direta de africanos. Sua bisavó materna chegou ao Brasil nos chamados navios negreiros, e seu avô foi adotado por outra família por conta da Lei do
Ventre Livre. Um processo que também determinou uma ligação familiar com a religiosidade de matriz africana, o que a faz uma voz e uma imagem representativa de Santa Catarina no cenário nacional ligado à cultura e as manifestações artísticas afro-brasileiras. [+ informações de Juliana D Passos]
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