"As comunidades de terreiro e de matrizes africanas sempre foram esquecidas pelo poder público"
20/03/2023 | 12:14
Sérgio Santos d'Oxóssi nasceu em Caxambú-MG. Ele é Zelador de Umbanda - Professor do curso Principios Básicos da Umbanda - Auditor pela Fundação Getulio Vargas - RJ. Doutor Honoris Causa pela Febraica e Presidente da Associação Beneficente Mata Virgem.
Confira a entrevista:
AxéNews: Qual a importância e o impacto que o dia nacional reservado para celebrar religião de matriz africana ocasiona paras as nossas comunidades de terreiro?
Sérgio Santos d'Oxóssi: As comunidades de terreiro e de matrizes africanas sempre foram esquecidas pelo poder público ou mesmo tratadas com descaso. Com o advento da lei 14.519/2023 atribuindo ao dia 21 de março como o Dia Nacional das Tradições das Raizes de Matrizes Africans e Nações do Candomblé, abrimos espaço para novos movimentos de resgate da cultura de nosso povo que sempre sofreu tentativas frustadas porém ininterruptas de deculturação por imposição principalmente das religiões protestantes.
AxéNews: Sabemos que infelizmente muitas leis ficam apenas no papel, ou seja, sobre a aplicabilidade dessa lei (publicada no Diário Oficial da União - Lei nº 14.519) sancionada pelo Governo, podemos ter boas notícias, sobretudo relacionadas ao combate à intolerância religiosa?
Sérgio Santos d'Oxóssi: A Associação Beneficente Mata Virgem como membro do Conselho Municipal de Politicas Publicas de Belford Roxo-RJ logo observou que não se deveria deixar este momento cair em esquecimento ou no dito "Leis que não pegaram", e saindo na vanguarda solicitou ao poder público que no município este dia seja fortemente comemorado até como exemplo para todo o Brasil. Estamos também ativos no combate à intolerância religiosa quando em novembro/2022 a Câmara Municipal realizou audiência pública para avançarmos em lei de convivio inter-religioso, de combate ao racismo religioso. Leia-se: Conselho Municipal de Politicas Publicas de Cultura de Belford Roxo-RJ.
AxéNews: Até 1976, os terreiros de Candomblé só podiam realizar as celebrações religiosas com autorização do governo, as tradições religiosas foram muitas vezes criminalizadas. Nesse ano, o governo sancionou uma lei em favor dessas comunidades. O senhor acredita que podemos obter maiores reparações?
Sérgio Santos d'Oxóssi: As perseguições nunca se restringiram somente aos terreiros de Candomblé, mas também a Umbanda e aos grupos de capoeira. Muito devemos ao Comendador João Carneiro de Almeida, fundador do Centro Espírita Caminheiros da Verdade, e ao Capitão Custódio de Souza Caravana, fundador da Tenda Espírita São José das Pedras (Vassouras-RJ) e da Tenda Espirita Pai Fabricio (Queimados-RJ), dentre outros, que com suas influências, trouxeram para dentro da umbanda diversas personalidades civis e miliares, forçando assim a aceitação da cultura afro ao longo dos anos.
Hoje temos várias frentes e projetos para reparações de todos os danos causados, como podemos exemplificar o MARCO LEGAL DOS POVOS E COMUNIDADES TRADICIONAIS DE MATRIZ AFRICANA. Também, as Federações, Uniões e Associações de terreiros estão repensando sua trajetória e assumindo sua responsabilidade em representar a comunidade afro, porém há necessidade dos terreiros, barracões e demais instituições afro, se filiarem e fortalecerem tais Federações, Uniões e Associações. Como exemplo, no dia 21 de março, na comemoração nos anais da Câmara Municipal do Municipio de Belford Roxo-RJ estarão presentes 3 (três) instituições representativas de terreiros como: Associação Beneficente Mata Virgem, Federação de Umbanda e Nações Africanas - Funa e a União Espiritualista de Umbanda do Estado do Rio de Janeiro - UEUERJ.
AxéNews: A partir desse ano, passamos a ter em nosso calendário um dia nacional voltado às religiões de matriz africana. Quais serão as maiores reflexões produzidas nesse dia?
Sérgio Santos d'Oxóssi: Sim, temos esta data e muitas outras porém, existe a necessidade de nos apoderarmos verdadeiramente destas datas com eventos, estudos e palestras, Temos que estar alertas a Lei Paulo Gustavo e a Lei Aldir blanc 2 que muito farão por nós nestes próximos 5 anos e principalmente, temos que nos valorizar. Somos um Brasil lindo e a nossa cultura é a base desta nação!
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