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Oxóssi e São Sebastião: O Orixá Rei das Matas e o Mártir da Fé

Por: Mãe Bianca Morelli


Foto: Bruna Morelli | @morellibruna
Foto: Bruna Morelli | @morellibruna

20/01/2025 | 07:39


O sincretismo religioso no Brasil é uma forte demonstração de como culturas diferentes podem se entrelaçar para criar um patrimônio espiritual único. A relação entre Oxóssi, o Orixá das Matas e São Sebastião, o mártir cristão, é um exemplo marcante dessa fusão, observada nas mitologias, na história e em reflexões de importantes pensadores e pesquisadores.



Na mitologia africana, Oxóssi aparece como um caçador que está profundamente ligado à sobrevivência. Um dos itãs mais conhecidos sobre Oxóssi narra sua vivência como um caçador habilidoso, jovem, buscador de grande conhecimento, que preferia caçar sozinho, explorando as profundezas da floresta com seu arco e flecha. Certa vez, Oxóssi foi desafiado a caçar um pássaro muito raro e perigoso que assolava sua região, fruto de uma magia demandada, a captura era essencial para a sobrevivência da comunidade. Com astúcia e paciência e, principalmente, com apoio de um ritual realizado por sua mãe, Oxóssi consegue atingir sua presa, com apenas uma flecha, garantindo a fartura e a proteção para todos e mostrando a importância da fé e confiança nos seus ancestrais durante sua jornada.


Esse itã revela não apenas a perícia de Oxóssi como caçador, mas também sua função como provedor e protetor de sua comunidade, de sua conexão com a fé, atributos que reverberam na associação com o São Sebastião.


A história de São Sebastião também é rica em simbolismo e sacrifício. Segundo relatos históricos, Sebastião era um soldado do Império Romano que ao se converter ao cristianismo, foi condenado à morte por ordem do imperador Diocleciano. Amarrado a uma árvore, seu corpo foi alvejado de flechas e ele sobreviveu milagrosamente, sendo posteriormente curado. Embora tenha sobrevivido a essa execução, Sebastião foi mais tarde martirizado com golpes ainda mais crueis e lentos, tornando-se um símbolo de resistência e fé inabalável.


Em sua passagem pelo Brasil, Pierre Verger se esforçou em compreender a essência dos orixás e a dinâmica do sincretismo afro-brasileiro. A adaptação era uma ferramenta dos povos escravizados para continuar a cultuar suas referências divinas, sendo a proteção e a associação com as flechas uma referência importante para o cruzo com o orixá Oxóssi. Oxóssi e São Sebastião, em seu papel de protetor contra pestes, são referências de proteção para suas comunidades, a esperança da continuidade da vida.


Uma grande reflexão trazida por Luiz Antônio Simas, nos provoca a refletir de outra forma sobre essa semelhança trazendo uma certa ironia, quando ele diz que São Sebastião, lutou milagrosamente ao lado dos Portugueses contra os Tupinambás nas batalhas de fundação do Rio de Janeiro. Ao matar o Tupinambá, o santo cristão não teve alternativa sem deixar de ser ele mesmo, ele virou o caboclo que ele matou. O fato é: Quem dança nos Terreiros de Umbanda do Rio de Janeiro no dia de São Sebastião são os Caboclos dizimados. Seria esse sincretismo uma forma de reparação cultural?


A ligação entre Oxóssi e São Sebastião transcende as barreiras culturais, revelando um sincretismo que é tanto um ato de resistência quanto de adaptação. As histórias de ambos, são inundadas em símbolos de proteção e sobrevivência, refletem as aspirações de proteção de um povo pela sua fé e os desafios enfrentados pelas comunidades afro-brasileiras. O estudo dessa associação apoiado em itãs e nas análises de grandes pesquisadores nos convida a reconhecer a riqueza e a profundidade das tradições religiosas que moldaram o Brasil. Oxóssi e São Sebastião continuam a ser ícones de devoção, unindo fé e natureza em uma herança espiritual que perdura até hoje.


Ambos, Oxóssi e São Sebastião, compartilham das flechas como símbolos. São guardiões e defensores, um das florestas e da fartura, e o outro da fé e da saúde. Essa dualidade de proteção e sobrevivência, tão crucial para os escravizados que dependiam da natureza para viver e da fé para resistir, possivelmente culminou a conexão entre os dois.


Na Escola de Caboclo Mirim, Oxóssi simboliza uma irradiação importante, na qual os caboclos e caboclas têm sua maior identificação. O orixá das matas representa a grandiosidade da vida íntima dos vegetais, simboliza, ainda, existência de tudo como produto de uma semente, uma metáfora importante para existência da vida. A vida, os minerais, os vegetais, os animais e nascem de uma semente cósmica, a qual chamamos de Oxóssi.


“Naquela estrada de areia, aonde a Lua Clareou todos caboclos pararam para ver a procissão de São Sebastião…”


Saravá Oxossi! Salve São Sebastião !



Bianca Morelli - AxéNews

Bianca Morelli

Bianca Morelli, CCT (Comandante Chefe de Terreiro) e Mãe Espiritual da Tenda Espirita Luz de Maria. Terapeuta e Oraculista por amor, sou uma eterna aprendiz e estudiosa. Como terapeuta sou uma apaixonada pelos oráculos e busco equilibrar o desenvolvimento espiritual ao terapêutico fazendo com que cada indivíduo compreenda seu papel nesta encarnação.  [+ informações de Bianca Morelli]



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