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Notas sobre o ódio, racismo e intolerância

Por: Pejigãn Arthur Awofakan Ogundá Meji



23/03/2024 | 18:20


O Brasil na atualidade, é um país onde seus cidadãos se odeiam, embora não tenha uma estatística – e o escopo desse artigo prescinde dela - é perceptível esse quadro social. O ódio, mais que qualquer outra característica, atualmente, define o brasileiro e seu modo de interação social. O sentimento sectário latente no passado, desabrochou e tornou-se caractere marcante, individual, coletivo e pisco social.





Por que o brasileiro odeia tanto? Ódio, segundo o léxico, que sempre é seguro para o entendimento e interpretação de um problema, é um sentimento apaixonado, irado ou raivoso, que impele o indivíduo a causar ou desejar mal ao outro, é aversão ou repulsa a pessoa, atitude ou coisa, e a grupos sociais, raciais, práticas coletivas ou pessoais.


Como se constrói o ódio? Já que não é uma sensação inerente a existência do ser humano, como a fome, a solidariedade, o afeto, o desejo, o amor ou a empatia. O ódio precisa ser construído, ensinado e aprendido, portanto, precisa de uma matriz que o crie e justifique. A sensação de medo se liga umbilicalmente ao ódio, mas não justifica. O ódio se constrói a partir um processo social, e não visceral, embora, se expresse de forma irracional, ignorante e boçal.


O ódio é uma construção ideológica, um conjunto de convicções e conceitos normativos, que explicam fenômenos sociais, com a intenção de simplificar, orientar e determinar escolhas sociopolítica dos indivíduos. Portanto, o ódio é ideologicamente determinado. Karl Marx diz que a ideologia é um conjunto de ideias sobre as relações econômicas, sociais e políticas, que distorcem a realidade das desigualdades, com a finalidade de naturalizá-las e torná-las aceitáveis, para a reprodução e manutenção do modo de produção, através do monopólio da produção intelectual da classe dominante (sempre uma minoria), que consegue explorar e sobrepor-se às demais classes (a grande maioria da sociedade), com a concordância e defesa de uma parte dessa maioria explorada e inferiorizada.


A ideologia quase sempre, é construída, informada, ou determinada, por uma teologia. Naturalizando ainda mais às justificativas da exploração, dominação e inferiorização da maioria.


Desse modo, o ódio social vem atrelado, legitimado a teologia ou vontade de um deus. Ao longo da história, o ódio social sempre foi usado por uma minoria, opressora, exploradora e dominante, contra uma maioria, empobrecida, oprimida, explorada, humilhada e desrespeitada, que sobre seus próprios recalques e frustrações, põe a culpa num objeto, pessoa, raça ou religião, odiando irracional e brutalmente.


Isso desde quando se tratou seres humanos, como despojos de guerras e mão de obra escravizada, não basta possuir os corpos, mas negar humanidade ao outro e torná-lo alvo do ódio que alivia a frustração, recalque e humilhação dos miseráveis.


A coisificação de pessoas sempre é justificada por uma teologia, como por exemplo o Gênesis da Torá ( 9:25: Maldito seja Canaã, servo dos servos seja aos seus irmãos; 26: Bendito seja o Senhor Deus de Sem, e seja-lhe Canaã por servo; 27: Alargue Deus a Jafé, e habite nas tendas de Sem, e seja-lhe Canaã por servo) justificou e justifica até hoje, 12/03/2024, extermínios, massacres e escravização.


É um exemplo famoso, mas os egípcios, há 4.500 anos já justificavam a escravização, discriminação e imobilidade social, argumentando a superioridade divina em relação ao outro - o Faraó era um Deus encarnado, a nobreza era filha dos deuses, e o povo tinha a benção dos Deuses-, isto justificava todas as formas de discriminação, violência, e manifestações de ódio, contra o restante da humanidade.


