Por: Paulo Mendonça de Xangô
13/11/2023 | 08:50
Infelizmente é comum que algumas UTT - Unidades Tradicionais de Terreiros, que são simples em sua composição ou estão localizadas em locais mais humildes, sejam definidas como "beco", mas na verdade a falta de respeito aos princípios sagrados ocorrem também em grandes e confortáveis espaços e inclusive com ampla divulgação nas redes sociais e mídias em geral. E, ao contrário disso, sabemos de casas humildes, onde se fazem respeitar os princípios religiosos. Enfim, chego à conclusão que a definição popular de "beco", para as casas onde não se respeita as tradições, nada tem a ver com a sua localização ou a forma da construção física e sim com a formação do dirigente e membros do terreiro.
Aproveito para destacar que cada espaço de uma UTT, deve ser considerada uma QUILOMBO URBANO, já que cumpre o papel de acolher, alimentar e viver em comunidade, celebrando a fé e amor ao sagrado e aos nossos ancestrais.
Tem uma máxima popular que diz: - "...Se o sagrado fosse baseado em luxo, não escolheria pessoas humildes para serem iniciados...". Precisamos policiar nosso julgamento e entender que nem todos podem ou desejam fazer do seu espaço de culto religioso com luxo, assim como nada tem de mal, em querer e poder fazer um espaço luxuoso, o que não se pode é perder a essência das práticas tradicionais.
Precisamos aprender a respeitar as diferenças ritualísticas de cada tradição, de cada formação e o direito individual de condução do espaço sagrado, dentro da capacidade e princípios aprendidos.
Temos a necessidade urgente de promover de fato o diálogo intrareligioso, deixando de lado a vaidade e a arrogância, que muitas das vezes são impedimentos fatais para o respeito entre as diferenças, enquanto temos tantos pontos em comum e muitos exemplos de unidade que nos foram deixados como legado por nossos ancestrais, inclusive os que os escravizados, que tiveram de comungar com suas diferenças, para celebrar o sagrado.
De fato, para o sagrado, não importa se somos noviços ou veteranos nesta jornada de celebração, mas sim o amor, respeito e entrega que cada um coloca em seu ato. É claro, que eu respeito e sigo na tradição, aos que chegaram primeiro e principalmente aos que fazem desta experiência, um servir de transferir os saberes e fazeres em prol de nossa religiosidade.
Basta de propagar fantasias, mentiras e enganações em nome do sagrado.
Somos uma religião milenar e que tem tradições e princípios para serem respeitados.
Unidos seremos do tamanho que desejarmos!
Paulo Mendonça de Xangô
Publicitário, jornalista, Babalorixá na nação Nagô, sacerdote na Umbanda de Encantaria Cigana do Oriente e Jurema Sagrada, ativista de mídia, social, cultura, comunitário e de matriz africana. [+ informações de Paulo Mendonça de Xangô]
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