Por: Mãe Lelê
20/08/2023 | 17:01
Muitas pessoas que hoje estão nos terreiros de Umbanda, mais precisamente os jovens, talvez não saibam que nas décadas de 50 a 70 aconteciam muitos festejos e encontros de terreiros de Umbanda no Rio de Janeiro, de grande visibilidade e repercussão na imprensa, com números muito expressivos de participantes, em determinados locais específicos (praias, praças, estádios de futebol, clubes) onde eram realizadas também grandes giras de Umbanda. Além disso, também era uma prática recorrente, de outrora, um terreiro visitar outro terreiro, ou seja, de pais e mães de santo levarem os filhos de santo para participarem de uma gira ou sessão em outro terreiro. Com o passar do tempo, nas décadas seguintes as anteriormente referidas, por razões que não cabem aqui esmiuçar, essas ações diminuíram consideravelmente. Entretanto, na atualidade, temos visto grandes esforços em promover eventos que enalteçam as religiões de matriz africana bem como encontros dos povos de terreiro para que possam juntos celebrarem a fé.
Creio ser necessário neste artigo, em que abordaremos este tema, evocar a memória - já que esta envolve não apenas o lembrar individual, mas aquilo que a sociedade também considera como importante ser lembrado e/ou esquecido - para fazer jus a pessoa do Tata Tancredo da Silva Pinto, o Tata Ti Inkice ( Tata= pai). O “Papa Negro da Umbanda”, como era chamado, que além de promover diversos festejos e encontros do nosso povo de terreiro, foi um lutador ferrenho para não deixar que a origem negra, do nosso povo preto africano, fosse apagada da história da Umbanda. História que muitos umbandista ainda insistem em recontá-la de uma forma única, reverberando uma narrativa mítica em que aparecem dia, mês, ano de nascimento da Umbanda, e, por conseguinte, a atribuição da criação e existência dela a um homem branco- Zélio Fernandino de Moraes – e ao total apagamento das raízes negras da religião.
Tancredo da Silva Pinto nasceu no Município de Cantagalo, RJ, em 10 de agosto de 1905 e faleceu na cidade do Rio de Janeiro em 01 de setembro de 1979. Foi músico e compositor; líder religioso; fundador da Confederação Espírita Umbandista e mais tarde da Congregação Espírita de Umbanda do Brasil – CEUB-; colunista por 25 anos no Jornal O Dia; diretor -proprietário da Revista Mironga; autor de diversos livros sobre Umbanda junto com vários parceiros; organizador de eventos de Umbanda e realizador de várias outras ações para a cultura brasileira. Ele era um homem negro que teve sua trajetória de vida entre o mundo do samba e a religião (Umbanda Omolocô). Quanto a isto, cabe lembrar o que afirma o professor Luiz Antonio Simas ( 2016):“samba e macumba são irmãos siameses que alguns insistem em separar: é com eles que a gente reinventa a vida, zomba do pecado e transforma o corpo em totem.” Tata Tancredo fez isto muito bem ao dedicar a sua vida para defesa e honra do legado do seu povo preto: o samba e a macumba - herança de seus ancestrais e antepassados negros. Afinal, o samba vem lá de Angola e o Omolocô também de lá vem.
Lamentavelmente, não só no meio artístico, mas também no religioso. a história e o legado do negro Tancredo ainda não têm o devido reconhecimento e destaque na história da cultura brasileira. Considerando todo o contexto sócio-histórico, político e ideológico do nosso país em relação a nossa população negra, é pertinente creditar esse apagamento, a invisibilidade desta importante pessoa, ao racismo institucional, estrutural e religioso tão profundamente enraizados em nossa sociedade.
Como artista, os caminhos da música trilhado por Tancredo da Silva Pinto tiveram início com o seu pai Belmiro da Silva Pinto, considerado o melhor tocador de violão de sua época. Também foi influenciado, certamente, por seu avô materno, Manuel Luis de Miranda, que em Cantagalo- RJ, de acordo com Filho ( 2010), “foi fundador dos primeiros blocos carnavalescos ‘Avança’ e ‘Treme-Terra’, bem como o ‘Cordão Místico’, uma mistura de samba de caboclo com o ritual africano, em que sua tia Olga, saía vestida de ‘Rainha Jinga’.”
Em sua produção musical, a título de exemplificação aqui, Tancredo compôs com R. Campos e J. Gonçalves, o samba “Jogo proibido”, gravado em 1937 por Moreira da Silva, considerado como o primeiro samba de breque da história . Segundo Nei Lopes (apud Nogueira, 2020, p.121- nota 247), este tipo de samba tem um caráter humorístico, sincopado, com paradas repentinas, nas quais o cantor introduz comentários falados. Neste mesmo estilo, estão as composições “Conversa de camelô”, coautoria com Sebastião Valença, gravada em 1942 por Moreira da Silva; e “Pernambuco você é meu”, em parceria com Daniel Lustosa, em 1947, gravado por Moreira da Silva. Compôs com Sebastião Valença, em 1940,“Rancho da Encruzilhada” e “Caboclo Ciumento, ambas gravadas por Augusto Calheiros. Em parceria com Sátiro de Melo e José Alcides, em 1943, compõe “Marcha dos democráticos”, gravada por Enricão. Com os mesmos parceiros da composição citada anteriormente, escreve o seu maior sucesso: “General da Banda”, gravada por Blecaute, em 1949. De acordo com Filho (2010), essa canção teria sido “tirada talvez de uma cantiga de umbanda ou do repertório das batucadas que animavam o antigo jogo da pernada carioca, primo-irmão da capoeira.” .
