Por: Gisele Rose
✅ 16/12/2024 | 07:32
Nos últimos tempos tenho pensado muito sobre o conceito de “Letramento Racial”, até aceitei ministrar um curso sobre essa temática. Confesso que a princípio a ideia não me pareceu muito boa, por pensar que em pleno ano de 2024 ainda existam pessoas que precisam de um curso tão básico para refletir sobre as relações étnico-raciais em nosso país, mesmo entendendo que o Brasil como um território grande e diverso.
A ideia de promover uma discussão inicial sobre racismo após os vinte e um anos da promulgação da Lei 10.639/03 que institui a obrigatoriedade do estudo da África e dos africanos na diáspora nas instituições de ensino, tem me forçado a refletir sobre como caminhamos em vários aspectos no que tange o combate ao racismo, mas mesmo assim ainda temos que trilhar um longo percurso até que essa discussão esteja presente em nosso cotidiano.
O ato de “letrar” racialmente pessoas de várias faixas etárias, gêneros, etnias, de diferentes classes sociais é de fato muito difícil, principalmente para nós pessoas pretas, mas na verdade é bem complexo, pois se já avançamos tanto, qual o motivo de termos que promover cursos com discussões tão iniciais?
A verdade é que não podemos deixar de mencionar que as formações pautadas no letramento racial têm sido um recurso extremamente utilizado por pessoas que praticam atos racistas, pois após cometerem esses atos, as mesmas recorrem aos cursos, ou na pior das hipóteses mencionam as formações e se quer chegam a procurar uma formação específica, pois um dos fatos constatado é que muitos não têm vergonha de serem racistas, de cometerem atos racistas, mas não querem em hipótese alguma ser rotulado como racista.
Enfim, o que podemos perceber é que o racismo está posto e que até mesmo os recursos que utilizamos para combatê-lo de forma preventiva e instrutiva, também podem ser usados como uma falácia para justificar um “pseudo arrependimento”.
Essa reflexão surge das inquietações de uma professora que ao longo das últimas décadas têm se dedicado a estudar e pesquisar sobre as questões raciais no Brasil e no mundo e que se vislumbra uma sociedade mais justa.
Gisele Rose
Filósofa e escritora. Professora da Secretaria Estadual de Educação do Rio de Janeiro (SEEDUC-RJ). Mestra em Relações étnico raciais pelo Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (CEFET-RJ), Especialista em Energia e Sociedade no Capitalismo Contemporâneo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Graduada em Filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)... [+ informações de Gisele Rose]
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