Por: Babalorisá Guilherme Ty Logun Edé
28/05/2024 | 13:38
Inicio esse texto hoje com a reflexão sobre os limites que a tecnologia pode ou deve ter dentro do culto.
É sabido pelos cultuadores de Orisá, que Ogun é o Orisá da tecnologia, das inovações, invenções que tornaram a vida dos primórdios mais confortáveis e promissoras. Entendemos dessa forma, que o culto a Ogun se perpetua trazendo a seus descendentes e cultuadores o Asé da transformação, das ideias inovadoras e modernidade ainda nos dias atuais, estando a frente do progresso da humanidade.
O paradoxo Progresso x Tradição é uma constante dentro do terreiro de candomblé. Como exposto anteriormente, entendemos que o progresso é cultuado dentro dos terreiros na forma do Orisá Ogun, mas ainda assim, se faz necessário o bom senso e sabedoria para o uso das tecnologias que nos são passíveis de uso. Entende-se que o candomblé foi estruturado em tempos remotos com utensílios arcaicos, costumes que hoje se tornaram obsoletos para o uso comum. O uso do fogão à gás ao invés da lenha, um ralador ao invés de faca, o liquidificador para determinadas situações ao invés de pedra e pilão.... Entendo que seja interessante a observância das pessoas responsáveis por manterem suas casas e cultos para que as tradições não sejam perdidas em meio a enxurrada de tecnologia ao alcance de nossas mãos.
Terreiro de candomblé vai muito além de apenas casa de culto, precisamos sempre do resgate histórico do nosso povo, da manutenção da cultura afro diaspórica que nos permitiu chegar até os dias atuais, se faz necessário passar aos nossos descendentes, adeptos e cultuadores a história de resistência dos nossos ancestrais e Agbas. O racismo religioso bate à porta de nossas casas e vidas diariamente, se nós mesmos não tivermos arcabouço prático e teórico para continuidade do culto teremos nossa história apagada.
Termino essa reflexão pedindo aos nossos que não permitam a continuidade de um apagamento histórico, cultural, não permitam que a tecnologia seja vilã ao invés de auxílio. Permitam que o cultuadores de Orisá tenham contato com os instrumentos litúrgicos utilizados pelos que vieram antes de nós, permitindo que o sagrado não seja banalizado e permaneça enraizado no seio do culto. Indumentárias tradicionais, apartamentas antigas, utensílios de cozinha, formas tradicionais de preparo e ritualística merecem ser preservadas, a cultura merece ser mantida, replicada e perpetuada pelas gerações vindouras ou as tradições e cultura se perderão ao longo dos tempos.
Babalorisá Guilherme Ty Logun Edé
Engenheiro, Oloriegbé do Ilê Asé Odé aty Oyá, Presidente do coletivo Umoja, Drº Honoris Causa, Estudante sobre políticas raciais,
Ativista contra o racismo .... [+ informações de Babalorisá Guilherme Ty Logun Edé]
Rede Social do Babalorisá Guilherme Ty Logun Edé:
Que a tradição converse sempre com a modernidade, nunca afetando nossa cultura. Parabéns pelo texto babá!!!😍