Chegou o general da banda, ê, ê
Chegou o general da banda, ê, a
Chegou o general da banda, ê, ê
Chegou o general da banda, ê, a
Mourão, Mourão
Vara madura que não cai
Mourão, mourão, mourão
Catuca por baixo que ele vai
(Instituto Moreira Salles – Discografia Brasileira)
Com o dinheiro que ganhou com a música “General da banda, Tancredo consegue os recursos de que precisava para fundar a Confederação Espírita Umbandista, conforme ele mesmo narra no livro Culto Omoloko. Lopes ( s.d.), faz a citação desta narrativa:
(...) esse episódio passou-se na casa da minha tia Olga da Mata. Lá arriou Xangô, no terreiro São Manuel da Luz, na Avenida Nilo Peçanha, 2.153, em Duque de Caxias. Xangô falou: – Você deve fundar uma sociedade para proteger os umbandistas, a exemplo da que você fundou para os sambistas, pois eu irei auxiliá-lo nesta tarefa. Imediatamente tomei a iniciativa de fazer a Confederação Umbandista do Brasil, sem dinheiro e sem coisa alguma. Tive uma inspiração e compus o samba General da banda, gravado por Blecaute, que me deu algum dinheiro para da r os primeiros passos em favor da Confederação Umbandista do Brasil.
( Apud SILVA, Ornato José da. Culto omoloko. Rio de Janeiro: Rabaço, s/d.):
Além de ser autor em diversas músicas populares para o cancioneiro nacional, Tancredo compôs também ponto de umbanda. Em parceria com José Alcides, compôs o “Ponto de São Jorge” ( Mora na Lua) em 1956 .
São Jorge é santo guerreiro
Com Zambi ele tá em todo terreiro ( 4 v)
Diz que mora na lua
Que gira na Terra
São Jorge é santo guerreiro
Oi que manda na lua
Que manda na Terra
São Jorge é santo guerreiro
Em sua Revista Mironga (1972, p.40), há um texto de divulgação do lançamento do LP Faramim Yemanjá, pela Copacabana Discos, em homenagem a ele, com 15 gravações, em que “estão reunidas diversas louvações aos ‘ORIXÀS’ de UMBANDA, constituídos de cantos e ritmos próprios dos ‘sambas’ de diversos Terreiros.”
Uma das faixas do LP Faramim Yemanjá é a Louvação a São Jorge em que se canta apenas os seguintes versos de forma repetida:
Quem anda na lua em todo terreiro?
São Jorge é santo guerreiro
Tancredo era oficialmente um músico. Em sua carteira de trabalho havia a anotação de “ compositor” assinalada como profissão, conforme atesta Nogueira( 2020, p. 121- 122) ao valer-se de uma citação de um autor em sua dissertação e de também comprovar este fato mediante a consulta que fez a carteira de trabalho de Tancredo no arquivo da CEUB durante sua pesquisa. E Filho( 2010) nos informa que Tancredo foi sócio fundador da União Brasileira de Compositores e sócio da Ordem dos Músicos do Brasil. Além disso, ainda fez parte da “Sociedade Brasileira de Autores Teatrais”, na década de 40.
Ele era morador do morro do São Carlos. E foi nesta região que surge a primeira escola de samba- a Deixa Falar – que Tancredo ajudou a criar. É neste morro que também se tem notícia de ter havido um barracão para a prática do omolocô fundado pela negra africana Maria Batayo, aos 70 anos de idade, que o liderou até 1929 (cf. NOGUEIRA, 2020, p 122). Entretanto, não há informes de que Tancredo fosse um descendente dela no santo ou que tenha frequentado o referido terreiro. Por ser um homem do samba, como já dito, foi um dos fundadores da União de Escolas de Samba que em 1935 organizaria os desfiles sob o patrocínio de Pedro Ernesto, de acordo com Filho(2010). Lopes (s.d.) diz que em 1947 Tancredo ajudou a fundar a Federação Brasileira das Escolas de Samba.
As ideias, saberes e concepções acerca da religião afro-brasileira que Tata Tancredo tinha, ficaram registradas tantos nos textos que escreveu durante vinte e cinco anos, com Bayron Torres de Freitas, em uma coluna do Jornal O Dia, quanto nos diversos livros umbandistas - de aspectos ritualísticos, doutrinários, teológicos ou com orientações jurídicas para registro de terreiros e para as práticas da religião para os chefes de terreiros - escritos junto a outros autores. Na imprensa, os inúmeros textos escritos, na maioria das vezes, eram respostas elegantes às provocações dos jornalistas preconceituosos em relação à religião afro-brasileira. Dentre alguns dos livros escritos estão: Doutrina e ritual de umbanda, Guia e ritual para organização dos terreiros de Umbanda, As mirongas de Umbanda, O Eró( segredo) da Umbanda, Origens da Umbanda, Fundamentos da Umbanda, Cabala umbandista, Horóscopo de Umbanda.
No livro Guia e ritual para organização dos terreiros de Umbanda, ao reafirmar a origem africana da Umbanda, Tancredo diz:
Minha grande Umbanda que vem dos Lundas-Quicos, tribo situada ao sul de Angola, de grande fundamento e tão deturpada, devorada e cobiçada por uma avalanche de mentores e aventureiros de todas as camadas sociais e que dizem ser Umbanda uma religião nacional.
E ainda:
(...)terreiro de umbanda que não usar tambores e outros instrumentos rituais, que não cantar pontos em linguagem africana, que não oferecer sacrifício de preceito e nem preparar comida de santo, pode ser tudo, menos terreiro de umbanda.
