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Sou médium?

Por: Pai Ortiz Belo

Foto: Quickshooting – istock

09/08/2024 | 12:50


É natural quando, a pessoa, passa a ser membro do terreiro, se perguntar. Será que sou médium? Como sempre procuro pontuar, todos os seres humanos possuem mediunidade, intermediamos forças o tempo todo de maneira natural, sendo que tudo que se pensa e vibra emocionalmente movimenta energias. Cientificamente os estudos da mente indicam que pensamos em média setenta mil situações, em um único dia!



E que cada pensamento vem adornado de sentimentos, sensações, desejos diversos, e, tudo produz impactos, seja de ordem boa ou não. Como Sócrates ensinou, “conheça a ti mesmo”, leva a reflexões do que somos de verdade, o que devemos melhorar e de que maneira devemos agir diante de fatos ao nosso redor. A busca do entendimento de si mesmo é um dos passos mais relevantes sobre ser médium, lógico que estas informações, muitas das vezes não são explanadas dentro do convívio interno de terreiro. Os guias se manifestam naturalmente para quem tem esta faculdade de incorporação, o médium pode aprender com seus guias, ou passar a vida toda de maneira medíocre, sem querer melhorar um centímetro. Para tanto a razão de estar dentro de uma religião, ou pertencer a uma filosofia de vida, sem reflexões, sem se entender internamente, leva a erros constantes.


Portanto entende-se assim, para ser médium de trabalho na Umbanda existe algo mais amplo, entender as mecânicas espirituais é um passo, e anterior a esta compreensão, vem se conhecer primeiro, utilizando-se da espiritualidade para evoluir. Somos influenciados pelo meio que vivemos, sem dúvidas, replicamos o que vivenciamos e escutados ao longo da vida. Se é uma família estruturada espiritualmente, logo os seus filhos estarão dentro de conceitos que promoverão algo de bom, lógico que não é uma regra geral, o indivíduo pode ter suas escolhas de maneira diferente também. Se uma criança cresce em um ambiente tóxico, vai estar reproduzindo em sua vida tais características, em raras exceções isto não ocorrerá. Todas estas informações implicam na estrutura do campo mediúnico do médium, seu desenvolvimento estará o tempo todo esbarrando em interpretações internas pertencentes ao seu inconsciente. É dentro da mente inconsciente que habita todas as informações acumuladas por anos de vida, estas se apresentam de acordo com gatilhos, que são: palavras, ações, cheiros, lugares, imagens criadas na mente, sons e pensamentos.


A educação mediúnica desde a infância é primordial, a vivência dentro do terreiro, traz em sua base o respeito hierárquico, normativas de positividades, dentro de ambiente sadio, logo este trará em várias situações na vida, tais influências. Quando o médium chega na Umbanda já adulto, cabe o dirigente espiritual identificar suas dificuldades e munir este filho com entendimentos valiosos. Os bloqueios são inevitáveis, a mente, como citado, leva o indivíduo sempre nas bases iniciais de aprendizado na infância e juventude. Os ensinamentos dentro de uma doutrina, faz com que o indivíduo absorva informações que podem moldar sua vida. Digo que “pode”, acontecer de fato é uma realidade para alguns, não que eu seja pessimista, mas a maioria das pessoas gostam de permanecer em sua zona de conforto do que mudar. Muitas das mudanças requer uma disciplina, sendo este ponto é desafiador para todos, inclusive para quem já está dentro do sistema de entendimento e interpretação das mecânicas espirituais. A palavra disciplina, seu entendimento de fato, pode fazer com que um corpo mediúnico se direcione. Se todos dentro de um terreiro seguirem os preceitos do terreiro, logo este se torna uma casa de grandes forças de evolução e auxílio. O médium não pode trazer para o terreiro a extensão dos seus problemas ou particularidades que não condizem com o que se ensina, molda-se a espiritualidade e as razões espirituais passadas pelo dirigente e não o oposto.


Rompendo alguns pontos, entendendo sobre si mesmo e tendo o conhecimento da religião, logo este médium terá vasto campo de atuação dentro das esferas espirituais. Lembrando que conhecimento é diferente de ter informação, como citado, pensamos milhares de coisas em um dia, você pode ver um vídeo instrutivo, ler um artigo, um livro, fazer um curso. Tudo isto são informações, passa a ser conhecimento e sabedoria quando aplicado na vida, portanto temos acesso a tudo, mas nem tudo será absorvido se não tivermos a disciplina de fato para aprender. E conhecimento e sabedoria é tempo, por isto que não se forma um médium, um ponteiro, um dirigente espiritual do dia para a noite, muito menos via cursinho de internet.


