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Intolerância Religiosa: Um obstáculo para a coexistência pacífica

Por: Adriano Cabral

19/02/2024 | 10:51


Devemos partir do pressuposto que todo o conhecimento verdadeiro é definido a partir do conceito atribuído a cada palavra que o compõe, mesmo que apresentando-se de diversificadas formas e em ambientes onde o idioma e suas expressões características não correspondem em igual ao significado das mesmas. Por este motivo devemos reflexionar que o conhecimento deve ser universal e seu conceito, tão geral, que ao partir para o princípio do diálogo as ideias estejam de forma clara o suficiente para que o conhecimento seja absoluto e o diálogo, assim disposto, seja para a atribuição das formas e objetivos que traçam o conhecimento verdadeiro do conceito.





Ao avaliarmos a evolução das sociedades, percebemos um esvaziamento do “conceito” em sentido amplo. Faz-se comum o micro saber, onde o indivíduo dispõe-se a saber pouco sobre diversos assuntos. A cultura do Micro Saber faz com que o ser arrogante, tome para si a ideia de conhecimento válido e universal por um saber singular e sem fundamentação válida ou referida, vazio e de argumentação frágil.


Nunca se fez tão importante salientar o imperativo categórico de kant1, porém, trazendo-o para a realidade do saber. A máxima do conhecimento é a universalização do conceito, onde, em diversas expressões idiomáticas, possa ter o mesmo significado e abarcar, em proporções iguais, a máxima de sua estrutura significante. Percebe-se, em tempos, que a verdade é comprometida com informações distorcidas, frias e submissas em determinações singulares para gerir ou fundamentar assuntos de cunho universal. Por sua vez a velocidade em que essas micro informações tendem a se disseminar a partir dos meios de comunicação limitam o crivo dos conceitos universais fazendo com que os indivíduos mais inocentes acreditem deter um saber universal e, tomados pela arrogância do saber dos grandes doutos, comecem a acreditar que a definição particular é a verdade absoluta iniciando, assim, a guerra do saber. Onde o forte e pouco inteligente gera coerção sobre o douto que, por sua vez, não tem forças para fazer diferente do dialogar e sucumbe aos, mais diversos, falsos doutos que tomam os espaços das cátedras para conhecimentos vazios e diálogos infundados, assim como interpretações próprias, porém fortes e facilmente difundidos.


1 Age como se a máxima de tua ação devesse servir de lei universal para todos os seres racionais.


Assim nasce um intolerante! O incapaz de transcender o conhecimento para a universalidade, porém, capaz de defender seus interesses com força suficiente para disseminar a guerra e o ódio. Calando os doutos pela incapacidade de ação e arrogância dos mesmos, criando seus exércitos de guerreiros acéfalas capazes de lutar pela defesa de seus “micro-saberes”.


A verdade deve ser tudo aquilo que se apresenta ao intelecto, de forma clara e distinta, confrontada com o objeto sensível que a indica e ao senso comum ou de autoridade que a impõe.²



Tento como ponto de partida a definição de verdade apresentada na citação pode-se entender que a intolerância religiosa deve ser definida como a atitude ignorante, hostil, preconceituosa e/ou discriminatória em relação a indivíduos ou grupos com base em sua escolha religiosa ou sistema de crenças. Tal forma de intolerância pode manifestar-se de várias maneiras, como discriminação social, violência, perseguição ou até mesmo crimes de ódio.


A intolerância religiosa refere-se à atitude de não aceitar ou discriminar indivíduos ou grupos devido às suas crenças religiosas. É o desrespeito aos direitos fundamentais de liberdade de pensamento, consciência, religião e expressão. Ainda pode assumir várias formas, desde preconceitos sutis até violência física direta. Pode ocorrer em contextos públicos ou privados, manifestando-se através de palavras ofensivas, assédio, vandalismo em locais de culto, restrições legais, exclusão social e até mesmo assassinato. Tem suas raízes na ignorância; na discriminação e no ódio fundamentados em diferenças religiosas e na crença de que um saber singular pode ser universal, levando ao fanatismo e à falta de respeito pela diversidade de crenças. Ela prejudica a convivência pacífica entre diferentes grupos religiosos e ameaça a coesão social.


² Referente a: A Moral Metafísica: Do conhecimento de si à felicidade segundo Descartes / Cabral, Luiz Adriano Santos, outubro de 2020, p. 21.


Apesar de proteções legais existentes em muitos países para combater a intolerância, tal questão ainda persiste em muitas partes do mundo e em especial, no nosso contexto social.


Não obstante ao seu regramento, a intolerância vêm ganhando espaço em território nacional. Diagnosticada, previamente, pela massificação do saber raso e pela omissão dos “sábios” a respeito de seus conceitos básicos e irrefutáveis, no que se refere a religião e povo. Sendo caracterizada pela violência em que se encontra sua expansão, praticas intolerantes vêm sendo difundidas como dogma religioso fomentando o ódio ao invés de sua máxima que seria o amor.


Faz-se essencial promover a compreensão, a tolerância e o respeito mútuo em relação às diferentes religiões, a fim de alcançar uma sociedade verdadeiramente inclusiva e pacífica.




Adriano Cabral - AxéNews

Adriano Cabral

Dr. h. c. Luiz Adriano Santos Cabral (Adriano Cabral) é filósofo formado pela UCP Petrópolis; MBA em Administração Pública; Pós graduado em docência de Filosofia e Teologia; Primeiro secretário da Comissão de Combate a Intolerância Religiosa da OAB 22° Subseção Magé/ Guapimirim... [+ informações de Adriano Cabral]  


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