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Reflexões sobre a prática antirracista no ensino de filosofia

Por: Gisele Rose


Foto: Reprodução

27/03/2024 | 18:08


O presente artigo justifica-se pela percepção de que a educação, enquanto fenômeno social, está inscrita em uma construção ideológica, ou seja, os processos educativos são produtos e produtores de escolhas políticas. A partir disso, o argumento central deste texto é que essa escolha pode – e deve – ser feita com base na mobilização e troca de afetos entre educadores, educandos e toda rede de ensino, tendo como objetivo a formação para o antirracismo.





Diante desta ideia inicial do que é educação, é necessário evidenciar dentro deste processo a importância do ensino de filosofia nas escolas brasileiras, explicitando esta disciplina como uma fonte de saberes para a formação discente, para a formação do sujeito pensante detentor de todos os mecanismos cognitivos, para a formulação de um processo dialético de formação de pensamento e principalmente para o entendimento da representatividade discente com a História da Filosofia ensinada nos colégios brasileiros.


De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais, a disciplina de Filosofia ministrada no Ensino Médio, compõe a chamada área das Ciências Humanas, juntamente com as disciplinas Sociologia, História e Geografia e, não podemos ministrar uma ciência humana que não exalta a representatividade discente, não estimula o sujeito a refletir sobre o seu cotidiano, não abrace as mazelas sofridas pelos educandos e educadores e não estimule a formação de um sujeito pensante capaz de utilizar a filosofia como base para seus questionamentos.


Dito isto, com o amparo da Lei 10.639/031, que estabelece a obrigatoriedade do ensino de conteúdos de História da África e dos negros no Brasil em todo currículo de sistemas de ensino, iremos propor caminhos para o ensino de filosofia pautado numa educação antirracista promovendo um giro epistêmico na construção dos saberes já postos em sala de aula, utilizando metodologias diferenciadas, inserindo no currículo pensadores e pensadoras de raças e etnias diversas, compreendendo os anseios de busca de conhecimento de cada educando, estas seriam formas de tornar o ensino de filosofia mais acessível a todos e todas.


A busca por uma educação de qualidade acessível a todos e todas é uma tarefa que vem sendo executada, mas não da melhor forma, ao longo dos anos, pois tornar visíveis os anseios daqueles que não se sentem acolhidos no cotidiano escolar deveria ser a prioridade nas práticas e políticas governamentais.


Ao refletirmos sobre a relação que os grupos excluídos constroem ao longo do tempo com seus corpos e sua localização no mundo, percebemos que existe uma dificuldade de se compreender onde se encaixar, e principalmente de ter acesso aos saberes produzidos pelos mesmos.


Se perceber dentro de uma construção social e geopolítica caminhando para uma prática antirracista, não é uma tarefa fácil sendo diferente do padrão vigente, requer reconhecimento, pois esse processo de construção de saberes no âmbito do Ensino Fundamental e Médio das instituições de ensino no Brasil necessitam de empenho e de uma prática, consideradas por muitos, militante.


As práticas de desumanização dos sujeitos que foram subalternizados tiveram um suporte ideológico que ultrapassam os campos da biologia, antropologia e história, tendo na filosofia um grande suporte alicerce histórico.


Dito isto, a perspectiva de uma prática antirracista do ensino de filosofia se propõe a compreender essas alterações de narrativas, epistemologias e olhares sobre a questão étnico racial ressaltando a importância de se perceber a multiplicidade dentro de um projeto colonial que se propôs uno.



1 A lei nº 11.645, de 10 março de 2008, altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, modificada pela Lei no 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena.




Gisele Rose - AxéNews

Gisele Rose

Filósofa e escritora. Professora da Secretaria Estadual de Educação do Rio de Janeiro (SEEDUC-RJ). Mestra em Relações étnico raciais pelo Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (CEFET-RJ), Especialista em Energia e Sociedade no Capitalismo Contemporâneo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Graduada em Filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)...  [+ informações de Gisele Rose]  


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