Em outro livro, Fundamentos da Umbanda, o Tata Tancredo deixa muito claro o seu firme posicionamento em relação aos absurdos que, segundo ele, eram cometidos usando o nome da Umbanda. Ao ler o que ele diz, na citação a seguir, podemos até mesmo dizer que estava profetizando aquilo que, de certa forma, na atualidade, também vemos na internet, principalmente na rede do Tik-Tok.
Hoje, uma vasta onda de mistificação invadiu a Umbanda. Criaram, os intrusos, uma Umbanda branca, uma Umbanda mista, modificaram o ritual sagrado, e, pior, sob o ponto de vista espiritual, introduziram o comercialismo na seita. Escritores improvisados publicaram livros cheios de erros e fantasias, servindo a Umbanda de capa a atividades inteiramente comerciais. Para completar a mistificação, pessoas que nada conhecem dos mistérios de Umbanda, que nunca foram Sacerdotes, que nunca fizeram ‘cabeça’, abriram centros e tendas, montaram consultórios luxuosos, onde os clientes são atendidos mediante fichas numeradas.
(FREITAS & PINTO,1957. Apud. SILVA, 2018, p.10)
Apesar de todo o protagonismo que teve na história da cultura nacional, são poucas as divulgações a respeito dele e escassos os estudos acadêmicos inteiramente a ele dedicados e, por conseguinte, a Umbanda Omolocô que ele praticava e que tanto difundiu. Dentre esses, estão os artigos do Babá Mário Filho ( textos publicados na internet e vídeos no Youtube – Tradição Mário Filho), do Templo Espiritual Caboclo Pantera Negra; o canal no Youtube intitulado Omolokô Ceará, de Darlan ( Darlan @omolokoceara); o livro Omolokô: uma nação, de Tata Gilberto d’ Òsósie e a recente Dissertação de Mestrado em História Social intitulada “O papa da umbanda omolocô”: Tancredo da Silva Pinto, clivagens e disputas no campo religioso umbandista do Rio de Janeiro (1950 – 1979), defendida por Farlen de Jesus Nogueira, na UERJ – FFP, em 2020, e que resultou na publicação do livro O Tata Ti Inkice da Omolocô – Tancredo da Silva Pinto, lançado pela Editora Autografia.
Como líder religioso, Tata Tancredo é considerado o organizador da Umbanda Omolocô no Brasil. Segundo Mário Filho ( vídeo do Youtube – Live com Farlen de Jesus Nogueira ), ele faz o resgate de práticas das tradições ancestrais, que precedem e dão origem a Umbanda ( calundu, cabula, candomblé de caboclo, macumba carioca) para a Umbanda Omolocô, no mesmo período em que os discursos e práticas da chamada “Umbanda Branca e Demandas”, do Zélio Fernandino de Morais, faziam o apagamento da origem e das práticas do povo negro na Umbanda.
Quanto ao Omolocô, encontramos no artigo de Bahia e Nogueira ( 2018, p.54) uma explicação de Nei Lopes, em que diz que “o omolocô foi um antigo culto provavelmente banto, de origem e práticas obscuras, cuja expansão se verificou no Rio de janeiro, em especial, na primeira metade do século XX”. Nei Lopes ainda acrescenta que “ no âmbito da cultura dita ‘lunda-quioco’, o omolocô, parece ter sido apenas uma linha ritual da umbanda, que procurou reviver em parte a antiga cabula.”
Silva ( 2018, p.9 ) ao citar algumas explicações para o temo omolocô e sua origem, expõe o entendimento de Tata Tancredo para o significado da palavra:
(...) a versão do Srº Tancredo da Silva Pinto, Tatá Ti Inkice (pai de santo de Angola), em seu livro Culto Omolokô - Os Filhos de Terreiro - "Omolokô significa: “Omo” -Filho e “Oko” - Fazenda, zona rural onde esse culto, por causa da repressão policial que havia naquela época, os rituais eram realizados na mata ou em lugar de difícil acesso dentro das fazendas.
Simas (2021, p. 138), por sua vez, também nos chama a atenção para o fato de que a partir dos escritos do Tata Tancredo é possível entender que o “omolokô que ele praticava amalgamava elementos da antiga cabula dos bantos, dos ritos aos orixás jeje-nagô, das evocações aos espíritos de preto velhos e caboclos e do catolicismo popular.” Mesmo não sendo o objetivo de Simas, em seu texto, fazer reflexões acerca das práticas ritualísticas do Omolocô, delimitar com precisão suas características próprias ou validar o que diz o senso comum de ser resultante de uma mistura entre umbanda e candomblé, o autor transcreve o seguinte trecho da obra Kitábu: o livro do saber e do espírito negro-africano de Nei Lopes:
O omolocô é um ramo da cabula, da mesma forma que a cabula é um ramo do omolocô, ciência dos antigos nganga-ia-muloko, que controlavam a maldição dos raios. O omolocô tem Zambi como Entidade Suprema. E cultua entidades como Canjira, o senhor dos caminhos e da guerra; Quimboto, o dono da varíola e das doenças. Caiala, senhora do mar; Pamboê, dona dos raios; Zambanguri ou Sambariri, senhor do trovão; Quiximbi ou Mamãe Cinda, donas das águas doces.
Quem já está na Umbanda há muito tempo , como eu, ao ler o nome de algumas entidades citadas na transcrição acima, lembrará, de imediato, de pontos cantados em que tais nomes aparecem. Mas isto é assunto para outro artigo.
