Por: Ẹ̀gbọ́n Moyses de Ògún
✅ 09/12/2024 | 14:50
Na era digital a praça é a internet, mas não apenas isso, qualquer um com celular e uma fatura de operadora paga, libertam seu juiz interior. A internet sendo uma rede de conexões globais que permite o compartilhamento instantâneo de dados e informações, agilizou as interações e trocas. O candomblé e as religiões afro brasileiras não são inerentes a sociedade e a globalização, isso significa que os benefícios da internet e das redes sociais nos afetam, mas seus malefícios também.
Vivemos uma geração que registra e compartilha compulsivamente o cotidiano, fotos e vídeos que poderiam e muitas vezes deveriam ser apenas para recordação, são amplamente disponibilizados nas redes e navegam em um rio quase sem fim de compartilhamentos. As religiões afro brasileiras estão inseridas contextos socialmente marginais e racistas, onde as redes sociais são uma ótima ferramenta para difusão de informações e boas trocas, mas principalmente letramento religioso racial e político. De forma ponderada, registros e relatos enaltecem os povos de terreiro e quebram tabus e paradigmas negativos.
Antigamente os convites de candomblé, por exemplo, eram entregues de porta em porta, hoje com alguns toques na tela podemos compartilhar lindos flyers para inúmeras pessoas, através dos aplicativos de mensagens, stories, status e outros meios que as redes nos proporcionam. Ainda que haja uma infinidade de ações positivas e que são facilitadas pela internet, existem alguns pontos sensíveis que devem ser observados. Mesmo que seja triste dizer, só compartilha fotos ou vídeos de pessoas em transe quem tem coragem, ou sinceramente não se afeta com os comentários negativos, pois na grande maioria das vezes eles virão, não a toa muitos terreiros tem ordem expressa para inibir quaisquer registros não autorizados.
Na geração tik tok, para se atualizar de toda e qualquer novidade que envolva registros inapropriados, basta acessar alguma página ou perfil de alguém que provavelmente a cabeça nunca viu sequer uma água de canjica, dedicado exclusivamente aos assuntos do momento, os famosos “babados”. Antigamente, os filhos de santo deviam satisfação aos seus pais e mães. Hoje os pais e mães de santo devem satisfação a internet, muitas vezes para pessoas que nunca viram pessoalmente, e não há apenas uma veemente cobrança para se posicionarem sobre o que acontece em suas casas, mas também para opinarem sobre a casa alheia.
É preciso frear esses malefícios, buscando empregar energia com o que é importante e relativamente funcional para o progresso das religiões afro brasileiras.
Mais ori no chão, menos celular na mão.
Ẹ̀gbọ́n Moyses de Ògún
Moyses de Ògún é Ẹ̀gbọ́n e conselheiro no Ilê Olá Omí Àṣẹ Opo Àràkà, delegado de cultura em São Bernardo do Campo eleito pelo povo de terreiro na elaboração do plano municipal de cultura.
Defensor da laicidade do estado, liberdade religiosa e dos povos tradicionais de terreiro, executivo do mercado financeiro e escritor. [+ informações de Ẹ̀gbọ́n Moyses de Ògún]
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Artigo de Opinião: texto em que o(a) autor(a) apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretações de fatos, dados e vivências. ** Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do AxéNews. |
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