Por: Yalorixá Taísa Vieira
24/05/2023 | 08:26
É muito controversa a história real de um povo agrafo vindo da grande madrecita Sara a negra. Muitas coisas ditas são passadas de mãe para filho dentro das lonas nos mais diversos acampamentos do mundo. É a riqueza da Cultura Oral!
O que sei, dentro da minha jornada espiritual ligada ao povo das estrelas, é que identificamos Santa Sara como a servente de uma das Três Marias que acompanharam Jesus Cristo na sua vida dolorosa e que permaneceram firmes ao lado dele até o momento de sua crucificação. Inclusive foi uma serva que auxiliou Maria no momento em que deu à Luz ao menino Jesus, colocando-o na manjedoura após seu nascimento em Jerusalém.
Segundo a tradição, no ano de 40 dC, após grande perseguição aos primeiros cristãos em Israel, Sara, Maria Salomé, Maria Jacobina, Maria Madalena, os irmãos Marta, Maria e Lázaro, e, um Cristão chamado Maximiniano, foram colocados num barco e este foi solto à deriva no Mar Mediterrâneo, sem remos e sem velas, como forma de castigo.
Após esse trágico episódio e dias naufragados ao mar, Sara fez uma promessa, pedindo a Deus o milagre de chegarem sãos e salvos numa terra segura para se viver e anunciar o Evangelho de Jesus e, se chegassem a salvo, usaria um lenço sobre seus cabelos para o resto de sua vida.
O barco à deriva chegou à França com todos milagrosamente sãos e salvos. A pequena embarcação chegou à cidade francesa que hoje se chama Sante Maries de La Mer (Santas Marias do Mar) em homenagem às mulheres que ali chegaram conduzidas pela providência divina. Ao aportarem em terras na baía da França foram acolhidos por um acampamento de Ciganos que ali estavam e diante do acontecido, festejaram a chegada dessas servas de Jesus. Alguns relatos dizem que desta chegada aconteceram milagres: crianças nasceram, doentes foram curados e mulheres que não podiam engravidar geraram novas vidas.
Para o Povo Cigano mulheres casadas deveriam usar a cabeça coberta e seus cabelos debaixo de lenços. Quando essas mulheres foram vistas trajadas com a cabeça coberta, disseram ser casadas com JESUS e Sara manteve-se pura e, por este motivo, até os dias de hoje são colocados lenços aos seus pés.
Porque kali? Existem relatos históricos que a origem do Povo Cigano é indiana, pelo fato de sua língua materna (Romanês) ser muito próximo ao Sânscrito e que o povo cigano é derivado de uma casta indiana. Logo, Kali em indiano significa: Negra. Assim sendo, ficou Sara kali (Sara Negra).
Santa Sara foi canonizada em 1712. A grande Festa da Santa é celebrada em dois dias, 24 e 25 de maio. Um grande número de ciganos e devotos de Santa Sara que vão para a pequena cidade da França realizam uma grande procissão da igreja até o mar, onde o barco à deriva chegou e com muitas orações e cantos alegres, como é próprio do Povo Cigano. Quando chegam ao mar fazem um grande silêncio e colocam um pouco da imagem da santa dentro da água, simbolizando a sua vinda da Palestina para a França. Depois voltam em Festa para a Igreja de Santa Sara.
A imagem de Santa Sara está depositada na cripta, ou seja, na parte subterrânea da Igreja de Saint Michel. Lá também estão depositados os ossos da santa, guardados como relíquias sagradas.
Para nós ciganos de alma, sentir o amor que nos é direcionado por Mãe Sara, é sentir uma profunda paz na qual recai sobre nós seu Manto Sagrado de puras bênçãos e traz grandes transformações e milagres na vida de quem a cultua com fé.
Ofertamos lenços e ao rezarmos à santa e, sempre colocamos lenço em nossos cabelos em respeito a sua magnitude e pureza.
O Povo Cigano, sendo extremamente ligado as forças da natureza também ritualiza magicamente a energia divina provinda da egrégora de Santa Sara, que foi absorvida pelo povo das estrelas. Esse rito se dá através da Slava (ritual para homenagear e comungar com aquele determinado Santo).
Que o Sal, o pão e ouro nunca faltem em nossas vidas e as bênçãos de Santa Sara recaiam sobre nós.
Com carinho,
Manouche Taisa Ferreira
Quer saber mais? Quer saber como preparar a Slava e Ritualizar para Santa Sara?
É só acompanhar nossas próximas colunas.
Yalorixá Taísa Vieira
Sou Taísa, nasci no dia 16 de março, na Maternidade do Morrinho localizada em um bairro da Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro. Sou uma legítima pisciana com ascendente em libra: uma sonhadora que pensa alto e voa com seus sonhos.... Mas que luta para transformar os sonhos em realidade. Fui nascida e criada dentro de um terreiro, que hoje entendo como Makumba Carioca. [+ informações da Yalorixá Taísa Vieira]
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