Por: Filipi Brasil
08/02/2022 | 09:42
Lembro, na minha infância, que os guias chamavam o carnaval de “cara suja” e, na sexta-feira que antecedia a festa da carne, íamos para a encruzilhada fazer a cerca de proteção para Exu, clamando a segurança e a cobertura espiritual dos compadres. Era explicado que, nesse período do ano, devido a densidade energética, muitos espíritos inferiores vagavam pela terra “encostando” nos encarnados invigilantes, bebendo, farreando, fumando, transando etc. aproveitando dos prazeres carnais e sugando suas energias vitais. Cabe lembrar que os Exus são nossos guardiões; porém, nós somos os responsáveis pelas nossas companhias espirituais. Por conta desse tipo de comportamento, é muito comum os terreiros realizarem giras de Exu antes do carnaval, para cruzamento e fechamento de corpo, confecção de patuás etc.
Após o carnaval, entramos no período de quaresma, liturgia pertencente ao catolicismo e também assimilada por muitos terreiros de Umbanda. Este período de quarenta dias é marcado por práticas de penitências, jejum etc. Dessa maneira, muitas casas de umbanda fecham os seus gongás, só retomando as funções na sexta-feira da paixão; outras casas seguem trabalhando apenas com pretos-velhos, exus e caboclos kimbandeiros; e também existem casas que dão prosseguimento normal aos trabalhos, por compreenderem ser uma religião cristã, porém distinta do catolicismo.
Todavia, não existe nenhuma casa ou dirigente certo ou errado, visto que existe aquilo que funciona em cada terreiro, sendo direcionado pelo guia-chefe do gongá, pela tradição e raiz pertencente. Sendo assim, viva a pluralidade doutrinária em nossa amada Umbanda! Abaixo ao preconceito intrarreligioso! Cabe apenas o respeito mútuo entre os adeptos umbandistas.
Assim, quando as casas retomam as suas atividades e trabalhos espirituais após o carnaval ou a quaresma, é comum o corpo mediúnico passar por ritos de descarrego, recolhimentos, amacis etc. objetivando o fortalecimento e o reequilíbrio energético dos médiuns.
Como já diziam os mais velhos: “prudência e caldo de galinha, não faz mal a ninguém”. Dessa maneira, se for pular carnaval, lembre-se que somos umbandistas 24h por dia, que o mundo não vai se acabar durante o carnaval, que somos cobrados mediante a nossa consciência espiritual, que nosso corpo é um templo vivo dos sagrados Orixás. Reflita!
Filipi Brasil
Filipi Brasil é médium, escritor e estudioso da seara umbandista há mais de 25 anos. Sacerdote do Templo Espiritualista Aruanda, Filipi é também psicólogo, Mestre em Psicologia, especialista em Psicologia Transpessoal, além de ter MBA em Gestão pela Qualidade Total, em Educação Corporativa, e em Gestão de RH. Terapeuta Holístico, Filipi também tem formação em Coach, é consultor de RH e de Desenvolvimento Humano. Autor dos Livros Sob o Céu de Aruanda, Zé do Laço e Mariazinha, Filipi é também co-autor do livro As Cartas Ciganas e os Orixás.
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