O Tata Ti Inkice , cujo nome religioso (na Umbanda Omolocô utiliza-se o termo Suna) era Fọ̀lkétu Olóròfẹ̀ foi o responsável direto pela reunião dos adeptos dos cultos afro-brasileiros em Federações Umbandistas para que pudessem defender o direito de ter e cultuar uma religião afro-brasileira. Fundou a Confederação Espírita Umbandista - CEU em 1950, que defendia uma concepção de umbanda, construída a partir da diáspora negra, ou seja, uma religião africana, e não como uma vertente do Espiritismo Kardecista- visão que imperava à época. De acordo com Nogueira ( 2020, p.59) a CEU “acabava extrapolando o campo religioso umbandista e indo para outras esferas da vida de seus possíveis filiados, oferecendo serviços que iam além do aspecto do registro e do aspecto religioso”, como, por exemplo, o oferecimento de serviços médicos e do primeiro curso de língua iorubá do Rio de Janeiro.
Por divergências com um dos integrantes da CEU, rompe com essa federação e funda, com apoio de integrantes da CEU, no dia 20 de janeiro de 1968 a Congregação Espírita Umbandista do Brasil – CEUB. De acordo com Nogueira( 2020, p.68), a CEUB teria sido fundada na própria casa de Tancredo e “ permanecido lá até 1970, quando foi levada a rua do Riachuelo, n°303.” Nesta federação, por uma questão de estratégia política( já que o período era de ditadura militar) Tancredo achou melhor ficar como conselheiro e colocar o Sr. Martinho Mendes Ferreira, oficial da Marinha, na presidência, conforme relata Mãe Fatima Damas, atual presidenta da CEUB, no vídeo disponível no Youtube na página Omoloko Ceará. Cabe destacar que na CEUB foi organizado o primeiro curso de cultura afro-brasileira no Rio de Janeiro. Tata Tancredo também fez federações em outros municípios do Estado do Rio de Janeiro e em outros estados como São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Pernambuco e outros.
O interessante é que o Tata de Inkice criava as federações para cuidar dos terreiros, mas ele mesmo não tinha o seu próprio terreiro. Jogava os búzios em sua própria casa e para fazer as obrigações em filhos de santo a fim de capacitá-los a serem chefes de terreiro, ele fazia no terreiro dos Três Reis de Umbanda , localizado no Meier. Neste, segundo Mãe Fatima Damas, também frequentava o Fernando Pamplona, o grande carnavalesco do Salgueiro.
Quanto aos festejos e encontros de Umbanda creditados a ele estão: Festa de Yemanjá, na praia de Copacabana no Rio de Janeiro; Festa a Yaloxá (qualidade de Iemanjá), na Pampulha, Belo Horizonte; Cruzandê ( festa de caboclo), em Betim, Minas Gerais; Festa de Preto Velho, em Inhoaíba, Rio de Janeiro, em que homenageia também a grande ialorixá Mãe Senhora; Festa de Xangô, em Pernambuco; “Você sabe o que é macumba?,” no Estádio do Maracanã, RJ; e, finalmente, a Festa da Fusão do Estado do Rio de Janeiro com o Estado da Guanabara, realizada no centro da Ponte Rio-Niterói, em 1975.
Antes, porém, de abordar a Festa de Yemanjá organizada por Tata Tancredo na praia de Copacabana, RJ, é preciso considerar tanto as informações de Bahia( 2018) quanto as de Bahia e Nogueira ( 2018) acerca das flores e oferendas à Yemanjá nas praias cariocas.
Bahia ( 2018, p. 188-189) nos informa que desde o século XIX há relatos de que o ritual de jogar flores para Yemanjá, nas praias da cidade do Rio de Janeiro, já era feito tanto em Sepetiba quanto na Glória. Esta autora também menciona que no livro ‘As religiões do Rio’ ( livro feito a partir de um conjunto de reportagens publicadas entre os meses de janeiro e março de 1904, no jornal Gazeta de Notícias, no Rio de Janeiro ), de João do Rio, pode-se ler nas entrelinhas do texto a circulação de pessoas para fazerem agrados à Yemanjá nas praias da cidade do Rio que hoje não mais existem, como a do Russel( na Glória) e a da Santa Luzia ( no centro do Rio, em frente à igreja de Santa Luzia) . Essas praias desapareceram ao longo do século XIX, devido “as reformas urbanas e a construção do Centro como o lugar do trabalho e da modernidade”.
A autora citada anteriormente ( p. 192), explica que a partir do momento em que a população negra começa a circular em outras áreas da cidade, as flores à Iemanjá começam a se expandir para outras praias do Rio. Em decorrência disto, a partir da década de 40, os jornais começam a dar destaque a este fato já que “aparecem as primeiras menções à presença de populares entre os últimos dias do fim do ano e o primeiro dia de janeiro na praia de Copacabana” Além disso, de acordo com a autora, os jornais já mencionam a “mistura de tipos, gentes e classes que começam a frequentar as oferendas sem qualquer vinculação a terreiros, fazendo dessas esteiras de velas, luzes e flores”.
Na década de 50, as oferendas à Iemanjá intensificam-se e acontecem em quase todas as praias da orla do Rio, no dia 31 de dezembro, configurando-se, desta forma, em um hábito do carioca. Além disso, também há os relatos a respeito da barca da meia-noite de 31 de dezembro, na travessia de Niterói para o Rio, em que os devotos jogavam flores ao mar. Fato que, de acordo com Bahia e Nogueira( 2018, p. 60-61) o poeta e cronista Manuel Bandeira mencionara lembrar-se de ocorrer bem antes da década de 40.
