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O que podemos aprender com nossos antepassados?

Por: Renan Piedade


Foto: Reprodução
Foto: Reprodução

20/12/2024 | 07:29


Em um rápido olhar para a história da formação de nosso país, percebemos que NOSSOS ANTEPASSADOS NEGROS, sequestrados de seus países de origem, pisaram pela primeira vez em terras brasileiras sob um vasto e duradouro contexto escravocrata, que os encarava como indivíduos sem alma, sem sentimento, imunes à dor, à fome e aos maus tratos. ELES foram repartidos em lotes, separados de seus antecedentes familiares e, por muitos séculos, foram alugados, vendidos, hipotecados e penhorados, como se fossem uma mercadoria.



A despeito de todo esse passado violento e doloroso, ELES não deixaram suas raízes culturais de lado e, em movimento de resistência e de resiliência, construíram ao longo dos últimos séculos as múltiplas e ricas formas de cultuarmos as divindades africanas e afro-brasileiras às quais temos acesso nos terreiros de norte a sul do Brasil. Podemos dizer então que nossas tradições religiosas – Candomblé, Umbanda, Omolokô, Tambor de Mina, Xangô de Recife, entre outras – nasceram como uma grande e forte reação à escravidão, a partir de uma necessidade de solidariedade e de organização comunitária, questão muito presente inclusive no modo como nos constituímos enquanto famílias-de-santo.


Se por um lado ELES foram marcados pelas constantes violências e perversidades do sistema escravagista e de seus resquícios que perduram até hoje, por outro lado devem ser conhecidos e aclamados por sua astúcia, inteligência e estratégia de sobrevivência, apesar das condições contrárias. Ainda que seja um capítulo triste de nossa história, talvez nós, povos-de-terreiro, estejamos diante de uma das maiores lições que ELES nos deixaram: NÃO SUCUMBIR À BARBÁRIE; NÃO PADECER QUANDO OS DISCURSOS INTOLERANTES E RACISTAS ESTIVEREM A NOSSA FRENTE; NÃO PERECER AO ENCONTRARMOS CIRCUNSTÂNCIAS ADVERSAS.


Aprendamos, portanto, com os pretos-velhos, nossos antepassados vivos, em um de seus pontos mais cantados Brasil adentro:


...PRETO-VELHO QUE NASCEU NO CATIVEIRO HOJE BAIXA NO TERREIRO DE CACHIMBO E PÉ NO CHÃO PEGA NA PEMBA, RISCA PONTO, FAZ MIRONGA SARAVÁ MARIA CONGA, SARAVÁ MEU PAI JOÃO...



Renan Piedade - AxéNews

Renan Piedade

Renan Silva da Piedade / Professor e Doutor (Letras/PUC-RIO).

Candomblecista iniciado, filho de Ayrá e de Oxum, sob os cuidados da Yalorixá Simone de Jagun, no Ilê Asè Jagùn Orùn Ayê. Carrega uma grande fé em Dona 7 Saias e em Exu Marabô. É Doutor em Estudos da Linguagem e Professor do Departamento de Letras na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Seus campos de interesse compreendem estudos em Questões Raciais, Religiões de Matrizes Africanas, Formação de Professores e Linguística Aplicada Crítica.  [+ informações de Renan Piedade]



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Artigo de Opinião: texto em que o(a) autor(a) apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretações de fatos, dados e vivências. ** Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do AxéNews.


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