Os bárbaros, nórdicos, vikings, bretões, godos, foram perseguidos, violentados e escravizados por mais de 1.500 anos, pelos cristãos, que tem uma leitura e apropriação ignóbil do judaísmo (que também é uma coleção de discursos de discriminação violenta contra todo o restante da humanidade), sofreram, desde os romanos cristãos, as maiores atrocidades, ignomínias, torturas, crimes, perseguições e extermínios que se tem registro ao longo de 12.000 anos de história registrada. Essas civilizações, etnias e sociedades sofreram com inquisições, Torquemadas, escravizações, perseguições e holocaustos, com estimativas de mais de 100 milhões de pessoas assassinadas, por conta do ódio disseminado em nome de um Deus.


Do mesmo modo, estima-se que cerca de 60 milhões de pessoas de povos originários ameríndios foram e ainda são, exterminados em nome do Deus Judaico/Cristão, e além dos assassinatos, há o extermínio civilizatório, que por quatro séculos e meio foi praticado pela catequese, e atualmente é praticado pela evangelização.


E o que é mais cínico e cruel é que catequese/evangelização são “atos de amor”, segundo os cristãos. Que praticam esse “amor” desde o século IV.


Na verdade catequese e evangelização são a forma mais cruel e nefasta de se odiar um subgrupo de indivíduos, porque destrói a própria referência de cada um e do grupo no mundo, levando ao suicídio em massa, a adicção (por álcool ou substâncias alucinógenas), ao lenocínio e a violência.


Aproximadamente 12 milhões de pessoas, das civilizações e sociedades da África Central e Setentrional, foram sequestradas, transformadas em mercadoria e vendidas como força de trabalho escravizada. Sendo que, há estimativas de que entre 25% e 35% dessas pessoas, morreram durante a travessia infame.


A catequese/evangelização “amou” tanto esse contingente que foi levado para os EUA, que eles renegam a sua própria origem civilizatória e ancestral geográfica, e reconstruíram seu pertencimento, a partir do Islã, embora os muçulmanos não forneceram raças ou etnias escravizadas ao continente americano. Como não há relação genética, racial, cultural ou civilizatória entre o Islã, e os povos animistas, negros vindos da África Central, e não do deserto, por que essa identificação? O aumento do ódio ideológico, teologicamente informado, da nossa era, a era do cristianismo, foi tão intensa e cruel, que rompeu totalmente a capacidade de resistir, e ressignificar sua própria ancestralidade.


Veja o ex-presidente dos EUA, Barak Obama, que foi a Nigéria conhecer seus parentes africanos, mas não de recuperar sua própria ancestralidade, pois ele é americano, e, portanto, evangélico. Essa situação difere, um pouco, no caribe, no Brasil, e em alguns poucos outros países sul-americanos.


O ódio tem se multiplicado. Pessoas entram em escolas, cinemas, shoppings e mercados e matam para se vingarem de supostos causadores de suas frustrações e recalques. Pessoas agridem e matam entregadores ou prestadores de serviços. Homens matam mulheres, por acharem que ao amá-las, tornam-se donos de seus corpos, podendo dispor deles para sublimarem sua própria homosexualidade reprimida.


Aparentemente, são fenômenos desconexos, mas têm um traço comum: são uma sociopatia construída, intencionalmente, para valorizar o sentimento de ódio na massa, embrutecendo-a, e assim facilmente naturalizar e amortecer a percepção das diferenças socioeconômicas, fazendo parecer que a ignorância é uma virtude, e que a boçalidade e brutalidade são atributos meritocráticos e necessários para o sucesso nas pretensões de mobilidade social ascendente.


Essa naturalização leva a aceitação de um pseudo direito natural de diferença, na sociedade capitalista, que justifica a existência de uma elite superior, mais qualificada, tanto biologicamente, quanto intelectualmente, autocrática, autoritária e com poder de mando sobre a grande e esmagadora maioria.


A naturalização, pseudo científica, de funcionamento elitista da sociedade capitalista está na essência da discriminação, preconceito, racismo e, principalmente, ódio social.


Observamos isso nas justificativas, pelos judeus sionistas, do extermínio étnico/racial de todas as populações palestinas, que são chamados de cães humanos pelo ministro da defesa de Israel, e com igual ódio e desprezo pelos populares.


