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Passos dos médiuns no terreiro

Por: Mãe Kátia

25/05/2023 | 18:21


“A Umbanda é uma árvore frondosa, que está sempre a dar frutos a quem souber e merecer colhê-los.”


Esta frase do Caboclo das Sete Encruzilhadas – fundador espiritual do movimento umbandista em 1908 – nos convida a refletir sobre a seriedade da religião e a consistência de seus trabalhadores.




No meu ofício, como sacerdotisa, vejo muitas pessoas expressarem os seus desejos em fazer parte da corrente mediúnica, sempre com o discurso de: arrepiar ao som do atabaque, necessidade de fazer o bem, mediunidade aflorada, emoção a flor da pele, sentimento de convocação etc.


Efetivamente, tudo isso é formidável para quem quer iniciar na religião, pois são indícios de empatia com os trabalhos umbandistas. Porém, ser médium vai além de sentir a “pele arrepiada”, e sim, ir em busca do conhecimento e crescimento espiritual, dos valores transcendentais e ancestrais, da necessidade dos cuidados imateriais, da descoberta da complexidade interior e a relação com o mundo exterior, do despertar do próprio Ori para o progresso e desenvolvimento pessoal...


No entanto, para alcançar essas benesses é indispensável a perseverança, a consistência e a dedicação, dispondo de responsabilidade e comprometimento valoroso com a espiritualidade.


A palavra comprometimento surge muito forte na vida do médium, pois denota o engajamento, agregamento e envolvimento com sua mediunidade e trabalhos espirituais.


Consideramos um bom médium, aquele que trabalha na sua depuração consciente de sua atuação, por meio de estudos e vivências como devoto do Orixá, ou melhor: aquele que busca, através da dedicação e disponibilidade, o desenvolvimento psíquico, afim de transmutar valores - até então absolutos - em riquezas relevantes ao seu adiantamento mental, emocional e espiritual.


Costumo dizer que o médium passa por três degraus dentro do exercício mediúnico na casa de axé:


1ª Empolgação: Este momento é quando o neófito entra para a corrente de trabalhadores do Templo. Ele vive o deslumbramento. Tudo é deslumbrante: os pontos, bater cabeça, cambonar, vestir o branco, dinâmica dos trabalhos, estudo e etc. Fica anestesiado pela magia que envolve e encanta.


2º Rotina: Este é o segundo momento do médium, talvez o mais perigoso. Depois de passar pela fase da euforia ele percebe que no geral, os dias são costumeiros: O horário de chegada é quase sempre o mesmo, veste o branco, destina-se aos estudos, aos afazeres que já estão pontuados... É neste degrau que ele pode perder o foco por falta de resistência, maturidade, estabilidade e inter-relações que prejudiquem sua permanência no caminho espiritual.


3º Sacrifício: Quer dizer Sacro Ofício, é quando o médium faz desse exercício um ato sagrado. É a manifestação do amor por meio de sua consagração ao comprometimento com os Orixás, a doação constante de benevolência e vida. Aqui encontramos os frutos que o Caboclo das Sete Encruzilhadas quis enunciar. Quão poucos chegam até aqui.


Para alcançar o terceiro estágio são indispensáveis a humildade e a disciplina.


A humildade é a terreno fértil e receptivo, do qual germinará as boas sementes, garantindo a afastamento da soberba, da pretensão e da arrogância, afim de desabrochar as riquezas edificantes.


Já a disciplina faz o papel de tolher, limpar, lixar e cortar as arestas desnecessárias como, melindres, fofocas, preguiça e esmorecimento, favorecendo o objetivo e fortalecendo o propósito. Sendo assim, devemos entender que a mesma é companheira assídua do médium e par perfeito com a humildade.


Aliás, é a disciplina que garantirá a assimilação dos estudos e vivência do devoto, sustentando, equilibrando e estabilizando a sua boa colheita pelo caminho percorrido.


Posto isso, tenhamos consciência que ao entrar numa corrente, ela lhe proporcionará um grande aperfeiçoamento, melhoramento e florescimento. Contudo, a terra desses frutos sempre será nossa responsabilidade adubar.


Axé!




Mãe Kátia - AxéNews

Mãe Kátia

Mãe Kátia é sacerdotisa dirigente do Templo Luz do Amor Divino, Ìyálórìṣà coroada na Umbanda e iniciada nos cultos afro-brasileiro e tradicional Yorubá. Além de ser a fundadora do Projeto Social Mensageiros do Amor, que já atendeu mais de 300 famílias proporcionando a melhoria da qualidade de vida em suas comunidades e levando dignidade, respeito e humanidade, a Ìyálórìṣá tem um grande histórico acadêmico: possui formação em psicanálise com ênfase na ciência da religião e nas relações do homem com o universo consciente e inconsciente e graduação em metafísica da saúde, cromosofia, cromologia e em cromoterapia. [+ informações de Mãe Kátia]


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