Lembro vagamente, quando menina, de ouvir minha mãe comentar a respeito de as pessoas pegarem a barca em Niterói, no dia 31 de dezembro, em direção ao Rio, para que à meia-noite estivessem no meio da Baía de Guanabara a fim de jogarem suas flores e oferendas para Iemanjá. Minha mãe dizia que era em alto mar que deveriam ser colocados os presentes á deusa do mar. Entretanto, ela mesma nunca pegou a barca para fazer isto pois, segundo ela, o fato de ser tarde da noite e de ter filhos pequenos para cuidar eram os seus grandes empecilhos.
Bahia e Nogueira (2018, p. 200-2001) apontam que em 1957, no dia 31 de dezembro, há oferendas à Iemanjá na praia da Boa Viagem, em Niterói, conforme uma matéria de jornal, escrita por J. Frazão. Nessa matéria, o jornalista diz que “maioria dos frequentadores era de trabalhadores e de uma classe média baixa” e ainda “reclama da quantidade de despachos a exu nas encruzilhadas da cidade”.
Portanto, o que faz Tata Tancredo , em relação aos festejos de Iemanjá na praia de Copacabana no dia 31 de dezembro, é a organização desta prática para celebrar a virada do ano e, por conseguinte, também saudar a mãe de todas as cabeças: Iemanjá. Para isto, o Tata de Inkice dividia os espaços nas areias da praia de Copacabana para que cada terreiro do Rio de Janeiro pudesse fazer as suas giras. Mãe Fátima Damas relata (vide vídeo Youtube – Canal Omoloko Ceará) que do posto 1 ao posto 6 a praia de Copacabana ficava lotada de terreiros de Umbanda e que à meia- noite, do dia 31, era colocado um grande barco na água com muitas flores e comidas votivas para Iemanjá; e muitos fogos eram disparados pelos próprios umbandistas para saudar o novo ano que iniciava.
Dessa forma, além desta organização dos terreiros na praia de Copacabana no 31 de dezembro, Tata Tancredo também proporcionou grande visibilidade para a Umbanda, uma vez que jornais da cidade passam fazer matérias acerca do acontecimento. Com isto, várias pessoas e turistas começaram a ir ver as giras dos terreiros na areia da praia e os barquinhos que eram colocados no mar. Sendo assim, Copacabana começou a ganhar mais destaque como uma referência turística no último dia do ano. Tanto é que já eram noticiados grandes engarrafamentos no local. Propagou-se, então, o hábito de as pessoas vestirem branco, mesmo os não pertencentes à Umbanda, de irem à praia e pularem as sete ondinhas, no último dia do ano.
Em Niterói, na década de 60 e 70, a praia de Boa Viagem ficava lotada de terreiros de Umbanda no dia 31 de dezembro, por ser uma praia mais afastada e por conseguinte longe da presença de “curiosos”. Uma das lembranças marcantes que tenho desta praia, é justamente a quantidade de terreiros que faziam suas giras ali. Não havia nada separando um terreiro do outro. O círculo dos médiuns é que demarcava o espaço entre um terreiro e outro. As velas acesas dentro dos pequenos buracos na areia, e as palmas e rosas brancas em volta, compunham o mais belo cenário da praia neste dia.
Lembro de minha mãe ter ido fazer apenas as suas oferendas de final de ano nesta praia de Boa Viagem, por volta de 1968, acompanhada de meu pai. Além de me levar, ela também levou os meus irmãos. Recordo da minha querida irmã mais velha, sentada na areia, tomando conta da minha irmã caçula ( à época, com dois anos), do meu irmão querendo nadar e ficar na boia feita de câmara de pneu de caminhão e do meu olhar fixo para uma médium de um terreiro que estava incorporada com Iansã. Trago na memória o ponto de Iansã cantado ali naquele momento, o comentário de minha mãe a respeito daquela incorporação da médium e de ela chamar a minha atenção para não ficar olhando demais.
Naquele dia, na praia da Boa Viagem, encontramos a minha avó- vóAna (Joana)-, mãe da minha mãe. Minha avó estava de baiana, participando da gira do terreiro comandado por D. Nieta, pois era médium deste terreiro. Tive vontade de falar com vóAna...,mas fui impedida por minha mãe. Penso, agora, que a médium que me chamou a atenção era do terreiro em que a minha avó estava, pois para fixar o meu olhar na médium, eu só poderia estar bem perto. Não tenho mais nenhuma recordação do Terreiro de D. Nieta que minha avó frequentava. Apenas sei que o terreiro ficava na rua da “Soledade”, como minha mãe dizia. Esta rua chama-se hoje Carlos Maximiliano e fica situada no bairro do Fonseca- Niterói; e o terreiro de D. Nieta não existe mais.
Quando a minha mãe fundou o terreiro dela- o Centro Espírita São Jorge de Ronda-, em 1975, ela passou a fazer as giras de praia no dia 31 de dezembro, na praia da Charitas. Nos primeiros cinco anos do terreiro, a ida à praia acontecia à noite, mas não rompíamos o ano na praia. Depois, na década de 80 e início da de 90, íamos a essa mesma praia no horário da tarde, assim que o sol se punha, para que pudéssemos fazer a nossa gira com tranquilidade.
