Por: Deny Moura
14/09/2024 | 18:35
Quando falamos de terreiro nos vem na cabeça chão, terra, início e iniciação, começo e fim. Logo, falar de terreiro, é levar para a terra a informação, o pé no chão, a criação, a circularidade que veio com o nome terra. O planeta terra é circular, circular é a cultura de um povo que conta suas histórias através da circularidade, do círculo, que mostra como temos que ser e agir. “Eu sou por que nós somos”, “Eu dependo de você e você de mim”, “Eu conto a história para você, para você contar para o outro”... e assim nossa cultura permanece.
O Terreiro é um espaço sagrado e de culto utilizado pelas religiões de matriz africana, como o Candomblé e a Umbanda. Esses locais são considerados como pontos de encontro entre o mundo dos humanos e o mundo espiritual, onde são realizados rituais, cerimônias e cultos em honra aos orixás, entidades espirituais e ancestrais.
Os Terreiros são fundamentais para a preservação e prática das religiões afro-brasileiras, que possuem uma rica tradição e influência na cultura brasileira. Além disso, esses espaços são importantes para a comunidade, pois promovem a união, o respeito e a valorização da ancestralidade africana.
Significado do termo “Terreiro”
O termo “Terreiro” tem origem na língua iorubá, uma das línguas africanas trazidas pelos escravizados para o Brasil durante o período colonial. Na língua iorubá, a palavra “ile” significa “casa” e “orò” significa “culto”.
Dessa forma, o Terreiro é entendido como a “casa do culto”, o espaço onde são realizadas as práticas religiosas. Além disso, o Terreiro também é visto como um local de encontro e celebração da comunidade, onde são compartilhadas histórias, conhecimentos e experiências. É um espaço de acolhimento e respeito, onde todos são bem-vindos, independentemente de sua origem étnica, social ou religiosa.
A estrutura e organização de um Terreiro
Os Terreiros possuem uma estrutura física específica, que varia de acordo com a tradição e o local onde estão localizados. Geralmente, são compostos por um pátio central, onde são realizadas as cerimônias e rituais, e por construções menores ao redor, como a casa do zelador ou zeladora do Terreiro, a cozinha e os quartos para os iniciados. Além disso, os Terreiros são organizados hierarquicamente, sendo liderados por um sacerdote ou sacerdotisa, conhecidos como Babalorixá ou Ialorixá, respectivamente. Essas lideranças são responsáveis por conduzir os rituais, orientar os fiéis e transmitir os conhecimentos e tradições religiosas.
Os rituais e cerimônias realizadas nos Terreiros
Os Terreiros são palco de diversos rituais e cerimônias, que têm como objetivo estabelecer uma conexão entre os seres humanos e as divindades. Essas práticas são realizadas de acordo com os preceitos e tradições de cada religião, respeitando os fundamentos e os rituais específicos de cada Orixá. Entre os rituais mais comuns nos Terreiros estão o “bater de cabeça”, onde os fiéis saúdam os Orixás e pedem sua proteção e orientação, e o “bori”, que é uma cerimônia de alimentação espiritual, onde são oferecidos alimentos aos orixás e aos ancestrais.
A importância do Terreiro na cultura afro-brasileira
Os Terreiros desempenham um papel fundamental na preservação e valorização da cultura afro-brasileira. Esses espaços são responsáveis por transmitir os conhecimentos ancestrais, as tradições religiosas e os valores éticos e morais das religiões de matriz africana. Além disso, os Terreiros são importantes para a construção da identidade e autoestima dos afrodescendentes, pois promovem o resgate e a valorização da cultura africana, que foi historicamente marginalizada e desvalorizada. A resistência e luta dos Terreiros Os Terreiros enfrentam diversos desafios e preconceitos em sua existência. Desde a época da escravidão, as religiões afro-brasileiras foram perseguidas e reprimidas, sendo consideradas como práticas demoníacas e supersticiosas. Mesmo atualmente, os Terreiros ainda sofrem com a intolerância religiosa e o racismo, sendo alvo de ataques e discriminação. No entanto, a resistência e a luta dos Terreiros têm sido fundamentais para a conquista de direitos e o reconhecimento das religiões de matriz africana como patrimônio cultural do Brasil.
O Terreiro como espaço de acolhimento e inclusão
Os Terreiros são espaços de acolhimento e inclusão, onde todas as pessoas são bem-vindas, independentemente de sua orientação sexual, identidade de gênero, classe social ou religião. Esses locais promovem a igualdade, o respeito e a valorização da diversidade. Além disso, os Terreiros também desempenham um papel importante na promoção da saúde e do bem-estar das comunidades, oferecendo apoio emocional, orientação espiritual e práticas terapêuticas, como a fitoterapia e a dança.
O futuro dos Terreiros
O futuro dos Terreiros depende da valorização e do respeito às religiões de matriz africana. É fundamental que haja políticas públicas de proteção e promoção da liberdade religiosa, combatendo a intolerância e o preconceito. Além disso, é necessário que a sociedade como um todo reconheça a importância dos Terreiros na preservação da cultura afro-brasileira e na construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
Conclusão
Os Terreiros são espaços sagrados e de culto das religiões de matriz africana, onde são realizados rituais, cerimônias e cultos em honra aos orixás e entidades espirituais. Esses locais são fundamentais para a preservação da cultura afro-brasileira, promovendo a valorização da ancestralidade africana e a construção de uma sociedade mais inclusiva e respeitosa. E com a visão de preservação e multiplicação de culto e culturas resistentes que fazem parte de nossa história, porquê a cultura tem essa função: contar e manter nossos costumes.
Nesse primeiro capítulo, como vamos falar muito de samba, e todos os seus desdobramentos, traremos também manifestos que relatam a história do mesmo. Então sejam bem vindos!
Quando falamos de cultura de terreiro, é necessário que possamos trazer movimentos culturais que contam e mantém nossa história e nossos costumes, esse é o propósito das manifestações culturais que vem de nossos ancestrais e de um povo que resiste.
Logo precisamos trazer manifestos que nem sempre são citados mais que necessitam de visibilidade para que não sejam esquecidos, como a Folia dos Reis que vem dos Quilombos.
Nos estudos me deparei com uma manifestação que tem início no samba que é um grande terreiro, e que falamos pouco, ou não falamos, mas que devemos nos aproximar, por ser um manifesto popular porém invisível e marginalizado. Mas a história permanece resistente através de um povo que não desiste.
Nos meus próximos artigos, abordarei algumas manifestações culturais que não só fazem parte dos nossos terreiros, como são nossas histórias e vêm de Quilombo. Aguardem!
Deny Moura
Produtora Cultural, Dançarina /Coreógrafa, Designer de Moda, Pesquisadora e Instrutora de Dança Afro, contemporânea e de Cultura Popular. Idealizadora do “Dança dos Tambores”, Projeto “Empoderar para não Dançar”.... [+ informações de Deny Moura]
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Excelente texto para valorização do nos axé!