Por: Babalorisá Guilherme Ty Logun Edé
28/03/2024 | 14:20
Para iniciarmos falando da luta anti-racista dos terreiros de Candomblé é necessário reafirmarmos para possíveis dúvidas que o candomblé, bem como demais religiões afro diaspóricas, vem de origem preta, os Orisás tem cor e são negros. Isso posto, conseguimos entender que a organização do candomblé se deu no Brasil de forma inteligente e estruturada através dos nossos ancestrais, usando da união para sobrevivência do seu povo e culto. Pessoas negras escravizadas foram sequestradas de seus povos de origem, retiradas de suas famílias, e chegando a essa terra através de tumbeiros, com os fragmentos de memória que lhes restavam, aglutinaram seus conhecimentos e instituíram a sociedade do candomblé como resistência e sobrevivência, transformando essa terra em partes do seu lar através da cultura ancestral aqui ressignificada. Independente das múltiplas etnias que aqui aportaram através de seus sequestradores, o candomblé se tornou o suporte mais antigo para o povo negro, permeando nessa construção afrodiaspórica a religiosidade em todas as camadas e esferas da estrutura social, como rege a base da cultura Africana em visão cosmopolita, criando seus grupos culturais e religiosos dentro do terreiros e se distanciando das visões ocidentais de organização social.
Os frequentadores de terreiro tem importante papel no enfrentamento ao racismo, visto fazer parte do culto afrodescente e devendo possuir assim dentro dos terreiros arcabouço teórico e prático para luta anti-racista. Independente de raça ou etnia do adepto é importante entender o pertencimento à religião de cultura negra, bem como assumir o posicionamento na luta anti-racista buscando se adonar do conhecimento necessário para tanto , conhecer a verdadeira história e construir a identidade negra é de suma importância, figuras que edificaram a história do Brasil não podem ser esquecidas , como : Hilária Batista de Almeida ( Tia ciara , Teresa de Benguela (Quilombola) , Maria Felipa de Oliveira ( Escravizada Liberta, lutadora das causas negras ) Aqualtune Palmares (Quilombola, Princesa Negra , Avó de Zumbi).
O letramento racial pode ser construído no dia-a-dia do terreiro através da cultura, conhecendo nossas histórias, nossa origem, nossos heróis, irão fortalecer a luta e enfrentar o pagamento histórico que vem sendo estruturado pelo colonizador, o terreiro tem potencial para impulsionar a nossa narrativa como sujeitos da nossa história e não como expectadores apenas, não é cabido esperarmos que outras religiões se compadeçam da nossa luta, as religiões afrodiaspóricas com o conhecimento de enfrentamento ao racismo para seus adeptos são ferramentas indispensáveis na consolidação dessa luta. A formação afro teológica e empretecimento filosófico dentro dos terreiros trazem arcabouço na formação anti-racista e distanciam assim os nossos dos pensamentos e atitudes dos nossos algozes que são impregnados e enraizados na estrutura social racista. O racismo é estrutural, projetado para enfraquecimento do negro, sendo chancelado e retroalimentado pela branquitude.
Que fique claro, a população branca é sim bem-vinda nos terreiros de candomblé e tem seu papel de suma importância no enfrentamento ao racismo, pode ser doloroso e de difícil aceitação por vezes o entendimento desse papel. É importante saber que a cultura de terreiro é preta, que nossos ancestrais resistiram porém foram massacrados pelos algozes brancos, reconhecer a existência do racismo e dos privilégios da branquitude minuciosamente idealizados pelo colonizador, trazendo até os dias atuais as diferenças de tratamentos de corpos pretos e menos oportunidades na estrutura social. Todos devemos buscar conhecimento e entender o nosso papel na luta anti-racista para irmos à luta no enfrentamento, todo aquele que cultua sua fé preta precisa se posicionar afim de continuar cultuando-a , para que o racismo religioso não nos tire o direito das indumentárias, cantos, cultos e as mais diversas formas de expressão religiosa não sejam tolhidas.
Precisamos ser atuantes na luta dentro e fora dos terreiros, exigindo os direitos que nos são devidos , perpetuando o culto , cultura e ainda promovendo a reafricanização dentro dos terreiros com o resgate ancestral.
Babalorisá Guilherme Ty Logun Edé
Engenheiro, Oloriegbé do Ilê Asé Odé aty Oyá, Presidente do coletivo Umoja, Drº Honoris Causa, Estudante sobre políticas raciais,
Ativista contra o racismo .... [+ informações de Babalorisá Guilherme Ty Logun Edé]
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