Atualmente, os terreiros de Umbanda não fazem mais as suas giras nas praias de Copacabana, no Rio de Janeiro, nem na praia da Boa Viagem, em Niterói, no dia 31 de dezembro, porque estas e outras praias foram tomadas por pessoas que ocupam as areias a fim de assistirem aos shows de artistas e/ou aos espetáculos pirotécnicos: a chamada queima de fogos. Os terreiros, então, passaram a fazer as suas giras de praia, em geral, no dia 29 de dezembro ou até mesmo antes desta data.
Em Niterói, na praia de Icaraí, no dia 29 de dezembro, cada terreiro de Umbanda, pertencente a uma determinada Federação, fica em um espaço bem demarcado na areia ( com cobertura de tendas) para fazer a sua gira , a semelhança do que foi descrito quando Tata Tancredo organizava o 31 de dezembro. A diferença é que em Icaraí há instalações de banheiros químicos, barracas para venda de lanches e reforço do patrulhamento. Também encontramos vários terreiros neste mesmo dia na praia da Charitas. Só que nesta, não há a estrutura montada para os terreiros como a feita na praia de Icaraí.
Em relação a outro festejo, a Festa de Preto Velho em Inhoaíba ( bairro da zona oeste da cidade do Rio de janeiro, pertencente ao Distrito de Campo Grande e emancipado em 1993, durante o mandato do prefeito César Maia), atribuiu-se ao Tata Tancredo e outros companheiros a fundação da Praça de Pai Quincas, em 13 de maio de 1958.
A praça surgiu como uma homenagem a Tio Quincas, um ilustre morador da região. O monumento do preto velho criado por Miguel Pastor é, segundo o site do Inhoaíba Urgente ( 08 de agosto de 2018), “ o primeiro de caráter religioso implantado no espaço público em reconhecimento à simbologia e imponência da religião afro-brasileira”. Em 1969, bem próximo ao monumento de Pai Quincas, foi colocado o monumento da Mãe Preta- Mãe Maria, que teve por molde o rosto de Maria Bibiana do Espírito Santo, conhecida como Mãe Senhora - uma das Ialorixás do Ilê Axé Opô Afonjá. Mãe Senhora recebera de Tata Tancredo, em 1965, no evento no Maracanã, o título de “Mãe Preta do Brasil”.
Realizava-se naquela praça, sob a liderança do Tata Tancredo, no dia 13 de maio, o encontro de centenas de terreiros de várias localidades para homenagear as entidades de Umbanda conhecidas como Preto-Velho. O antropólogo Marco Aurélio Luz ( 2019) menciona:
Reunidos numa grande praça cercada com palha de palmeira, mais de 200 candongueiros soavam seus instrumentos para anunciar a presença do Tata Tancredo que caminhava em direção ao trono sob um pálio comandando um séquito de lideranças religiosas e diante de centenas de iniciados na Umbanda e Omoloko. Após essa cerimônia cada terreiro se dirigia ao seu espaço onde a curimba acontecia noite adentro em Inhoaíba.
Na praça estava um busto de Mãe Senhora, Iyalorixá do Ilê Axé Opo Afonja lembrando a homenagem acontecida no Maracanã.
Souza( 2022, p. 46) ao falar a respeito deste festejo à ancestralidade em Inhoaíba, informa que em 1983 ele “ passa a fazer parte do calendário oficial das festas populares da Cidade do Rio de Janeiro (Lei n.º 476 de 14 de dezembro assinada pelo Prefeito Marcelo Alencar)”. Além disso, na década de 90, é considerado “o maior acontecimento da região, durando vários dias e contando com a participação de diversos terreiros”.
Considerada uma das mais bonitas festas de Umbanda entre as realizadas na cidade, a Festa de Preto Velho em Inhoaíba quase sucumbiu devido as sucessivas depredações aos monumentos existentes na praça e, principalmente, a vertiginosa ascensão de segmentos religiosos que pregam o ódio, manifestando-o em ações repugnantes de intolerância religiosa.
No entanto, de acordo com Souza ( 2022, p. 48-49), a tradição deste festejo é resgatada em 2006 pela Associação de Proteção aos Amigos e Adeptos do Culto Afro Brasileiro e Espírita – APAACABE . Esta mesma autora nos informa que em 2011, devido à inauguração de um viaduto no local, houve uma mobilização dos moradores de Inhoaíba que “em parceria com a APAACABE e a prefeitura, conseguiram que as obras preservassem a praça e mantivesse viva a memória ancestral”. Construiu-se, então, um espaço seguro para os monumentos e a estátua de Pai Quincas pode permanecer na praça ( vide vídeo Praça do preto velho – Youtube), uma vez que, antes, era sempre retirada da praça para evitar depredações. Assim sendo, a festividade religiosa do Preto Velho voltou a acontecer em 2014, com a presença definitiva da estátua.
O evento “Você sabe o que é macumba?” que Tancredo realizou com a Congregação, em 1965, ocorreu no maracanã com o apoio da Secretaria de Turismo do Estado da Guanabara. Este evento foi programado para fazer parte dos festejos do Quarto centenário da cidade do Rio de Janeiro. Houve uma ampla divulgação deste acontecimento nos jornais da época ( Jornal do Brasil, Diário de Notícias, Última Hora).
O objetivo era apresentar alguns aspectos da Umbanda e dos cultos afro-brasileiros à sociedade carioca a partir de uma perspectiva artística. Dessa forma, o evento não seria, portanto, uma cerimônia religiosa. E isto causou uma grande polêmica, enraivecendo os que defendiam a Umbanda “branca”. Nogueira (2020, p. 99)ressalta que “este festejo pode ser entendido como uma oportunidade, aproveitada pelos líderes da CEU, de expor por meio da arte, simbologias afro-brasileiros, como deuses, vestimentas e cânticos afro-brasileiros no espaço público”.
