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Tancredo da Silva Pinto: O Tatá Tancredo

Por: Farlen Nogueira


Foto: Reprodução

30/03/2024 | 14:47


Tancredo da Silva Pinto nasceu em Cantagalo, em 10 de agosto de 1905, falecendo no Rio de Janeiro, em 1979. Tancredo representava um elo entre o mundo da composição e o da religião (LOPES, 2005).




Seus pais carnais eram Belmiro da Silva e Edwirgens Miranda Pinto. Seus avós maternos, eram Manoel Miranda e Henriqueta Miranda (NOGUEIRA,2022). Devemos lembrar que a região de Cantagalo, “estava entre as principais regiões de cafeicultura escravista e mercantil de grande porte” o que demonstra que Tancredo pode ter sido um filho de ex-escravos e libertos. (FARIA, 2018, p.3).


Outro ponto a ser destacado na vida do umbandista é que os laços de Tancredo, com o mundo da música, mais especificamente o samba, já viriam de berço, segundo ele, pois seu avô teria sido fundador de blocos carnavalescos em Cantagalo, dentre os quais estariam o “Bloco Avança” e o “Treme terra”, bem como o “cordão místico”, no qual sua tia carnal Olga da Mata saia vestida de Rainha Ginja (SILVA, 1983, p.18).


Por ser considerado um elo frente a música e a religião, outra dimensão importante de sua vida teria se dado na religião, pois Tancredo teria sido iniciado, em 1918, com apenas 13 anos de idade, sendo feito ou consagrado para o orixá Oxóssi. Segundo Antônio Pereira Camelo de Xangô, que escreveu sobre a vida de Tancredo no jornal “O Saravá”, Tancredo teria sido iniciado por Tia Benedita auxiliado por Tio Bacayodé, ambos de procedência bantus.


A migração de Tancredo para o Rio de Janeiro teria se dado ainda na adolescência, quando ele veio a se estabelecer no então distrito federal. Provavelmente, não teria migrado sozinho, vindo, possivelmente junto com sua tia Olga da Mata, que teria estabelecido uma casa de santo junto ao seu tio Paulino da Mata em Caxias (SILVA, 1981). Entre 1920 e 1922, o líder umbandista estava morando perto do morro do Salgueiro, em Valparaiso, na rua Conde do Bonfim. Além de músico Tancredo era entregador dos correios. Ainda não era pai de santo, pois só receberia seu Deká por meio das mãos do Ganga Zambi, Carlos Guerra, aos 20 anos de idade, ou seja, em 1925, com duas responsabilidades os “Erós de Tatá TI Inkice, e Tahi (Oluwo de Ifá).


Na música, Tancredo começou a ter suas composições apresentadas ainda em 1936, com a composição “Jogo proibido”, gravado por Moreira da Silva. Em 1940, o líder umbandista compôs junto a Sebastião Valença, “Rancho da Encruzilhada” e “Caboclo Ciumento”, ambas gravadas por Augusto Calheiros (NOGUEIRA, 2022).


Morando no morro do São Carlos, Tancredo teria convivido com Ismael Silva, Mano Elói, dentre outros sambistas e músicos do período.


Em 1950, o mesmo teria recebido um pedido de xangô na casa de sua tia Olga da Mata para fundar a Confederação Espírita Umbandista, futura Congregação Espírita Umbandista do Brasil (CEUB). Instituição que fundou junto aos seus amigos e familiares, em 1950, momento de grande expansão e crescimento para a umbanda. O líder umbandista não concordava com o modelo de umbanda “desafricanizada”, propagado pela Federação Espírita de Umbanda, durante o Primeiro Congresso de Umbanda, de 1941. Portanto, Tancredo defendia a umbanda omolocô, ou seja, uma concepção de umbanda “africanizada” que valorizava sua identidade negra e buscava suas origens na África, mais especificamente em Angola. Ele teria comandado o primeiro movimento de volta as origens no Rio de Janeiro nos cultos afro-brasileiros (CAPONE, 2009, p. 134).


Para conseguir recursos para fundar a instituição, o líder umbandista teria gravado a composição “ General da Banda”, junto a José Alcides e Sátiro de Melo. A composição ganhou vida na voz de Blecaute.


Compositor, sambista e líder religioso da omolocô, Tancredo escreveu mais de trinta obras literárias divulgando a sua concepção de umbanda (BAHIA, 2023). Escreveu, devido aos seus contatos com Chagas Freitas, por mais de 25 anos, uma coluna semanal no jornal O Dia junto a seus companheiros. Na década de 1960, o líder umbandista teria ganhado tanta popularidade que teria recebido a alcunha de “papa da umbanda omolocô”. No ano de 1975, ou seja, quatro anos antes de sua morte, Tancredo teria realizado na ponte Rio-Niterói, o ritual propiciatório ecumênico da fusão entre os estados da Guanabara e do Rio de Janeiro em 1975, com respaldo governamental.O evento teria ocorrido no vão central da ponte no dia 30 de abril daquele ano, a festa ficou conhecida como “Rosas no Mar unificam a Umbanda”.


Tata Tancredo foi uma figura muito importante para a consolidação, legitimação e liberdade de culto da umbanda no Rio de Janeiro e no Brasil, o que demonstra a importância de analisarmos e escrevermos sobre sua trajetória e jamais esquercemos sua memória.



Referências

BAHIA, Joana. O Rio de Iemanjá. Um olhar sobre a cidade e a devoção. Rio de Janeiro: Telha, 2023.

CAPONE, Stefania. A busca da África no candomblé: tradição e poder no Brasil. Rio de Janeiro: Pallas, 2009.

FARIA, Sheila de Castro. Ouro, porcos, escravos e café: as origens das fortunas oitocentistas em São Pedro de Cantagalo, Rio de Janeiro (últimas décadas do século XVIII e primeiras do XIX). ANAIS DO MUSEU PAULISTA – vol. 26, 2018.

LOPES, Nei. A presença africana na música popular brasileira. In: Espaço Acadêmico, n°50, Universidade Federal de Uberlândia, 2005.

NOGUEIRA, Farlen de Jesus. O Tata Ti Inkice da omolocô: Tancredo da Silva Pinto, clivagens e disputas no campo religioso umbandista do Rio de Janeiro (1950-1979). Rio de Janeiro: Autografia, 2022.

SILVA J.O., O Culto Omoloko. Os filhos de terreiro. Rio de Janeiro: Rabaço Editora, 1983.




Farlen Nogueira - AxéNews

Farlen Nogueira

Doutorando em história pelo programa de pós graduação em história social do território - UERJ-FFP. Mestre em história social do território. UERJ-FFP

Graduando em história pela UERJ- FFP. Autor do livro : "O Tata Ti Inkice da Omolocô".



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