Por: Pai Ortiz Belo
28/10/2024 | 20:18
Foi dentro do terreiro que muitas recordações de infância marcaram minha vida, principalmente no tocante a saúde e nas festividades de Cosme e Damião. Para quem nasceu entre os anos 60 e 70, ir ao médico era em último caso, recorríamos as benzedeiras, que normalmente era ou a mãe de terreiro, ou aquela mais velha, que com toda sabedoria tratava de todos. Também dentro das sessões espirituais, os pretos velhos, os caboclos, normalmente eram eles, utilizavam das ervas para tratar várias das enfermidades, que hoje são tratadas com remédios alopatas.
Cresci assim, como muitos brasileiros, dentro da chamada macumba, que felicidade era ver exu dando conselhos, pombagira com suas gargalhadas descontraindo e atraindo boas energias. Ali na corrente, pais de família, trabalhadores, que ao final de um dia cansativo, iam as sessões trabalhar como médiuns. Foi na infância que o sentir dos atabaques já me mostrava o caminho que eu ia percorrer, os cantos de pontos, que hoje sãofundamentos de meu terreiro, são adornos de lembranças boas.
Já adolescente, com tantos desafios e amigos errados, vi que a Umbanda salva, assim como vejo nos dias de hoje. Sempre conto que na minha juventude andávamos em onze amigos, que infelizmente vi um a um entrar em caminhos nada positivos. Muitos morreram jovens ainda,
outros após se tornarem adultos, escolheram estar do lado mais obscuro e assim cada um perdeu sua vida, uns de maneira violenta, outros por overdose, ou bebida. O que sempre digo, as escolhas determinam seu caminho, todos serão tentados a ir por caminhos equivocados, mas a escolha é pessoal.
Escolhi estar na Umbanda, me dediquei, foram cinco anos de desenvolvimento mediúnico, que com muita satisfação tive ao meu lado meu avô de santo, minha mãe de santo que por conta de problemas pessoais, pouco participou de minhas obrigações. Em 1996 abri o terreiro, no início chamava-se Ordem dos Filhos de Aruanda e depois se tornou Templo Portais de Umbanda, hoje situado em Juquitiba interior de SP e no bairro da vila Carrão na capital. Anos de dedicação, aprendendo sempre, fazendo minhas tarefas em atender os que chegavam a casa, com a mesma atenção que recebi na infância e na adolescência, dando a oportunidade para que todos os médiuns tenham os mesmos preparos, visando a continuidade ao legado deixado pelos meus mais velhos.
Hoje a Umbanda está bem diferente de antes, os holofotes, a mídia, a internet, a ganância, tomou o espaço do trabalho que chamo de pé no chão. O universo de informações, muitas delas boas, porém, outras tantas duvidosas, dão o tom nos dias atuais. Encontramos muitos médiuns que dizem que não precisam estar dentro de um terreiro, que fazem tudo dentro de casa, mostrando uma faceta delicada do descaminho que muitos estão tomando. Fortalecidos por cursos de formações on-line, tornam-se multiplicadores de um formato nada positivo para esta religião de pura magia, de energias que só são percebidas de fato, em locais preparados para a finalidade nobre da religião.
No mesmo passo aparece aqueles que dizem que a Umbanda não é para brancos, que o branco não tem legitimidade em cultuar forças de Orixás, tendo outros irmãos que dizem que na Umbanda não tem Orixá. Desserviços prestados o tempo todo, existe senhores donos de verdades, que não observam que muitos que estão na religião nasceram dentro dela, foram educados e preparados na fé em Deus, nos Orixás, nos Exus e nos guias em geral. No tocante sobre vertentes, existem e devem ser respeitadas em suas particularidades, lógico com as ressalvas acima, o bom senso e razão, devem sempre ser os norteadores do que realizamos.
Contudo sigo na fé, fazendo minha parte e colocando aqui um relato que tenho certeza, é a vivência de muitos, que estão muitas vezes de maneira solitária, sustentando o que acredita. Eu faça minha parte, procurando através de instrumentos de legitimação, cito a Carta Magna da Umbanda, como fonte rica de manutenção do que desejamos para a religião, hoje e
em seu futuro.
A Umbanda está para todos, mas nem todos estão para a Umbanda, palavras estas que o nosso olhar deve expressar, chamando os irmãos que possuem as mesmas intenções, que se unam. Formaremos sempre está resistência do bem, pautados no que nos tornamos, seguimos firmes em nossos trabalhos e na tarefa de dar continuidade ao que nos foi dado!
Este universo chamado Umbanda, deve ser discutido por umbandistas, que comprometidos com o seu futuro, estão trabalhando pela sua manutenção. Com todo o respeito aos irmãos de outros cultos, a nossa religião, só entende e compreende quem de fato, faz parte dela, só tem
autoridade de falar quem é, e quem vivência, os demais são meros especuladores do que desconhecem.
Saravá Umbanda!
Pai Ortiz Belo
Escritor umbandista e espiritualista. Dirigente espiritual do Templo Portais de Umbanda desde 1997. Nasceu em berço religioso de Umbanda, consagrado pai pequeno aos 19 anos e dirigente aos 26. Filho de pai Xangô e mãe Oxum, sempre procurou fazer pela religião desde jovem, participando de momentos valiosos para a Umbanda. [+ informações do Pai Ortiz Belo]
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Artigo de Opinião: texto em que o(a) autor(a) apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretações de fatos, dados e vivências. ** Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do AxéNews. |
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