A data escolhida para a realização do evento foi 13 de maio. Essa escolha foi oportuna para que além da celebração da abolição da escravatura, pudessem também destacar a valorização do negro na história brasileira. Sendo assim, foi apresentada uma obra “ referente à guerra do Paraguai, que ressaltava o papel dos negros escravizados que lutaram na mesma” e também foi conferido o título de “Mãe Preta do Brasil” a Mãe Senhora.(NOGUEIRA, 2020, p. 101).
Compareceram ao Maracanã cerca de duas mil pessoas para o “Você sabe o que é macumba?”. De acordo com a matéria publicada no dia 14 de maio, um dia após o evento, no jornal do Brasil, conforme transcreve Nogueira( 2020,p.101), as milhares de pessoas viram no desfile:
as figuras de Exu, Pomba Gira, Rei do Congo, pretos e pretas velhas, caboclos e caboclas, Xangô, Iansãs, Oxôssis, Filhos e Filhas de Fé, Omulu, Cosme e Damião, Caboclo Bugre, Filhas de Oxum e Iemanjá, Iemanjá, Pacharó (sic), escravos, lavadeiras, carregadores do andor de São Jorge, arautos, Ogum e a Princesa Isabel (Apud JORNAL DO BRASIL, 1965, p.5)
O que vemos hoje em alguns eventos da religião de matriz africana que enfatizam o aspecto artístico é, de certa forma, similar ao apresentado no Maracanã. Há grupos que usam para a sua performance artística uma indumentária que faça referência aos Orixás ou as entidades de Umbanda. Assim, temos por exemplo, as palhas de Obaluaiê, que são sacudidas durante a dança; o dourado da roupa de Oxum e o seu leque; o mariô na roupa de ogum e a espada na mão; a saia e a camisa de xadrez preto e branco para a preta e preto velho; o terno de linho branco , o chapéu panamá, a bengala e o sapato bicolor de S. Zé Pelintra; a saia vermelha rodada da Pombagira e sua rosa no cabelo, dentre outros. Há também grupos de cantores que apresentam em forma de show os pontos de Umbanda que são cantados no terreiro. Portanto, enfatizar o aspecto da tradição cultural da religião não a descaracteriza, nem há profanação do sagrado. Afinal, sagrado e profano sempre coabitaram.
Por fim, a Festa da Fusão do Estado do Rio de Janeiro com o Estado da Guanabara, no centro da Ponte Rio-Niterói, em 30 de abril de 1975, foi realizada e presidida por Tata Tancredo, junto a outros líderes religiosos da Umbanda, atendendo ao pedido do amigo Chagas Freitas, governador do Estado da Guanabara à época. Causa estranheza o fato de um líder umbandista negro assumir o lugar que habitualmente seria de um representante da igreja católica em um evento desta enorme importância.
A fusão do estado da Guanabara com o estado do Rio de Janeiro transformou-se em realidade durante a ditadura militar (1964-1985). Foi decretada na época do governo Geisel, em 12 de julho de 1974, sancionada pela Lei Complementar nº 20 e implantada a partir de 1º de março de 1975.( Multi Rio)
No ritual realizado pelo “Papa da Umbanda”, no vão central da Ponte Rio- Niterói, foram quebrados um obi e um orobô ( frutos utilizados como objeto de oferenda; e, no caso específico do obi, para fazer leitura dos processos divinatórios) para celebrar e abençoar a festa que ficou conhecida como “Rosas no Mar unificam a Umbanda”. Após essa festa, foi realizada uma gira no terreiro Três Reis de Umbanda, local em que Tancredo fazia as obrigações dos filhos de santo, já que o Tata nunca fundou o seu próprio terreiro .
Por todas as ações, feitos e legado deixados pelo Tata Tancredo, há que se reconhecer a magnitude deste homem negro, compositor, sambista, escritor, líder Umbandista e defensor das tradições religiosas e culturais do nosso povo preto. Alinho-me a ideia da Mãe Fatima Damas-presidenta da CEUB- quando esta diz ser necessário criar tanto um acervo digital para que as pessoas tenham acesso a toda a produção do Tancredo da Silva Pinto, quanto um memorial a ele dedicado.
Quanto aos festejos e encontros de terreiros na cidade de Niterói, encontramos no texto “A origem das imagens de Yemanjá”, disponibilizado na página da Rádio Vinha de Luz, a transcrição de uma matéria do Jornal de Umbanda de abril de 1958, nº 78, uma alusão bem interessante em relação a isto. Convém destacar que o Jornal de Umbanda era um veículo de informação da Federação Espírita de Umbanda, ou seja , alinhado a ideia de uma Umbanda não africanista, ou seja, “branca” mais católica e Kardecista.
Desde o dia 25 de janeiro, quando tiveram início as festividades de 6º aniversário de fundação da Tenda Espírita Tujupiara, que se encontra na cidade de Niterói o belo quadro de Yemanjá, para lá levado em procissão marítima pelos componentes do Centro Espírita São Thiago de Circular da Penha. No dia 21 de fevereiro a Tenda Tujupiara fez levar em bela procissão, à noite, sob as luzes de milhares de velas, com enorme acompanhamento o referido quadro para o Centro São Sebastião, sito à Travessa Filgueiras, no bairro do Fonseca, e que obedece à direção material do irmão Custódio, seu presidente e que tem como Babá a irmã Maria de Oliveira. Ofereceram os componentes deste conceituado terreiro uma magnífica manifestação à chegada do quadro e a todos que acompanhavam a procissão. Foi aí, igualmente homenageada a Comissão de Divulgação do Quadro de Yemanjá, na pessoa da Dra. Dalla Paes Leme, que, junto com os demais membros , acompanhou a procissão até aquele local. No dia 1o de março o Centro São Sebastião conduziu o quadro de Yemanjá para a Casa de Caridade Nossa Senhora da Glória – Terreiro do Caboclo Tupinambá – à Rua Álvaro Neves, 121, também no Fonseca, em bela romaria que reuniu mais de uma centena de filhos de fé, apesar do temporal que caiu na ocasião.
