Por: Átila Nunes
📆 26/09/2023 | 11:29
No mês de setembro, em especial, sempre me recordo da minha infância. Em particular do dia 27. Morava na Tijuca, zona norte do Rio, e tradicionalmente, muitos dos meus vizinhos distribuíam doces para celebrar o dia de São Cosme e Damião. Lembro-me que eu e meus amigos combinávamos um horário, rezamos para não chover, colocávamos uma mochila nas costas e saíamos de porta em porta em busca dos tradicionais saquinhos de doces. Acredito que uma das razões pelas quais o Dia de São Cosme e Damião é tão especial para muitos brasileiros é este vínculo emocional que nos remete à infância.
Entretanto, por trás da doçura dos saquinhos de doces e da alegria da celebração, há um fenômeno complexo que permeia as comemorações de São Cosme e Damião no Brasil: o sincretismo religioso.
As raízes do sincretismo remontam ao período da escravidão no Brasil, quando os escravos africanos trazidos para o país foram forçados a adotar o catolicismo como religião oficial. Para preservar suas crenças ancestrais associavam seus orixás aos santos católicos que tinham características similares. Foi assim que os escravos driblaram os senhores de engenho e continuaram realizando seus cultos sem perseguições, mantendo viva sua herança espiritual.
No caso de São Cosme e Damião, encontraram uma correspondência nas divindades gêmeas africanas: os ibejis. Essa associação deu origem a uma celebração única que envolve a distribuição de doces, brinquedos e alimentos para crianças, como forma de agradar e homenagear essas entidades.
Não há como negar que o sincretismo religioso é uma característica marcante da religiosidade brasileira, onde elementos de diferentes tradições religiosas são mesclados. As comemorações a São Cosme e Damião são um exemplo disso. No entanto, não podemos fechar os olhos para um aspecto preocupante que permeia essa tradicional celebração: o preconceito.
Um exemplo notório é a proibição de que crianças participem da tradição de receber doces nesse dia. Muitas famílias impedem seus filhos de participar das festividades, privando-os de uma experiência cultural rica e significativa.
É importante destacar que a Constituição garante a liberdade religiosa e proíbe qualquer forma de discriminação religiosa. A diversidade religiosa é uma parte intrínseca da identidade brasileira, e as comemorações de São Cosme e Damião exemplificam essa diversidade.
Respeitar as crenças e práticas religiosas de todos é essencial para promover o respeito e a convivência harmoniosa em nossa sociedade.
Átila Nunes
Carioca, 48 anos, casado, pai de dois filhos adolescentes, o vereador
Átila A. Nunes (PSB) é líder do governo na Câmara Municipal do Rio e está em seu terceiro mandato. Membro da Frente Parlamentar em Defesa dos Povos de Matriz Africana, ele cresceu num lar de família umbandista. [+ informações de Átila Nunes]
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