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Dirigente do Terreiro de Candomblé Nzo Tumbansi, Taata Kwa Nkisi Katuvanjesi recebe título de Doutor Honoris Causa pela UNIFESP

A cerimônia será realizada no dia 10 de maio


Foto: Reprodução

07/05/2024 | 18:56


Taata Kwa Nkisi Katuvanjesi (Walmir Damasceno), dirigente tradicional do Terreiro de Candomblé Nzo Tumbansi, localizado em Itapecerica da Serra (SP), e diretor do Instituto Latino Americano de Tradições Afro Bantu será condecorado com o título de Doutor Honoris Causa pela UNIFESP, em cerimônia solene no dia 10 de Maio, no Anfiteatro Marcos Lindeberg, na capital paulista.



Nascido em Barra do Rocha, Bahia, em 1963, filho de trabalhadores rurais, Taata Katuvanjesi chega ao mais alto panteão conferido pelas universidades brasileiras, em reconhecimento à sua trajetória de lutas pelos direitos das populações de matriz africanas no Brasil, com destaque à preservação da cultura e dos saberes Bantu.


Iniciado na família de Santo da saudosa e venerável Maria Neném ao 11 de idade, no terreiro Tumbenci, em Salvador (BA), é um ferrenho defensor da “reafricanização” do candomblé, trabalhando para a revisão linguística e litúrgica com vistas a uma maior aproximação de suas raízes kongo-angola. Em 1985, instituiu o terreiro Ilabantu, associação civil, tradicional, filantrópica e assistencial, de direito privado, sem fins lucrativos, de caráter sociocultural, cujo enfoque prioritário consiste em promover a manutenção, preservação e formação de agentes multiplicadores dos saberes e fazeres tradicionais das religiões de matriz africana, em especial a de origem centro-africanas. O Ilabantu tem por missão preservar as culturas tradicionais Bantu, com suas línguas, costumes, saberes e fazeres, modo de vida e a revalorizar os aportes culturais dos africanos e seus descendentes em toda a diáspora.


Taata Kantuvanjesi é um grande articulador entre lideranças políticas, religiosas e culturais no Brasil, na África e na América. Foi nomeado em 2008 Diretor para o Brasil e a América Latina no Centro Internacional de Civilizações Bantu (CICIBA), cuja sede é na República do Gabão. Em 2010, em Cabinda (Angola) passou por nova iniciação junto ao um quimbanda que lhe transmitiu os segredos espirituais do povo Bakongo. Em 2015, foi recebido pelo soberano do Bailandu, Ekuikui Quinto, que lhe recebeu como autoridade máxima. Em 2019 passou a compor o Comitê Mundial do Movimento Federalista, sediado no Senegal, como coordenador-executivo para o Brasil. No mesmo ano, foi indicado para representar o Centro Internacional de Pesquisa e Documentação sobre Tradições e Idiomas Africanos (CERDOTOLA) no Brasil.


Foto: Divulgação

Em 2022, foi convidado pelo soberano da Lunda Mwene Mwachisenge wa Tembo para acompanhar os rituais de entronização e sacralização das autoridades tradicionais, ocasião em que foi recebido com as mais altas dignidades de soberano, com as danças e músicas tradicionais, trajes da realeza, pinturas corporais e mukange (máscaras). Nesta oportunidade Taata Katuvanjesi recebeu das mãos deste soberano o ngombo, o cesto divinatório sagrado tradicional do povo Lunda. Foi a primeira vez que um ngombo foi ofertado a uma liderança espiritual diaspórica, simbolizando os laços ancestrais que nos unem.


Além do destacado papel espiritual e político junto às comunidades de terreiro, Taata Katuvanjesi também tem uma longa estrada de produção acadêmica. Formado Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo, pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade Federal da Bahia (UFBA) em 1985. Em São Paulo, formou-se bacharel em Direito e licenciado em Letras. Atuou como jornalista e defensor dos direitos coletivos, a serviço dos povos de terreiro. Também ocupa, desde 2019, a cadeira n. 08 da Academia de Ciências, Letras e Artes de São Paulo, cujo patrono é Solano Trindade e integra o Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros NEAB-UNIFESP desde 2022, tendo já contribuído com diversas pesquisas, mapeamentos e elaboração de materiais didáticos sobre a cultura negra.


Além de ter sido fonte consultada para a escrita de dezenas de pesquisas acadêmicas, Tata Katuvanjesi é co-autor de importantes artigos sobre a cultura negra, como “Roda de Saberes – Chamada de Angola: Caminhos para uma educação pluriversal”, em parceria com Kamila Muxinandê (UESB) e “Matamba, a rainha guerreira no Candomblé Kongo Angola”, com Mariana Bracks Fonseca, (UFS). É co-organizador do livro “Entre duas academias: A encruza de saberes e o Candomblé Kongo-Angola em São Paulo” ( Dandara Editora, 2024) em parceria com Deivison Faustino (Muendexi dya Nzambi); Ellen de Lima Souza (Omilemi)e Renata Cristina Gonçalves


É fundamental que as universidades brasileiras reconheçam a sabedoria contida nos terreiros e homenageiem seus guardiões, fornecendo os recursos humanos e financeiros necessários para a preservação dos sistemas de conhecimentos africanos na diáspora. É um caminho para a reparação histórica e para o combate ao racismo e à intolerância religiosa.


Várias autoridades acompanharão a cerimônia, dentre eles Mwene Mwatchisenge Wa Tembo, o rei Lukhasa João, do povo Lunda Tchokwe, um dos vários grupos étnicos que ocupa uma grande região do Leste de Angola. Integra a comitiva real, o Nganga Milonga Salau; o ministro da Corte, diretor do gabinete de apoio ao Rei, o historiador Guilherme Chihumbue Martins e Txaka Dionísio, secretário do Soberano tradicional.


A chegada do soberano Lunda simboliza o encontro ancestral e a união dos laços entre África e Brasil, inaugurando uma nova fase de aproximação e construção conjunta para a superação das mazelas provocadas pelos séculos de escravidão.


Texto: Mariana Bracks Fonseca | Colunista AxéNews

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