( Grifo nosso)
Eu conheci e estive nestes terreiros. A Tenda Espírita Tujupiara, fundada por S. Reinaldo, continua no mesmo local, na Riodades -Fonseca. Atualmente é dirigida pela Mãe Diná, como todos a conhecem. Este terreiro fazia a procissão de São Jorge no dia 23 de abri pelas ruas do bairro, reunindo uma enormidade de pessoas. O Centro Espírita São Sebastião também continua na Teixeira de Freitas-Fonseca, sob o comando da Mãe Glória. A Casa de Caridade Nossa Senhora da Glória - Terreiro do Caboclo Tupinambá não mais existe. A minha mãe foi médium deste terreiro e eu ia com ela. Quem dirigia era uma senhora branca, loira, de nome Vitória. Nós chamávamos a Casa de terreiro de D. Vitória.
Tendo por base a minha memória, recordo-me de ter ido com minha mãe a um encontro de terreiros, na década de 70, no Sindicado dos Operários Navais, situado a Rua Benjamin Constant, Largo do Barradas. Não sei quem foram os organizadores deste encontro. Tenho retido em meus olhos, a quantidade de médiuns que lotaram a quadra daquele local, Era um mar de branco preenchendo os espaços e os som dos tambores ecoando em cada ponto cantado. Foi lindo de se ver!
Recentemente, em 30 junho de 2023, agora como Sacerdotisa de Umbanda da Casa da Jurema, fui uma das organizadoras do Encontro de Terreiros que aconteceu no Clube Gragoatá. A gira de Umbanda no gramado do Clube foi de uma energia magnífica!
Reservo-me para não contar nada mais aqui sobre este evento, pra que todos os que leem sintam-se instigados a acessarem a página do @Axenews7 a fim de verem a emocionante cobertura feita por Leandro Ribeiro.
Que possamos seguir os caminhos abertos por Tata Tancredo na luta pela afirmação, reconhecimento e inserção da nossa religião de matriz africana nos espaços públicos e do poder constituído. E que possamos realizar mais Festejos e Encontros de Terreiros.
REFERÊNCIAS
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Mesa de Ogãs – Documenta- Professor Beniste – OMOLOCÔ. 2018 Grupo de Estudos Braulio Goffman <https://www.youtube.com/watch?v=Dn2-1sJXac8>
Umbanda Omolokô ( Parte 1) – Tradição Mário Filho- 2020 <https://www.youtube.com/watch?v=lZlhn4LoDPQ>
Umbanda Omolokô (Parte 2) – Canal Tradição Mário Filho- 2020 <https://www.youtube.com/watch?v=VD2LwR0_F10>
Lançamento do livro “ O Tata ti Inkice da Omolokô: Tancredo da Silva Pinto”- Live com Farlen de Jesus Nogueira- Canal Tradição Mário Filho <https://www.youtube.com/watch?v=VD2LwR0_F10>
Vídeo Raro de Tata Tancredo nos anos 70 na Argentina durante uma solenidade de entrega de Deka- Canal Omoloko Ceará
<https://www.youtube.com/watch?v=XzaGr8KNI88>
CEUB – Congregação Espírita de Umbanda do Brasil- Canal Omoloko Ceará
<https://www.youtube.com/watch?v=UJrsMzpRsj4>
A verdade sobre a Umbanda Omoloko e Tata Tancredo.- Espiritualmente Falando
<https://www.youtube.com/watch?v=xaOqHCJg3BU>
Faramin Iemanjá – Tancredo da Silva Pinto . Discos raros de umbanda e Candomblé <https://www.youtube.com/watch?v=Kf_Qf4l_CBI&list=PLa3FSWWebyPOU4mGA3yB9vHEthBjbDsmt>
PPGHS – UERJ -Mesa 12: Religiosidade e construção de Discursos – IX Seminário Interno- Farlen de Jesus Nogueira: ‘Entre o altar e o gongá : As trajetórias de Tancredo da Silva Pinto e Boaventura Kloppenburg e suas atuações na Campanha de Esclarecimento aos Católicos ( 1953-1962)”
< https://fb.watch/m0xjYLwNL2/ >
PRAÇA DO PRETO VELHO ( Inhoaíba -RJ)- Canal Dronizada
< https://www.youtube.com/watch?app=desktop&v=68mRPxW7pBg>
Mãe Lelê
Mãe Lelê, Leizimar G. da Costa e Silva, está na Umbanda há mais de 50 anos. Foi consagrada como sacerdotisa de Umbanda no dia 23 de abril de 2011 no Centro Espírita São Jorge de Ronda, fundado em 1975 por sua mãe carnal, D. Lais, e também sua mãe na Umbanda. E sendo assim, valoriza o lugar de onde veio; lugar onde construiu a sua identidade e aprendeu a viver e a conviver com o sagrado de forma respeitosa e livre. [+ informações de Mãe Lelê]
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