Por: Mauro Simões
19/12/2022 | 09:23
Sinto necessário fazer uma breve apresentação de quem vos escreve: Me chamo Mauro Simões, Zelador de Umbanda há 25 anos, tenho 63 anos e dirijo o Terreiro de Umbanda Escola da Vida. Em prol do tema que escrevo, desejo dividir com vocês leitores a minha raiz ancestral.
Sou neto de vó angolana e vô português, filho de pai preto e mãe loira. Trago em mim a ancestralidade do nosso País Brasil. Vamos falar do termo INTOLERÂNCIA RELIGIOSA (onde esbarra no Racismo Estrutural), mas não concordo em plenitude com ele, pois tenho em mente não ser Tolerado, mas sim RESPEITADO.
Salve, salve povo do Axé!
Esse é um tema que daria teses, livros e filmes, com o que já se fez, se faz e o que é preciso fazer. Curioso é tanta luta por direitos de professar a fé num país Laico, mas a verdade entre a "teoria constitucional" e a prática do dia a dia nos terreiros e barracões é abismal.
No entanto, pegando referência dos anos 90 para cá, época em que comecei a "militância Umbandista", houve sim alguns avanços "tímidos", mas alguns muito valiosos para o povo do Axé. No entanto ainda está muito aquém do desejado o engajamento do povo do Axé nessa luta. Sabemos que existem diversos enfrentamentos do povo de Axé à Intolerância religiosa, fatores que fazem com que o indivíduo de Religiões Afro-brasileira se "retraia", seja no trabalho, seja na escola ou mesmo no seio familiar.
Para algumas pessoas é sem sombra de dúvida uma "equação difícil" de resolver, deixando assim um "exército" de devotos recolhidos em seus próprios conflitos preconceituosos chamados de intolerância religiosa. Contudo há uma parte significativa que não compreende seu credo de Umbanda ou Candomblé, ou tem a má fé mesmo, manchando assim nossos cultos. São pessoas que só olham para seus interesses e não se importam com mais nada. Se preconceituosos incendiaram um barracão, se apedrejaram uma menina com roupa de santo, se alguém foi ofendido por ser Umbandista ou Candomblecista, essas pessoas plantam e fazem coisas escusas por interesses pessoais. Claro que não justifica em nenhuma hipótese de Intolerância religiosa, mas contribuem e muito para uma má interpretação do neófito a respeito do que de fato são os cultos de Religiões de Matrizes afro-brasileira.
Ainda existem aqueles que fazem a "negação de seu credo por vergonha" e dizem pertencer a outra religião ou simplesmente negam. Ao meu ver essas pessoas comungam a Intolerância religiosa de "dentro pra fora", sendo igualmente danoso ao RESPEITO DE QUE SE DEVERIA TER NUM ESTADO LAICO.
Restando então um número expressivo de pessoas aguerridas no enfrentamento da Intolerância religiosa, mas que se torna insuficiente se compararmos com os que não lutam de forma alguma.
Anos de enfrentamento me deram a percepção de que são sempre as mesmas pessoas nessa luta por nossos direitos de fé. A coisa fica ainda mais complexa, quando a negação da necessidade desse enfrentando da Intolerância religiosa, partem dos Dirigentes de Umbanda e/ou Candomblé. Muitos Pais e Mães no Santo são avessos a essas causas dioturnas, de enfrentamento da Intolerância religiosa por diversas razões, que vão desde ignorância até interesses pessoais.
Felizmente jovens como os mentores do AXÉNEWS são porta vozes da necessidade do esclarecimento e enfrentamento desse mal devastador aos nossos cultos, formando assim uma resistência que bem orientada replicará em múltiplas vozes nesse enfrentamento.
Outra "plataforma" que deveria ser vista com mais seriedade, é a Política, sem Política não se faz nem uma festa de ano novo em família. A política está em toda sociedade, logo gostem ou não gostem a política está invariavelmente nas Religiões e não é diferente na Umbanda e no Candomblé. Porém, o que se vê no campo político do povo de Axé é algo que precisa de uma "peneira muito fina", pois o espaço vazio deixado por nós na política (nessa falha interpretação de que religião e política não se misturam) é preenchido por muitos que tem interesses de política de poder pessoal e não do poder de política de direitos. Em muitos casos vemos uma oposição entre políticos que transitam no meio do povo do Axé com rivalidades desproporcionais.
Já fui testemunha de "confrontos" de rivais políticos em atos de desagravo por exemplo. Isso é inadmissível, seria a hora de recolherem suas espadas e darem-se as mãos num BEM MAIOR.
Esse tema como disse é muitíssimo vasto para ser tratado com simplicidade e em poucas palavras. Mas penso que abrir ideias e o bom debate principalmente entre os Jovens é também uma forma de enfrentamento do povo do Axé contra a Intolerância Religiosa. Penso que esse enfrentamento é lento e gradual, como disse, houveram avanços, mas ainda precisamos além de fortalecer essas conquistas, conquistar muitas mais.
Estarei aqui sempre que solicitado a colaborar e voltar ao tema se necessário e em outros. Axé e Beijos no coração de todos .
Mauro Simões
Ateu convicto a Zelador de Umbanda. Iniciado na Tenda Espírita Mirim.
Zelador há 25 anos. Dirigente do Terreiro de Umbanda Escola da Vida, em Sepetiba, RJ.
Nascido no Rio de Janeiro em 1959.
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