Por: Pai Ortiz Belo
31/03/2023 | 11:45
A religião de Umbanda é entre as demais religiões a mais aberta no sentido de
diversidade espiritual. O que quer dizer isto? Na religião de Umbanda encontramos um
culto a natureza, aonde os Orixás formam a base estrutural da religião, tendo em cada
força Orixá o encontro com os quatro elementos o fogo, a água, o ar e a terra e o
quinto elemento o éter. Desdobra-se nos pontos de força na natureza, as matas, as
cachoeiras, os rios, as montanhas, o mar, nascentes, estes pontos sustentam tudo que
é realizado no culto, em suas águas, nos minerais e vegetais. Encontramos dentro da
religião de Umbanda o culto africano aonde associamos os Orixás a tudo que vem da
natureza. Os cultos de Nação, o Candomblé, observa a religião de Umbanda por este
prisma, que é a base religiosa destes irmãos que dentro de sua ciência encontram as
forças do sagrado e assim cultuam de maneira ímpar. Entende-se que os Orixás de
Umbanda são cultuados dentro dos preceitos que nossos guias determinaram,
diferente do culto de Nação na sua raiz.
A Umbanda possui dentro dela o conhecimento dos nativos da terra, os silvícolas
(índios) outra ciência aonde encontramos nossos caboclos, o xamanismo embora seja
uma religião distinta encontra-se dentro dos nossos ritos. A grandiosidade aonde
encontramos também a ligação do catimbó, da jurema sagrada, que também são
cultos distintos, então dentro de nossos ritos através de nossos caboclos. A utilização
de ervas, as bebidas feitas com ervas, bem como os chás e banhos, passados por
nossos caboclos é uma ciência espiritual que vem de espíritos ligados as matas.
Entendendo que muitas Umbandas cultuam suas forças apenas dentro destes critérios
dos caboclos, não existindo as bases dentro do entendimento banto. A diversidade é
algo que encontramos aqui no Brasil, um país continental que encontra na diversidade
a adaptação de acordo com a cultura regional e tudo é Umbanda.
Encontramos na Umbanda os traços do espiritismo Kardecista, entendendo que muitos
terreiros possuem em sua liturgia o estudo e a doutrina espírita em sua base, unindo
os aspectos dos Orixás e dos encantos dos caboclos de pena. Indo ainda mais longe,
trabalhamos com a linha do oriente, os ciganos, entre outros guias espirituais que
possuem grande conhecimento sobre os chacras, o campo áurico, entendimento
Hindu, que formam uma união de estudo sobre os passes na religião de Umbanda.
A diversidade encontrada entre os guias de Umbanda, os baianos, os boiadeiros,
ciganos, pretos velhos, caboclos, Ibejis, marinheiros, formam uma ramificação de
forças que “só o religioso de Umbanda” pode avalizar. Com todo o respeito, aos
espiritas e aos irmãos do culto de Nação, se não possuem as bases de Umbanda, não
irão compreender esta religião. Bem como as demais religiões, os católicos por
exemplo, dentro da Umbanda a fusão do catolicismo popular é totalmente diferente do catolicismo romano. Buscando ainda as rezas antigas dos benzedores do nordeste,
os catimbozeiros, encontramos as referências dos santos nos encantos, que é a ligação
do catolicismo popular. Foi ai que encontramos uma das linhas de sincretismo dentro
da Umbanda, a outra linha vem do povo Banto no culto dentro do Brasil aonde os
africanos encontraram uma maneira de trabalhar sua liturgia sem que houvesse
perseguições.
A esquerda da Umbanda é uma ciência a parte, digo que existem linhas interpretativas
distintas, dentro da minha raiz, trago os fundamentos luciferianos, que é bem
diferente do culto aos Orixá Exu, que quero explanar aqui na matéria seguinte. Rito e
fundamentos de esquerda possuem suas funções, lembrando sempre que esquerda é
polaridade de um Poder imenso, que infelizmente é muito mal interpretado por
muitos. Dentro da esquerda encontramos o senhor da comunicação, do movimento,
da vitalidade, dos desejos que através das várias correntes de exus, a Umbanda se
fundamenta, ajudando os irmãos religiosos a evoluírem em seu mental. A
interpretação sempre dentro da positividade, da elevação, sem trazer os aspectos de
esquerda ao satanismo, ação esta que muitos se perdem na esquerda da religião.
Nestas várias formas interpretativas chegamos a Umbanda Tradicional, esta que fui
iniciado dentro da casa de Pai Bernardino da Guiné do meu avô de santo Pai Carlos de
Xangô (in memoriam). Uma tradição centenária que tudo é feito dentro da camarinha,
com a esteira de ervas, amacis, cruzamentos, realizados pelos guias nos preparos de
médiuns de Umbanda. Entendendo que muitas umbandas não realizam estes
procedimentos, são múltiplas maneiras interpretativas, as quais devemos respeitar.
Um ponto ao qual hoje necessitamos observar, a religião cresceu e cresce, os
oportunistas com isto aparecerem, trazendo ensinos distorcidos, realizando tarefas
que só existem de maneira presencial e o fazem virtualmente. Mas este assunto é
pauta para outro momento ser bem discriminado, lembrando que a religião é
mediúnica, portanto é passado de dirigente espiritual ao médium através de ritos
preparatórios que só existem presencialmente.
As vertentes ou modalidades de Umbanda acontecerem através da regionalidade,
dentro de preceitos que a única ação é trazer aos seus seguidores preparos de raiz, aos
quais nós, verdadeiros dirigentes espirituais possuímos o dever de seguir esta linha.
Cada um com seus fundamentos, entendendo que aqui citarei sempre a tradição ao
qual fui iniciado desde criança. A Umbanda Tradicional é fonte de conhecimentos que
podem ser encontrados em livros, em vídeos de internet, mas entendendo que só
dentro do terreiro, são feitos os verdadeiros médiuns, que através das puxadas, dos
cruzamentos e fundamentos internos serão feitos. Ai a finalidade e responsabilidade
são definidas, trazendo ao assistido, todo o amparo e direcionamento religioso
necessário. Costumo dizer que a religião de Umbanda atende mais que o SUS, milhares
de pessoas são atendidas em uma variedade de situações, formando uma corrente do
bem, de elevação espiritual que se leva para a eternidade.
Pai Ortiz Belo
Escritor umbandista e espiritualista. Dirigente espiritual do Templo Portais de Umbanda desde 1997. Nasceu em berço religioso de Umbanda, consagrado pai pequeno aos 19 anos e dirigente aos 26. Filho de pai Xangô e mãe Oxum, sempre procurou fazer pela religião desde jovem, participando de momentos valiosos para a Umbanda. [+ informações do Pai Ortiz Belo]
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