Por: Ademir Barbosa Junior
23/07/2023 | 10:09
Quizilas, euós ou contra-axé são energias que destoam das energias dos Orixás (cores, hábitos, alimentação etc.). Em virtude da diversidade do culto aos Orixás, tanto na Umbanda quanto nas demais religiões tradicionais de terreiro, essas quizilas variam. No caso específico da Umbanda, as restrições alimentares, de cores e bebidas, por exemplo, costumam ocorrer em dias de gira ou períodos e situações específicos. De modo geral, fora dessas ocasiões, tudo pode ser consumido, com equilíbrio. Entretanto, há elementos incompatíveis em fundamentos, banhos e outros, à semelhança das demais religiões tradicionais de terreiro.
A diversidade, repetimos, é muito grande. Há casas que não servem goiabas para Oxóssi, apenas para Exu, por exemplo. Muitos terreiros solicitam que os médiuns não se utilizem de cores escuras após determinadas obrigações ou lavagens. A maioria das casas não serve azeite de dendê para Xangô Airá.
As quizilas antes se referem aos filhos do que aos Orixás. O Orixá não terá enjoo ou queda de pressão se lhe for servido determinado elemento incompatível. O (a) filho (a), talvez. As interdições reforçam a individualidade do Orixá e de sua qualidade, além de evidenciar a sacralização dos elementos. A questão é muito mais complexa, inclusive em virtude da diversidade, por isso os exemplos auxiliam na compreensão. Antes da festa de um Orixá, pode-se não comer sua comida, deixando-a para o momento sagrada da comunhão. Ou então, não se come algo no cotidiano por ser quizila do Orixá, mas apenas num recolhimento religioso, aos seus pés. Nesses casos, não se trata propriamente de elementos incompatíveis, mas sim de elementos afins, consumidos por meio da sacralização.
Sem a intenção de esgotar o tema, uma síntese:
1) Abster-se em condições diversas de determinados elementos ditos incompatíveis visa antes ao (re) equilíbrio do (a) filho (a).
2) A diversidade (e não apenas na Umbanda) é muito grande e se expressa por diversos fatores e modos. Nesse contexto, algumas casas de Cultos de Nação, por exemplo, servem azeite de dendê para Xangô Airá, sob a alegação de que o azeite doce pertencia aos antigos proprietários de escravizados, não era comum em África nem nas senzalas onde se prenderam nossos ancestrais em solo brasileiro. Valem-se dessa prática a despeito da mitologia, da tradição, dos usos e da facilidade em se encontrar o azeite doce nos mercados contemporâneos.
3) Um elemento incompatível não se define pela mitologia dos Orixás. Antes, a mitologia explica de maneira analógica, simbólica, o porquê de determinado elemento ser incompatível. Em outras palavras, algo não deixa de ser feito ou consumido em virtude da mitologia, mas sim a mitologia explicar o porquê de não se fazer ou consumir.
4) Não se deve confundir quizila com superstição ou obscurantismo ou ainda se valer da mesma como forma de poder ou dominação.
5) Respeite a Umbanda que seu irmão cultua e, portanto, as maneiras como vivencia ou não as quizilas.
Ademir Barbosa Junior
Ademir Barbosa Júnior (Pai Dermes de Xangô) é dirigente da Tenda de Umbanda Caboclo Jiboia e Zé Pelintra das Almas (Piracicaba – SP), fundada em 23/4/2015. É Doutorando em Comunicação pela UNIP (Bolsa PROSUP/CAPES) e Mestre em Literatura Brasileira pela USP, onde se graduou em Letras. Pós-graduado em Ciências da Religião pelo Instituto Prominas, é professor e terapeuta holístico. [+ informações de Ademir Barbosa Junior]
Rede Social de JAdemir Barbosa Junior:
Facebook | Instagram
Comments