Por: Bàbáloriṣá Joaquim Azevedo
20/06/2024 | 18:51
O nosso conceito de prosperidade está bem distante daquilo que o povo yorùbá acredita. Tal como o estilo de vida que levamos. Não somente por isso, uma mesa farta para nós difere da fartura proposta por nossos irmãos africanos.
Na último dia 30, por conta do período escravocrata, sincretismo e calendário cristão, a maioria das casas de candomblé da nação de ketu, comemorarou o Ori Màlúù, a cabeça de boi. Essa festividade está relacionada a Oxóssi e demais divindades que compõem o clã de Odé, o caçador.
Sem especificar muitas questões litúrgicas sobre o evento, o que posso transmitir sobre o eran - a carne - é o seguinte: nada é desperdiçado, como de costume. Cada órgão do animal é destinado ao que compete ao mesmo. O que não é apreciado é repassado para a comunidade do entorno, em um ato de partilha e multiplicação do bom axé.
As citações e breves explicações acima nos possibilitam a reflexão acerca daquilo que é prosperidade. Alguém que divide o muito que possui ou, até mesmo, o pouco, é bem-quisto pela sociedade, na maioria das vezes. Aquele que acumula bens é admirado, mas não multiplica por receio de acabar com o que possui, tornando-se, assim, um refém de suas conquistas.
Esse medo existente no ori de alguns vencedores evidencia a diferença em nossas prioridades, com relação ao povo africano. A filosofia e o estilo de vida são gritantemente diferentes, o que impede que consigamos ser iguais em pensamento. Entretanto, em atitude, vale o plágio.
Estragar um alimento é perda de axé. É informar, indiretamente, que não se importa tanto com a energia animal da troca e que pensa pouco na necessidade de boa parte dos brasileiros que se encontram em situação de extrema pobreza, vulnerabilidade e insegurança alimentar.
Pode parecer pragmático o que trago em alguns textos e falas, mas a conscientização daquilo que observamos ainda é a melhor maneira de preservar os ensinamentos deixados por nossos ancestrais, muitas vezes esquecidos, em meio nossas vaidades e exageros.
Até a próxima e aquele axé!
Bàbáloriṣá Joaquim Azevedo
O Bàbáloriṣá Joaquim Azevedo foi iniciado para o Òrìṣà Ògún pelas mãos de José Flávio de Òṣògìyán. Fotojornalista desde 2010 pela UERJ e escritor recente, com a obra Eu, Você e os Orixás. Ativista sociorreligioso, educador popular e gestor no terceiro setor.
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