Observa-se essa manipulação do ódio, nas lideranças dos países ricos, em relação ao povo e ao presidente da Rússia, ao apoiarem o sr. Zelensky, um nazista e responsável por extermínios étnicos na Ucrânia, porque os ricos europeus sempre estigmatizaram o povo russo, como cossacos bêbados e mulheres fáceis. E, portanto, indignos de entrarem, como de fato entraram desde Stalin, no mundo dos poderosos.


Foge ao objetivo desse artigo, um aprofundamento sobre os conceitos de preconceito, discriminação, racismo e conservadorismo, se guardam relação entre si, dentro da conjuntura, ou se possuem marcantes diferenças em suas essências. Talvez em outro momento, eu trate desse questão, mas afirmo que são conceitos substantivos, ou seja, revelam a essência de alguma coisa em si mesma, e, portanto, não se relacionam diretamente entre si, mas, hoje temos que conectá-los para entendermos as matrizes do ódio que domina o mundo conservador e de direita, que amplia a cada eleição seu poder sobre quase 4 bilhões de pessoas, 50% da população mundial.


Já dei pistas de que não há cientificidade no ódio social, ideologicamente construído, e teologicamente informado, pelo judaísmo e cristianismo, mas que esse ódio é apenas uma manobra da burguesia, com vistas a aumentar seu autoritarismo, e justificar a intensificação da exploração das massas, por um lado, e por outro lado, ao alijar das benesses do mundo atual, um gigantesco contingente populacional, estimado entre 25% e 40% da população mundial, criar um exército de trabalhadores esfomeados que não lutarão por nenhum direito, a não ser o acesso a comida, e, ao mesmo tempo, por mais nojento que seja, eliminar pela fome e miséria, uma parte “desnecessária” dessa mesma população.


Assim esse ódio, que diariamente é praticado contra nós, Povos de Matriz Africana no continente americano, seja pela intolerância religiosa, pelo racismo, pelo machismo, pela homofobia, etc., não tem rosto ou persona, é um ódio construído ideologicamente pela burguesia, apoiada numa teologia judaica e judaico/cristã, e que em casos limites, se utiliza de religiosos cristãos, que também são criminosos, sejam pitiboys, milicianos ou traficantes, para, simbolicamente, mostrar a impossibilidade de reação ao controle e dominação de classe, sobre o aparelho burocrático do estado e das relações sociais.


Entender mais amplamente essa situação, nos ajuda fugir das narrativas que dão nomes e individualizam nossos inimigos, uma hora é fulano, outra hora é sicrano, e assim não vemos que fulano ou sicrano são marionetes manipuladas por poderosos que nos exploram, e que se utilizam de argumentos teológicos, com o consentimento dos poderosos das religiões, para justificar e legitimar a construção do ódio, enquanto estratégia de dominação e exploração social e isso está mais intenso, porque nós estamos abandonando nossa essência solidária e libertária, e assumindo os aspectos periféricos, dessa burguesia transnacional, de ostentação e mercantilização das nossas relações, como marcos de poder, força e axé, consequentemente reforçamos as estratégias de exploração e opressão que tantos malefícios nos trazem.


Espero ter conseguido estabelecer que esses movimentos políticos e sociais que defendem o preconceito, discriminação, racismo, violência, burrice, boçalidade, brutalidade, deseducação e incivilidade, só é possível pela excitação do ódio.


Esse texto foi inspirado por: A Revolução dos Bichos - George Orwell; Manifesto Comunista – Karl Marx e Friedrich Engels; O Principe – Niccolò Machiavelli; Memória do Saber, Oliveira Vianna – Coord. Aluizio Alves Filho; Assim Falava Zaratustra – Friedrich Nietzsche; Tempos Fraturados – Eric Hobbsbawm.




Pejigãn Arthur Awofakan Ogundá Meji - AxéNews

Pejigãn Arthur Awofakan Ogundá Meji

Cientista Político pela UFRJ, Acadêmico de Direito pela UNIVERCIDADE, Pesquisador assistente no Instituto PACS, Awofakan ni Orunmilá Ogundá Meji, pejigãn do Ile Axé Oxum Miwa, Pejigãn de Oxum, Otum Sarapembé do Ile Axé Egungum Alapasampá... [+ informações do Pejigãn Arthur Awofakan Ogundá Meji



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