Entendido tais pontos, passamos e vislumbrar três tipos de mediunidade que normalmente são trabalhadas dentro da Umbanda, mediunidade consciente, semiconsciente e inconsciente. Muitos médiuns, principalmente os iniciantes, pensam que a incorporação, é o domínio total de suas faculdades de pronto. Assim como o adquirir o conhecimento, o desenvolvimento leva anos, tirando alguns médiuns que possuem características diferenciadas, o processo é lento. A mediunidade consciente é um estágio dos mais valiosos ao médium, sua sensibilidade mediúnica é o que vai determinar alguns pontos. Esta sensibilidade é, primeiro deixar se levar pelos influxos espirituais, deixar a mente mais livre possível de pensamentos que não condizem com a tarefa. Mediunidade se sente, mas como citei, anterior a tudo isto, temos que enxergar as coisas de maneira vertical e não horizontal. O que quero dizer é que, verticalmente estamos nos conectando ao alto, pensamentos voltados a grande força que se ergue dentro do espaço religioso. Dentro deste espaço e no ato desta conexão, não se observa ao redor, mas se liga as forças superiores, se entregando através do conhecimento passado e através das vibrações que regem o momento. A visão horizontal é aquela ao qual o médium está preocupado com as pessoas ao redor, está com vergonha de se entregar, ou mesmo sua fé não está pontuada de tal maneira que este médium se entregue na tarefa espiritual. Quando se está no pensamento horizontal as possibilidades de ter a aproximação espiritual diminuem, ou mesmo, existe a aproximação espiritual, porém este médium não percebe por estar em outra frequência. Dentro desta mediunidade consciente, o médium também possui responsabilidades, ele tem sua entrega ao guia, podendo fazer seu trabalho de maneira impecável, sendo responsável de jamais, comentar detalhes de situações oriundas de informações pessoais sobre os assistidos que passaram pelo seu guia. Já a mediunidade semiconsciente, me encontro dentro deste formato mediúnico, é por vivência, por conhecimento, por entrega total. Todas as mecânicas espirituais, são adornadas dentro dos preparos passado pelo dirigente, assentamentos fundamentados dentro dos princípios da Umbanda Tradicional, assim como é passado para outros médiuns de outras doutrinas. A Umbanda tem fundamento, dito popular em nossa comunidade, para interpretarmos tudo que recebemos, devemos apontar mais uma vez para a disciplina! Digo que nada é dado, tudo é conquistado pelo médium na medita de sua evolução. A mediunidade semiconsciente é esta somatória de fatores relevantes na espiritualidade, podendo ser alcançada por qualquer um que se empenhe. A manifestação deste tipo mediúnico é bem comum, o médium vai ter lapsos temporais e domínio de espaço, após a manifestação vagas lembranças ocorrem como um filme mudo em sua mente. Esta faculdade mediúnica é necessária, principalmente quando o medianeiro tem tarefas de atender várias pessoas, protegendo assim seu campo mental de sobrecargas que podem ocorrer. A mediunidade inconsciente, é um tipo raro de mediunidade, porém ocorre em médiuns que estão em um estágio de elevação e pureza ímpar. Sendo este médium detentor da sabedoria, equilibrado e elevado em todos os sentidos, caso este médium não tenha estes atributos, esta mediunidade passa a ser interpretada como possessão.


Um terreiro de Umbanda é um grande laboratório espiritual, ali se encontram pessoas de diversas camadas da sociedade, que se unem em um único propósito e passam a estar dentro do mesmo padrão, caso elevados dentro da disciplina. Cabe sempre ao dirigente, explanar os pontos de entendimento da espiritualidade, sendo um líder, sem pressa e nunca deixando os valores do terreiro serem depreciados.




Babalorixá Fabio ti Odé - AxéNews

Pai Ortiz Belo

Escritor umbandista e espiritualista. Dirigente espiritual do Templo Portais de Umbanda desde 1997. Nasceu em berço religioso de Umbanda, consagrado pai pequeno aos 19 anos e dirigente aos 26. Filho de pai Xangô e mãe Oxum, sempre procurou fazer pela religião desde jovem, participando de momentos valiosos para a Umbanda. [+ informações do Pai Ortiz Belo]


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